Arquivo da categoria: Pinacoteca

Pinturas de diferentes gêneros e estilos de vários museus do mundo. Descrição sobre o autor e a tela.

Renoir – O BAILE EM BOUGIVAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

A essência da arte de Renoir reside em fácil e alegre reação à vida e à beleza sensual do mundo. (Perry T. Rathbone)

O pintor francês Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) alegrava-se por ter nascido num família de grande talento manual, em que havia alfaiates, ourives e desenhista de modas. Para ele teria sido mais difícil se tivesse nascido numa família de intelectuais, pois teria levado muito tempo para se livrar das ideias recebidas. De origem humilde, aos 13 anos de idade deu início à sua carreira artística, pintando porcelanas, cortinas e leques para ajudar sua família, composta por mais seis irmãos. Émile Laporte, seu colega nas aulas noturnas da Escola de Desenho e Arte Decorativa, incentivou-o a frequentar o ateliê do mestre suíço Charles Gleye, para que pudesse se ingressar na Academia, o que aconteceu dois anos depois.

A composição intitulada O Baile em Bougival é uma das obras-primas do artista. Apresenta um jovem casal numa cena de diversão popular, num café ao ar livre, no subúrbio de Bougival, no Sena, nos arredores de Paris.  Eles dançam agarrados, em primeiro plano, bem próximos ao observador, sob o ritmo de uma valsa, enquanto ao fundo aparecem uma mulher e dois homens, conversando alegremente à mesa, onde são vistos copos de cerveja. Mais à direita notam-se fragmentos de dois homem de costas e de duas mulheres, uma delas parece ter o olhar voltado para o centro da composição. No chão veem-se guimbas de cigarro e paus de fósforos usados.

O primoroso par ocupa grande parte da composição. O jovem, vestido com roupa azul-escuro e chapéu de palha amarelado, inclina seu corpo sobre o da moça, trazendo o olhar voltado para ela. Seu chapéu encobre parte de seu rosto, deixando sua identidade oculta. A jovem, trajando um vaporoso vestido rosa-claro e usando um grande chapéu vermelho que emoldura seu rosto, é o ponto focal da composição. Ela aparenta certo acanhamento ao voltar o rosto e os olhos para o chão. Ainda assim é possível notar um clima de amor entre eles.

O artista fez uso de cores fortes e grandes pinceladas, no sentido de ampliar a sensação de prazer transmitida pelo casal dançante.

Ficha técnica
Ano: 1883
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 182 x 98 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.mfa.org/collections/object/dance-at-bougival-32592

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Turner – O NAVIO NEGREIRO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Se eu fosse reduzido a descansar a imortalidade de Turner em um único trabalho, eu deveria escolher isso. (John Ruskin)

No alto de todas as mãos, acerte os mastros superiores e despreocupe-os;/ Sol raivoso e nuvens de arestas ferozes/ Declare a vinda do Typhon./ Antes de varrer seus decks, jogue ao mar/ Os mortos e morrendo – não prestem atenção às suas correntes/ Esperança, esperança, esperança falaciosa! / Onde está o teu mercado agora? (poema inacabado de Turner que acompanhou a exibição do quadro em 1840)

O inglês Joseph Mallord William Turner (1775 – 1851) nasceu em Londres. Aos 14 anos de idade passou a trabalhar com o desenhista arquitetônico Thomas Malton que chegou a concluir que o garoto jamais seria um artista, sendo no mesmo ano aceito na Escola da Academia Real de Artes, em Londres, onde ganhou a admiração de seus colegas. Aos 15 anos, Turner expôs suas primeiras aquarelas na referida academia. Aos 25 anos já era Membro Associado, período em que visitou, pela primeira vez, outros países do continente europeu, estudando em Paris, no Louvre, os Antigos Mestres, dando destaque às paisagens holandesas e composições de Claude Lorrain. A visita de Turner a outros países, inclusive à Itália, mudou radicalmente seu estilo, quando passou para as criações visionárias, tornando sua arte cada vez mais abstrata. Ele se antecipou aos impressionistas no tratamento da luz.

A composição O Navio Negreiro é uma obra-prima do artista, um exemplo clássico de seu pendor para o abstracionismo. Esta pintura de paisagem marítima romântica demonstra que Turner foi um dos mais sensacionais inovadores da história da pintura, ao usar como tema os próprios elementos da natureza (mar, céu, montanhas, neve, vento, chuva, etc.) e criá-la em termos de cor e luz.  As cores que mais sobressaem na pintura são o vermelho do pôr-do-sol que penetra na água e também o navio e o marrom dos corpos e mãos dos escravos.

Nesta pintura, o artista usou muitas técnicas características dos pintores românticos. Suas pinceladas indefinidas têm por objetivo fazer com que a imagem pareça borrada, tornando objetos, cores e figuras indistintos, o que leva o observador a introduzir-se na cena através de sua imaginação. Ele expõe a força que a natureza possui e o poder que ela exerce sobre o ser humano.

Ao se deixar guiar pelo tema da obra, o observador poderá concluir enganosamente que o navio que navega em águas abertas ao longe, durante uma tempestade, mostrando a brutalidade humana, seja o ponto principal da composição. Mas não é. O grande astro é o sol poente no centro da tela, fonte de toda a luz, numa junção com o céu e o mar tempestuoso e a aproximação de um ciclone.

Em primeiro plano, os corpos dos escravos boiam na água. Alguns são devorados por peixes e monstros marinhos, como mostra a perna vista com a corrente ainda presa ao pé. Gaivotas sobrevoam o local. O artista, um abolicionista, tinha por objetivo impactar o observador com a crueldade humana. Era um chamado à sociedade para ver e sentir a bestialidade da escravidão, pois, apesar de a Inglaterra já ter acabado com tamanha degradação, ela ainda persistia em outros países.

O livro intitulado “A História da Abolição do Tráfico de Escravos”, do escritor Thomas Clarkson, serviu de inspiração para o artista. A obra relata um incidente, ocorrido em 1783, envolvendo um navio negreiro. Como muitos dos escravos a bordo se encontrassem doentes e o pagamento da companhia de seguros do capitão só pagaria pelos perdidos no mar, o capitão exigiu que todos os doentes e moribundos saltassem no mar, acorrentados. O título completo da obra de Turner é “O Navio Negreiro Jogando ao Mar os Mortos e os Moribundos”.

Ficha técnica
Ano: 1840
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 91,5 x 122 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://britishromanticism.wikispaces.com/The+Slave+Ship
https://strengthoftheheart.wordpress.com/2017/07/26/an-analysis-of-slave-ship-by-william-
https://www.mfa.org/collections/object/slave-ship-slavers-throwing-overboard-the-dead-and

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Poussin – A ASSUNÇÃO DA VIRGEM

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição A Assunção da Virgem é uma obra-prima do pintor francês Nicolas Poussin. Nela o artista narra a subida da Virgem aos céus, tema que foi muito popular, especialmente na época do Renascimento. Trata-se de uma pintura de sua fase veneziana, quando ele esteve na Itália, tendo se estabelecido em Roma, onde passou a maior parte de sua carreira. Existem diversas versões autênticas deste maravilhosos quadro barroco.

A Virgem Maria, apresentada de perfil, está sendo alçada aos céus por uma legião de pequenos anjos nus, em meio a inúmeras nuvens douradas. Ela usa um vestido vermelho e traz sobre o mesmo um grande manto azul que se avoluma, enquanto sobe aos céus em visível estado de êxtase. À sua direita e à esquerda levantam-se duas colunas clássicas douradas e estriadas, cujas extremidades superiores escondem-se em meio às nuvens, passando a impressão de atingirem o céu azulado com suas nuvens de ouro.

Um enorme sarcófago encontra-se na base da composição, em primeiro plano, num piso coberto por flores brancas que simbolizam a pureza da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo. Dele desce uma mortalha branca – elemento mais barroco da pintura e ponto importante da narrativa, – pois faz uma alusão ao fato de que a Virgem ali se encontrava, antes de sua assunção, ou seja, antes da subida de seu corpo e alma ao Céu. Três anjos jogam flores brancas dentro do sarcófago aberto.

Ficha técnica
Ano: c.1626

Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 134,4 x 98 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fonte de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Claude Lorrain – PARNASO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor francês Claude Lorrain (1600 – 1682), cujo nome legítimo era Claude Gellée, tornou-se conhecido como “Le Lorrain”, nome relacionado com a região em que nascera. Ao mudar-se para Roma, o artista teve como mestre o pintor de arquitetura Agostino Tassi, vindo ele posteriormente a estudar com Gottfried Sals, pintor de arquitetura e paisagens, quando se encontrava em Nápoles.  Acabou se tornando um dos famosos paisagistas de Roma, tendo se inspirado, inicialmente, nas paisagens idealizadas de Annibale Carraci e na dos pintores holandeses que residiam naquela cidade. Embora seu estilo fosse lírico e romântico, acabou, mais tarde, aproximando-se de Nicolas Poussin.

A composição intitulada Parnaso ou Apolo e as Musas e também Apolo e as Musas no Monte Hélicon é obra do artista e demonstra sua capacidade de dar à paisagem a grandeza da forma e a do espaço, sempre preocupado com a harmonia do conjunto. Esta paisagem caracteriza-se por sua beleza poética.

As Nove Musas, deusas das artes criativas, estão reunidas no bosque sagrado, na vertente do Monte Hélicon em torno de Apolo, deus da poesia e da música. Acima, à direita, está Pégaso, o cavalo alado que simboliza a imortalidade. Logo abaixo do local onde se encontram Apolo e as Musas está a fonte Hipocrene que, segundo a mitologia, era uma fonte de água doce consagrada a Apolo e às musas, tendo nascido de uma pedra onde Pégaso dera uma patada. Ali nadam sete graciosos cisnes. A fonte servia de inspiração para os poetas, pois, segundo diziam, quem bebia daquelas águas ficava em sintonia com as Musas.

Os nomes das nove Musas do Olimpo da mitologia grega, filhas de Zeus e Mnemose (a Memória) são: Calíope, Clio, Érato, Euterpe Melpômene, Polímnia, Terpsícore, Talia e Urânia. Com o passar do tempo elas se tornaram imagens ligadas às artes. As musas viviam em um templo que se chamava Museion,  termo que deu origem à palavra Museu.

Árvores luxuriantes embelezam o local. Acima do grupo está o templo jônico com sua arquitetura belíssima. Ao fundo, em segundo plano, veem-se o mar e as colinas. Um luz envolvente unifica todos os elementos da pintura.

Ficha técnica
Ano: 1680
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 98 x 135 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Caravaggio – O JOVEM BACO

Autoria de Lu Dias Carvalho

baco

Baco, o deus do vinho, é aqui representado pelo mestre Caravaggio. Antes de pintar O Jovem Baco, o artista já havia pintado o Pequeno Baco Doente, tela em que se autorretratou.

Caravaggio mais uma vez desrespeita as convenções da época. O deus mitológico aqui mostrado, encontra-se no auge de seu vigor físico, exalando saúde por todos os poros. Possui rosto redondo, lábios carnudos, bochechas rosadas e um olhar cheio de sensualidade, mas sem o glamour que seria esperado de um deus do Olimpo. Não se coaduna com a tradição iconográfica de um deus e tampouco encontra-se dentro das exigências da idealizada arte renascentista. O que se vê na composição não é um deus mitológico, mas um rapaz do povo no auge de sua vitalidade, ou seja, um Baco extremamente moderno que se encontra, inclusive, com as unhas sujas e as faces extremamente coradas.

Debaixo do tecido  é possível ver um pedaço do colchão em que se encontra Baco, o que traz simplicidade ao cenário e indica que esta é uma cena quotidiana. Para evitar que o profano resvale demasiadamente para a caricatura, Caravaggio pinta o jovem com um certo ar de sensualidade, ou seja, agrega poesia à composição. É possível notar que algumas frutas já se encontram em fase de apodrecimento, o que vai de encontro à suntuosidade do deus do vinho da Antiguidade. Por sua vez, o vinho ganha destaque ao ser colocado em primeiro plano.

Chamam a atenção na pintura:

• a postura do deus Baco;
• o gesto de Baco oferecendo a taça ao observador;
• a variedade de ornamentos que o cercam: pâmpanos, tecidos, vestimentas, frutas e garrafa com vinho.

Sobre o modelo que posou para o Jovem Baco, existem duas hipóteses:

  1. Seria um castrati (eunuco) que morava no palácio do cardeal Del Monte.
  2. Seria o próprio pintor que teria se autorretratado. Os defensores desta hipótese justificam-se, levando em conta a pose frontal do modelo, indicativa do uso do espelho para pintar a si próprio.

A composição  Jovem Baco foi encontrada em Florença, em 1913, nos depósitos da Galleria degli Uffizi. É tida como uma das maiores obras-primas de Caravaggio. Embora não se tenha dados sobre sua feitura, sabe-se que é uma obra da fase juvenil do pintor. É provável que tenha sido encomendada pelo seu mais importante mecenas, o cardeal Francisco del Monte, para presentear o grão-duque Ferdinando I de Medici.

Curiosidades:

• Sémele, quando estava grávida, exigiu que Júpiter aparecesse na sua presença, para que ela pudesse ver o verdadeiro aspecto do pai do seu filho. O deus ainda tentou dissuadi-la, mas em vão. Quando finalmente ele apareceu em todo o seu esplendor, Sémele, como era uma pobre mortal, não pôde suportar tal visão e caiu fulminada. Júpiter retirou o feto do filho das cinzas, ainda no sexto mês, e o botou dentro da barriga da sua própria perna, onde terminou a gestação. Ao se tornar adulto, Baco apaixonou-se pela cultura da vinha e descobriu a arte de extrair o suco da fruta.

Baco era o nome que os romanos davam ao deus grego Dionísio. É o deus do vinho, da ebriedade, dos excessos, especialmente sexuais, e da natureza. Príapo é um de seus companheiros favoritos (também é considerado seu filho, em algumas versões de seu mito). As festas em sua homenagem eram chamadas de bacanais – a percepção contemporânea de que tais eventos eram “bacanais” no sentido moderno do termo (orgias) ainda é motivo de controvérsia, mas, se o deus Príapo era seu amigo…

Ficha técnica
Obra: O Jovem Baco
Ano: cerca de 1596/1597
Dimensões: 98 x 85 cm
Localização: Galleria degli Uffizi, Florença, Itália

Fontes de pesquisa:
Grandes mestres da pintura/ Coleção Folha
Grandes mestres/ Abril Coleções
1000 obras-primas da pintura europeia/ Köneman
Mitologia/ Thomas Bulfinch

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Poussin – MARTE E VÊNUS

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor francês Nicolas Poussin (1594 – 1665) aspirava muito mais que a formação recebida em sua terra e, por isso, mudou-se para Paris, onde se fixou por mais de dez anos, sobrevivendo com dificuldade. Provavelmente deve ter estudado com Georges Lallement e Ferdinand Elle. Esteve em Veneza e Roma, onde se sentiu atraído pela arte clássica e pelos grandes mestres do Renascimento, dentre os quais estavam Rafael Sanzio com seus belos temas de inspiração clássica e Ticiano com suas cores vibrantes. O artista é tido como o fundador do Neoclassicismo francês, tendo produzido pinturas históricas, mitológicas, retratos e paisagens.

A composição intitulada Marte e Vênus é obra do artista e mostra a influência que ele teve do mundo clássico da Grécia e de Roma assim como da arte de Ticiano aqui expressa na intensidade das cores e na interação entre personagens e paisagem. A cena acontece ao ar livre em meio a uma paisagem idílica, pintada com tonalidades quentes, que se harmonizam com o humor sensual dos deuses enamorados.

A pintura é uma alegoria do amor sobre a guerra. Os deuses mitológicos Vênus e Marte encontram-se nus debaixo de um imenso dossel vermelho, sentados sobre um imenso manto vermelho escarlate. Marte, o deus da guerra, é abraçado por Vênus, a deusa da beleza e do amor. Eles se fitam com paixão. Seis cupidos estão presentes na cena.

O manto e a espada de Marte estão jogados não chão em primeiro plano. Dois cupidos à sua esquerda seguram sua armadura, enquanto um terceiro brinca com seu elmo.  À esquerda, dois cupidos brincam com sua aljava e setas, enquanto outro, trazendo uma seta na mão, postado atrás de Vênus, segura o sobrecéu. À direita, uma ninfa e um deus (possivelmente Baco) estão recostados em grandes vasos de guardar vinho. Outra figura aparece à direita de Vênus, possivelmente uma ninfa sua acompanhante.

Ficha técnica
Ano: c.1630
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 155 x 214 cm
Localização: Museu de Arte, Boston, EUA

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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