Arquivo da categoria: Pinacoteca

Pinturas de diferentes gêneros e estilos de vários museus do mundo. Descrição sobre o autor e a tela.

Botticelli – A NATIVIDADE MÍSTICA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A Natividade Mística de Jesus, também conhecida apenas como Natividade, refere-se ao nascimento do Salvador. Esta é uma obra do mestre renascentista italiano Sandro Botticelli. É cheia de grande simbologia. O pintor combina o nascimento de Cristo com a sua segunda vinda. Esta obra, cheia de figuras alegóricas, símbolos e inscrições, tem levado os estudiosos a muitas discussões.

A pintura foi realizada um milênio e meio depois do nascimento de Jesus, época em que as modificações políticas e religiosas tornaram-se responsáveis por admoestações proféticas sobre a proximidade do final mundo. Nela, o artista traz à tona as dúvidas e os problemas  de sua juventude, como podemos notar na profética  inscrição grega:

“Esta pintura, do fim de 1500, durante as perturbações na Itália, eu, Allesandro, pintei-a no intervalo após essa época, durante o cumprimento do Capítulo XI de S. João, na segunda calamidade do Apocalipse, e segunda liberação do demônio por três anos e meio, o qual será novamente encadeado no Capítulo XII e nós o veremos […] como nesta pintura.”.

A cena da pintura, portanto, trazem à tona os sermões do monge Savonarola.

O Menino Jesus nasceu. Reunidos no estábulo, José, Maria, reis, pastores e uma legião de anjos celebram seu nascimento com grande alegria. Na parte superior da pintura doze anjos, vestidos nas cores da fé, esperança e caridade, dançam graciosamente em círculo, carregando nas mãos vistosos ramos de oliveira. Sobre eles, o céu abre-se numa maravilhosa cúpula cor de ouro, simbolizando o paraíso que, assim como o ouro, é eterno. Amarradas aos ramos, três coroas douradas balançam. Os pergaminhos presos aos ramos celebram Maria: “Mãe de Deus”, “Noiva de Deus”, “Rainha única do mundo”.

Logo abaixo dos anjos dançarinos, sobre o telhado, estão três anjos ajoelhados, segurando o livro sagrado do cristianismo – a Bíblia. Vestem roupas de cores branca, vermelha e verde e têm asas vermelhas.

A Virgem Maria, ajoelhada em adoração diante de seu Filho, usa um manto azul sobre um vestido vermelho e tem ao lado o boi, deitado, e o jumento, de pé, que também observam o Menino, enquanto José cochila atrás da criança. A Virgem Mãe e seu filho Jesus apresentam-se em escala superior à dos demais personagens. Maria é tão grande que, se ficasse de pé, bateria no telhado do estábulo. O destaque dado pelo artista mostra que eles são as pessoas mais importantes e santas presentes na composição.

O Menino repousa sobre um tecido branco que lembra o mesmo lençol em que seu corpo será enrolado um dia, enquanto a gruta é uma menção ao seu túmulo. Os pastores, à direita, com suas roupas curtas, presentes no lado direito da pintura, louvam a criança que acaba de nascer. Todos estão coroados com ramos de oliveira, símbolo da paz. Um anjo com roupa branca conversa com eles, enquanto outro, meio encoberto pelos ramos e trazendo um ramo de lírios na mão, está de frente para o grupo.

Na parte inferior da pintura em primeiro plano, três anjos, usando vestes verde, branca e vermelha, abraçam afetuosamente três homens que vêm visitar o Menino. Os seres alados carregam consigo um ramo de oliveira e, preso a estes estão pergaminhos com frases em latim que dizem: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.” Atrás do grupo quatro demônios, em escala bem reduzida, fogem aterrorizados, alguns empalados em suas próprias lanças, para buracos no chão.

À esquerda estão os reis, despojados de suas insígnias, usando vestes longas. Também estão usando coroas de oliveira. O anjo que, junto aos três reis, à esquerda da pintura, aponta a mão para o Menino, segura a inscrição “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Em frente à estrebaria vários caminhos cruzam em zigue-zague. As paredes da rocha parecem lanças. Inúmeras árvores verdes estão atrás do local onde acontece a cena.

Esta obra de Botticelli não é convencional ao representar os acontecimentos tradicionais do nascimento de Jesus Cristo. O artista inspirou-se nas profecias do Apocalipse de São João para pintar tais eventos. No topo da obra podemos ver a inscrição de um texto. Vemos ali a influência do monge fanático e pregador Savonarola sobre Botticelli.

Ficha técnica:
Data: c. 1501
Técnica: têmpera e óleo sobre tela
Dimensões: 108, 5 x 75 cm
Localização: National Gallery, Londres, Reino Unido

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obra de arte/ Taschen
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia

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Lorenzo Lotto – MATRIMÔNIO MÍSTICO DE S. CATARINA…

Autoria de Lu Dias Carvalho

A pintura Matrimônio Místico de Santa Catarina de Alexandria é uma obra do pintor, desenhista e ilustrador italiano Lorenzo Lotto (c.1480 -1556) que usou este mesmo tema em outra obra. O artista serviu de ponte de transição entre os velhos mestres de Veneza e a arte do Barroco tardio no norte da Itália. Dentre os pintores que exerceram influência em sua obra estão Giovanni Bellini, Antonello da Messina, Giorgione, Ticiano e Rafael. Ele pintou altares, obras religiosas e retratos.

O Matrimônio Místico de Santa Catarina de Alexandria faz parte das primeiras obras do artista, já deixando em evidência sua perfeição formal e as inúmeras influências recebidas. O grupo em primeiro plano forma uma rigorosa composição piramidal, esquema muito usado por artistas como Leonardo da Vinci e Rafael Sanzio, sendo a cabeça da Virgem o ápice da pirâmide. São quatro os personagens presentes na composição: a Virgem Maria, o Menino Jesus, Santa Catarina e São José, seu esposo e pai adotivo de Jesus Cristo.

A Virgem encontra-se sentada num plano superior, trazendo ao colo seu Menino. Ela veste um suntuoso vestido vermelho com muitas pregas e um manto azul, sobre o qual se senta seu filho. Sobre os cabelos escuros divididos ao meio, ela usa um lenço branco que também lhe cobre parte do peito. À sua esquerda, e mais atrás, saindo da zona de sombra, encontra-se São José e à sua direita está Santa Catarina. Maria traz a mão esquerda próxima ao corpo do filho, protegendo-o para não cair, e a direita sobre o pescoço da santa.  Sua cabeça está inclinada para baixo e seus olhos acompanham atentamente o desenrolar da cena.

O Menino Jesus, banhado pela luz, encontra-se nu, como prova de sua inocência. Ele inclina o corpinho para Santa Catarina, sob os cuidados atentos de Maria. Segura um anel com os dedos indicador e polegar da mão direita, enquanto, com a esquerda, retém o dedo anelar da mão esquerda da santa, onde será encaixada a joia. Ao lado da Virgem Maria, São José, já bem mais velho, traz nos braços um livro de capa esverdeada. Ele inclina a cabeça para sua esquerda e curva o corpo ligeiramente para frente para enxergar o que se passa. Seus olhos estão voltados para baixo em direção ao Menino Jesus e à nubente.

Santa Catarina, ajoelhada diante de Jesus, tem os olhos voltados para o chão e a mão direita sobre o peito em sinal de humildade e respeito. Muito bem vestida, pois, segundo a lenda, ela era uma princesa, traz os cabelos loiros presos em três grandes tranças que circundam sua cabeça. Uma fina corrente cinge sua testa e cabeça, com as pontas descendo sobre seu delicado rosto. Usa também um colar e brincos de pérolas e uma pulseira de ouro.

Uma cortina verde, centralizada atrás da Virgem, serve de fundo para ela e seu Menino. Ao fundo, às costas de Santa Catarina, desdobra-se uma paisagem com uma estrada, um rochedo e uma mata.  Na estrada em direção ao grupo vê-se um homem montado a cavalo e parte de um burro imediatamente atrás, levando uma carga. O céu mostra-se meio escuro, sendo que o alaranjado visto no horizonte repassa a sensação de que se trata da hora do crepúsculo.

Ficha técnica
Ano: 1506/07
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 71 x 91 cm
Localização: Pinacoteca de Munique, Alemanha

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Carlo Crivelli – VIRGEM DAS VELAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                        

A composição Virgem das Velas, também conhecia por Madona do Círio, é uma obra do pintor italiano Carlo Crivelli (c.1433-1495) que também era conhecido como Donatino Creti. O artista era irmão do pintor renascentista Vittorio Crivelli. Por ter cometido atos criminosos foi obrigado a fugir de Veneza, sua cidade natal, indo para Zara, na Dalmácia.  Recebeu influências de pintores do círculo de Francesco Squarcione e dos trabalhos iniciais de Mantegna e mais tarde do pintor Cosmè Tura. Sua obra é reconhecida por sua inclinação pela ornamentação e ostentação. O artista é comparado a Sandro Botticelli no que diz respeito à técnica do desenho.

Esta obra é a parte central de um grande retábulo e faz jus ao estilo tardio do artista.  Encontra-se em Brera. Outros painéis encontram-se em Veneza e os pilares laterais, com pequenas figuras de santos, estão em outros museus. Na pintura predominam o desenho suntuoso, a execução refinada de diferentes materiais e a decoração exagerada, características do estilo do pintor. Sua técnica é surpreendentemente precisa, sendo muito apreciada pelo gosto popular da época. Nesta pintura ele busca inspiração na vida da corte terrena para representar a celeste. Ainda assim, o sentimento domina a forma.

Na composição a Virgem encontra-se num trono de mármore, frontal e imóvel, luxuosamente vestida, trazendo no colo seu Menino. Seu rosto oval traz os olhos voltados para baixo, assim como estão os de Jesus. Seu vestido vermelho está coberto por um manto escuro de brocado, adornado com belos bordados a ouro, preso no peito por uma belíssima joia. A Virgem também se encontra enfeitada com preciosas joias, incluindo uma coroa de ouro, ornamentada com pedras preciosas. Um diáfano véu desce da metade de seus cabelos dourados, caindo-lhe pelas costas e ombros.

A Virgem ajuda seu Menino a segurar uma pera, símbolo da Paixão e da Redenção de Cristo. A maçã vista próxima aos pés da Virgem, situada na base do trono, alude à aceitação dos pecados do Homem e à salvação. Os lírios brancos no jarro preto, trabalhado em ouro simbolizam a pureza da Virgem assim como a rosa branca, enquanto a vermelha alude ao martírio de Cristo. As cerejas próximas à jarra simbolizam a bondade e a vida eterna. A fina vela junto à placa na base da pintura dá nome a ela. Uma grinalda de frutos (maçãs, peras e cerejas) e folhas rodeia parte do trono. Na base da pintura uma placa traz a assinatura do pintor:

“Karolus Crivellus Venetus/Eques Lavreatus Pinxit” (Carlo Crivelli, um veneziano, cavaleiro, pintou).

Ficha técnica
Ano: c. 1490
Técnica: têmpera e ouro sobre madeira
Dimensões: 75 x 218 cm
Localização: Museu de Brera, Milão, Itália

 Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Fouquet – CARLOS VII, REI DA FRANÇA

Autoria de Lu Dias Carvalho

O francês Jean Fouquet (c.1420– c.1480), foi o mais importante pintor francês do século XV, início do Renascimento, segundo fontes documentais dos séculos XV e XVI. Mas pouco ou quase nada se sabe sobre sua juventude e formação, pois são pouquíssimas as informações encontradas sobre sua vida e obra. Sabe-se que foi bem conceituado no seu país e fora de suas fronteiras à época. Influências da pintura flamenga são encontradas nas obras do artista, assim como fica evidente nelas o seu amor pela natureza e o esmero usado nos detalhes. Acredita-se que, quando esteve em Florença, ele tenha se relacionado com Fra Angelico, Paolo Ucello e Masolino.

A composição Carlos VII, Rei da França deixa evidente o quão Fouquet levava a sério o retratismo flamengo, principalmente no que diz respeito à representação maravilhosamente elaborada dos tecidos, como vemos aqui na roupagem vermelha do rei francês, toda pregueada e com gola e punhos de pele. Suas volumosas ombreiras tornam o peito do soberano ainda maior. Esta pintura é muito marcante, pois dá início a este tipo de retrato na França, sendo o mais antigo dos retratos no Ocidente. O rei é apresentado em três quartos de corpo, diante de um fundo verde luminoso, usando uma suntuosa veste vermelha, mas sem nenhum atributo que possa indicar sua posição de rei. O feitio marcante de seu rosto apresenta olhos pequenos, já com olheiras e pálpebras caídas, nariz grande, boca carnuda e um furo no queixo redondo, já com as rugas da idade. Suas sobrancelhas arqueadas estão de acordo com a moda da época.

Ao que nos parece, o rei encontra-se ajoelhado, como se estivesse a olhar para fora de uma janela, provavelmente de uma capela, ladeado por duas partes de uma cortina verde-claro, recolhidas à esquerda e à direita.  É de supor que ele esteja fazendo parte de uma cerimônia religiosa, tamanha é a sua concentração e seriedade. Também pode se tratar de um retrato votivo (ofertado em razão de um voto ou promessa), se for levada em conta a inscrição “trè victorieux” (muito vitorioso), inscrita na moldura que acompanha o retrato, mas não mostrada aqui. A representação do espaço onde o rei Carlos VII encontra-se é mínima, e as cores sobrepostas e o rigor das formas geométricas fazem com que ele se apresente autoritário e severo, mas também meio cansado.

Partindo do pressuposto de que o rei encontra-se ajoelhado, seus braços, com as mãos entrelaçadas, apoiam-se numa volumosa almofada amarela, decorada com folhas e flores marrons. Seu rosto está banhado sutilmente pela luz que também destaca os adornos de seu chapéu azul-escuro, além de realçar as cortinas de um verde-claro, contrapondo-se ao verde-escuro do fundo.

Ficha técnica
Ano: c. 1445/50
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 86 x 71 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.louvre.fr/oeuvre-notices/charles-vii-1403-1461-roi-de-france

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Lorrain – ULISSES LEVANDO CRISEIDA…

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                       (Clique na imagem para ampliá-la.)

O pintor francês Claude Lorrain (1600–1682), cujo nome legítimo era Claude Gellée, tornou-se conhecido como “Le Lorrain”, relacionado com a região em que nascera. Ao mudar-se para Roma, o artista teve como mestre o pintor de arquitetura Agostino Tassi, vindo posteriormente a estudar com Gottfried Sals, pintor de arquitetura e paisagens, quando se encontrava em Nápoles.  Acabou se tornando um dos famosos paisagistas de Roma, tendo se inspirado inicialmente nas paisagens idealizadas de Annibale Carraci e na dos pintores holandeses que residiam naquela cidade. Embora seu estilo fosse lírico e romântico, acabou aproximando-se de Nicolas Poussin mais tarde. A vista do mar era um tema constante nas obras de Lorrain, assim como lembranças da Antiguidade Clássica que sempre davam um toque de solenidade antiga às suas obras.

A composição Ulisses Levando Criseida de Volta a seu Pai trata-se de um tema mitológico, inspirado na “Ílíada” de Homero, mas que não passa de um pretexto usado pelo pintor, para criar uma bela e grande paisagem imaginária em que o mais importante é mostrar a lida de um movimentado porto. À esquerda vê-se um palácio clássico decorado com estátuas dos deuses Apolo e Diana, seguido de uma vila romana ao lado de um grande pinheiro. A seguir vê-se a torre medieval do porto. Parte de um gigantesco edifício clássico é visto à direita. Muitos personagens ali se movimentam.

Um grande navio a remo, ancorado no porto, é visto no meio da composição, lançando sua sombra nas águas em direção ao cais. Representa a embarcação de Ulisses. Em seus mastros tremulam duas bandeiras azuis e velas brancas. Dele parte uma faixa de luz que segue até o cais, dividindo a composição em duas partes.

A cena a que alude ao título passa praticamente despercebida. Nas escadas do palácio Ulisses faz a restituição de Criseida. Subindo por uma grande escadaria, ele leva a moça até seu pai, o sumo sacerdote. Vários barcos aguardam ancorados próximos aos degraus, a fim de retornarem ao galeão. Não é possível precisar o momento do dia retratado pela composição. O sol encontra-se escondido por ele, jogando seus raios à direita e à esquerda da vistosa embarcação.

O porto está repleto de grandes e pequenas embarcações. Inúmeros personagens, alguns vestidos com roupas orientais, ali se encontram. Pessoas conversam entre si, tratando de negócios, enquanto outras lidam com o transporte da bagagem.  Três vacas estão sendo levadas de um barco para o cais. O fundo da composição está mais iluminado, o que o separa do primeiro plano. Nota-se que a paisagem em si, para o pintor, é bem mais importante do que os personagens nela vistos, ocupando, portanto, a função de protagonista.

Ficha técnica
Ano: c. 1644
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 119 x 150 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Cimabue – MADONA ENTRONADA

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor florentino Cenni di Pepo (1240-1302), conhecido por Cimabue, é tido como o mais famoso de sua geração, tendo executado muitas encomendas não só para Florença, como para além de suas fronteiras. Foi responsável pela pintura de muitos afrescos nas igrejas de Cima e de Baixo de São Francisco de Assis, vitrais para a Catedral de Siena, mosaicos para a Catedral de Pisa, tendo feito trabalhos para os patronos eclesiásticos em Roma. Tinha na sua casa uma grande e organizada oficina, onde se presume que Giotto praticou a sua arte. Suas origens ainda não foram muito bem esclarecidas pelos pesquisadores. Sabe-se que iniciou sua arte aprendendo a técnica do mosaico, usada pelos bizantinos, mas veio a abandoná-la tempos depois. A julgar por suas encomendas, o pintor parece ter sido um artista muito bem conceituado em seu tempo.

A composição Madona Entronada, também conhecida por Maestà, ou ainda Madona Entronada com Anjos, é uma obra monumental e de estrutura equilibrada e simétrica, de Cimabue, que pintou inúmeras versões da Virgem com seu Menino nos braços.

Maria encontra-se sentada sobre um trono, belamente decorado, sobre uma almofada vermelha. A inclinação do trono permite que a linha de seu corpo acompanhe a dos degraus. Há um espaço entre seu corpo e o encosto, o que evidencia a profundidade do assento. A Virgem Maria usa um vestido alaranjado, tendo sobre ele um manto azul, que encobre também sua cabeça, deixando apenas o rosto e o pescoço à vista, assim como suas mãos de dedos alongados. O drapejamento do manto é de grande beleza.  Ao colo ela traz o Menino, majestosamente vestido, trazendo na mão esquerda um pergaminho, enquanto a mãozinha direita está postada em posição de bênção.

Seis anjos, de pé, encontram-se ao lado do trono, três à esquerda e três à direita, postados simetricamente, num delicado arranjo colunar, como se o segurassem. Os elementos que formam cada par são exatamente iguais, tanto nas feições quanto na posição e na roupagem. Todas as personagens estão de frente para o observador. O fundo dourado da composição, como se fosse um espaço real, destaca ainda mais os personagens ali presentes. Auréolas ornam a cabeça dos seres divinais, sendo a da Virgem a maior de todas, em razão de sua importância.

Não resta dúvida de que os rostos da Virgem e dos anjos são todos iguais, mostrando-se estilizados e alheados, mas não podemos nos esquecer de que já mostram um grande passo de distância em relação aos modelos bizantinos, criados unicamente com objetivos espirituais. Este painel foi encomendado para ornamentar a igreja de São Francisco em Pisa, na Itália. E ali permaneceu até o século XIX.

Ficha técnica
Ano: c. 1270
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 427 x 280 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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