Autoria de Lu Dias Carvalho
O pintor Adam Elsheimer (1578-1610) é considerado um dos mais importantes artistas alemães do Barroco primitivo. Seu primeiro professor foi o alemão Philipp Uffenbach. Veio a trabalhar mais tarde no estúdio do paisagista holandês Gillis van Coninxloo, responsável por introduzi-lo na conhecida Escola de Danúbio (nome dado a um grupo de pintores do começo do século XVI, na Baviera e Áustria, e ao longo do vale do Danúbio, e que se encontravam entre os primeiros artistas a trabalharem com a pintura de paisagens e figuras). Em Veneza, aprendeu as técnicas da pintura veneziana com Hans Rottenhammer. Em Roma trocou influências com Paul Bril. O artista era um grande admirador do estilo figurativo de Caravaggio, tendo se encontrado com ele e seus discípulos em Roma, e também das paisagens idealizadas de Annibale Caracci. Ele acabou unindo os dois estilos e criando um próprio.
A composição A Fuga para o Egito é uma das obras-primas de Elsheimer, responsável por trazer-lhe uma enorme fama. Trata-se de uma encantadora e poética pintura noturna em que o artista une, liricamente, paisagem e figuras humanas. Esta pintura, ao apresentar um fantástico tratamento de luz e composição equilibrada, trouxe influências profundas à pintura paisagística do norte europeu no século XVII. Foi feita quando o artista encontrava-se em Roma. O quadro era tão querido ao pintor que, por ocasião de sua morte, ele se encontrava pendurado em seu quarto. O artista morreu um ano depois de concluí-la, tendo morrido muito jovem, deixando uma produção pequena, porém muito significativa.
Faz-se noite, conforme descreve a passagem bíblica em relação à fuga de Maria, seu Menino e José. A Sagrada Família ainda se encontra em marcha, a caminho do Egito, fugindo de Herodes e seus perseguidores. A Virgem Mãe, montada no burrinho, leva nos braços, enrolado em seu manto, o Menino Jesus. São José segue ao lado de olho na preciosa carga. Sua mão direita está erguida em direção a Jesus, talvez para consertar o manto e protegê-lo do frio da noite, enquanto a esquerda segura uma tocha de luz para alumiá-los.
O burro segue pacificamente, tendo a perna dianteira esquerda dobrada, indicativo de que se encontra caminhando. A família aproxima-se de três vaqueiros que se encontram em volta de uma fogueira faiscante. Um deles está de pé, o segundo atiça o fogo e o terceiro está deitado, mas vira-se para ver os visitantes que se aproximam. Próximo a eles está o pequeno rebanho.
A paisagem é magnífica, mostrando a silhueta abobada das árvores escuras que conduzem ao reflexo no lago. Um céu azulado salpicado de estrelas, com uma lua magnífica, à esquerda, que se duplica dentro das águas calmas de um lago, toma quase a metade da pintura. As árvores escurecidas pela noite agem como um muro de proteção e segurança para a Sagrada Família. O artista fundiu em sua obra elementos religiosos e paisagísticos, assim como luz e escuridão. A Via Láctea forma uma diagonal, que parte do canto superior esquerdo em direção ao inferior direito, dividindo a obra em dois triângulos, praticamente separando céu e terra. Quatro fontes de luz irradiam luz sobre a paisagem. São elas:
- a lua no céu;
- o reflexo da lua na água;
- a tocha na mão de José e
- a fogueira dos pastores.
Adam Elsheimer exerceu influência sobre seus contemporâneos Peter Paul Rubens e Claude Lorrain. Há também a probabilidade de que “A Fuga para o Egito”, de Rembrandt, de 1627, com sua iluminação fantástica, tenha sido inspirada no trabalho de Elsheimer, que também foi motivo de inspiração para o pintor romântico alemão Caspar David Friedrich.
Ficha técnica
Ano: 1609
Técnica: óleo sobre cobre
Dimensões: 31 x 41 cm
Localização: Pinacoteca de Munique, Alemanha
Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/
Könemannhttps://en.wikipedia.org/wiki/The_Flight_into_Egypt_(Elsheimer)
http://www.wga.hu/html_m/e/elsheime/egypt-e.html
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