Arquivo da categoria: Pintores Brasileiros

Informações sobre pintores brasileiros e descrição de algumas de suas obras

Pintores Brasileiros – LASAR SEGALL

Autoria de Lu Dias Carvalho

segall
Escolhi o Brasil, que já havia visitado, e onde encontrei um acolhimento cordial. (Lasar Segall)

Na arte brasileira, Segall é o artista que dela se ocupou com mais profundidade. (Olívio Tavares de Araújo)

Nunca foi maior e mais sincero o artista do que quando retratou os desamparados e os perseguidos, numa palavra os desvalidos da sorte, tangidos como gado à mercê das circunstâncias. Nessas enormes composições não há revolta ou desespero […]. Em tais momentos, sua pintura alça-se por sobre o plano meramente estético, para atingir a esfera da moral. (José Roberto Teixeira Leite)

O pintor Lasar Segall (1891-1957) era o sexto dos oito filhos do casal Abel Segall e Ester Segall, tendo nascido em Vilna, na Lituânia, quando o país ainda se encontrava sob o jugo do império russo. Mas no decorrer da Primeira Guerra Mundial, Vilna foi invadida pelos alemães, que ali permaneceram três anos, e, após esse período, os russos retomaram a cidade. Segundo o próprio pintor, houve lutas entre lituanos, poloneses e russos pelo domínio de Vilna, que ora estava nas mãos de uns, ora nas de outros, até ser incorporada à Polônia definitivamente. E, por isso, ele sempre se sentiu como um apátrida. A família de Lasar Segall era judia e, como as demais, vivia à margem da sociedade, no gueto. E foi ali, instruído pelo pai, escriba do Torá (livro sagrado do judaísmo), com quem o artista viveu até os 15 anos de idade.

O interesse do garoto pela pintura brotou muito cedo, ao ajudar o pai a preparar suas próprias tintas para ornar as letras capitulares. E, aos 15 anos, seguindo orientação de seu professor de desenho, Le Antokolski, deixou Vilna, rumando para Paris, porém, com os poucos recursos de que dispunha, parou em Berlim, onde permaneceu. Aos 19 anos, Segall foi estudar na Academia de Belas-Artes, de Dresden. Dois anos depois, esteve no Brasil, expondo seus trabalhos em São Paulo e Campinas, depois de obter o apoio do senador José Freitas Valle na divulgação de seu trabalho.

Dois anos após seu retorno a Dresden, Segall foi expulso da Academia sob a justificativa de que era um cidadão russo. Era a época da guerra. Mesmo assim, permaneceu em Dresden, enquanto via muitos de seus amigos serem enviados para Meissen, onde eram confinados por serem judeu-russos. O artista já era um nome reconhecido na Alemanha, sendo os seus trabalhos procurados por museus e colecionadores. Mas em 1923, época em que o país alemão passava por uma grave crise econômica, o pintor, aos 32 anos de idade, escolheu o Brasil como nova pátria, onde já viviam seus irmãos Luba, Oscar e Jacob. Quando para aqui veio, Segall estava casado com a alemã Margarete Quack, que retornou à Alemanha no ano seguinte. Logo depois, ele se casou com Jenny Klabinn, com quem teve os filhos Maurício e Oscar.

Segall naturalizou-se brasileiro em 1927, tornando-se um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento e divulgação da arte moderna na sua nova pátria. Junto com Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade, John Graz, entre outros, fundou a Sociedade Pró-Arte Moderna, conhecida como SPAM, até que, em 1933, o antissemitismo, encontrado dentro mesmo da própria associação, aliado às dificuldades financeiras, fez com que tal sociedade começasse a desmanchar. Mesmo dez anos depois, em plena guerra, Segall, ao inaugurar uma exposição no Rio de Janeiro, viu-se vítima do mesmo antissemitismo, mas muitos intelectuais saíram em sua defesa à época.

Lasar Segall, gravurista, escultor e pintor, tinha predileção pelas figuras marginalizadas, imbuídas do sofrimento humano: mendigo, prostituta, velho abandonado, errante, mãe viúva, negro, emigrante, etc. Sentia-se como se fosse uma delas. Segall era um homem dotado de extremo humanismo. Preocupavam-lhe a violência, a miséria e as injustiças sociais. Sofrimento moral que o acompanhou ao longo de sua carreira, como podemos observar em toda a sua trajetória artística. Suas obras não diziam respeito especificamente aos aspectos sofridos de sua vida, mas tratavam de temas  universais.

O trabalho do artista, que queria ser universal, baseia-se, sobretudo, no humano e no social, embora também se dedicasse à paisagem. Para ele, os problemas socias são os mesmos, em qualquer lugar do mundo, pois a desgraça e a miséria humana são apátridas. Sua obra está repleta, portanto, de sofrimento.

Segall recebeu influências do impressionismo, do expressionismo e do modernismo. Morreu aos 66 anos de idade, de problemas cardíacos, na cidade de São Paulo, Brasil.

Fontes de pesquisa
Lasar Segall/ Coleção Folha
Brazilian Art VII

Nota: Autorretrato II

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Portinari – GUERRA E PAZ

Autoria de Lu Dias Carvalhoportinari                                                              Clique nos painéis para ampliá-los.

 Os painéis Guerra e Paz são o melhor trabalho que já fiz. Dedico-os à humanidade (Portinari)

… O universo portinariano, se às vezes dói, sempre fulgura: entrelaça como num verso o que é humano ao que é pintura… (Carlos Drummond de Andrade)

Quais são as coisas comovedoras neste mundo de hoje? Não são por acaso as guerras, as tragédias provocadas pelas injustiças, pela desigualdade e pela fome? Haverá na natureza algo que grite mais alto no coração do que isto? É preciso haver uma mudança. O homem merece uma existência mais digna. Minha arma é a pintura. (Portinari)

Os painéis Guerra e Paz, conhecidos internacionalmente e tidos como duas das mais belas obras do artista brasileiro Candido Portinari, ornamentam a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York/EUA, desde 1957

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Portinari – O MASSACRE DOS INOCENTES

Autoria de Lu Dias Carvalho

massacre dos inoc. port.

Em 1943, o pintor brasileiro Candido Portinari retomou o estudo da obra do artista espanhol Pablo Picasso. Visivelmente inspirado na obra mais famosa do mestre, Guernica, com seus planos cinzentos, Portinari criou a “Série Bíblica”, composta por A Ressurreição de Lázaro, Eremita Penitente (ou O Profeta), O Sacrifício de Abraão, As Trombetas de Jericó, A Justiça de Salomão, O Pranto de Jeremias e o Massacre dos Inocentes, entre 1942 e 1944.

Esta série cubista foi encomenda pelo empresário de comunicação Assis Chateaubriand, para ornamentar a sede da Rádio Tupi, na capital paulista. Ela engloba tanto passagens do Antigo quanto do Novo Testamento.

Ficha técnica
Ano: 1943
Técnica: têmpera sobre tela
Dimensões: 149 x 149 cm
Localização: Museu de Arte de São Paulo – MASP – São Paulo, Brasil

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Portinari – ENTERRO NA REDE

Autoria de Lu Dias Carvalho

enterro na rede port.

A composição Enterro na Rede, do artista brasileiro Candido Portinari, faz parte da “Série Retirantes”, e se trata de uma denúncia social, com influências expressionistas, composta por Emigrantes, Retirantes e Criança Morta. Em 1944, o pintor demonstrou preocupação em representar a situação social do trabalhador brasileiro.

A tela apresenta, em destaque, quatro figuras, sendo duas masculinas e duas femininas. Dois gigantescos homens carregam a rede com o morto, enquanto uma mulher, de costas para o observador, ajoelhada, ergue os braços para os céus, em visível desespero, sendo possivelmente a esposa do morto. Ela ocupa a parte central da composição. Um pouco à frente do cortejo, ajoelhada e com as mãos em forma de preces, encontra-se uma segunda mulher. A rede, por sua vez, não mostra o volume de um corpo normal, levando a crer que se trata daquilo que dele sobrou, em razão da miséria vivida.

Os personagens são visivelmente pobres, com suas roupas esfrangalhadas e mal ajambradas. Os dois homens, embora gigantescos, apresentam cabeças miúdas, desproporcionais ao tamanho do corpo, o que leva o observador a deduzir que se trata de trabalhadores rurais, munidos de muita força, mas de pouca sabedoria. Enquanto o primeiro deles segura o fardo com as duas mãos, o segundo retém a rede no ombro, deixando a mão direita cair sobre o corpo, em sinal de cansaço, e, com a esquerda, segura no meio o pau que a sustém, marcando o meio exato da composição. Os homens mostram uma ossatura descarnada.

O mais interessante na composição, que é composta por linhas retas e curvas, sendo possível encontrar várias figuras geométricas, é que a forma triangular está muito presente:

• na rede carregada pelos dois homens;
• nos braços abertos da mulher (de costas para o observador) e no espaço formado entre os seus pés;
• nos espaços formados pelas pernas dos dois carregadores;
• no espaço formado pelo braço direito da mulher em atitude de prece, etc.

Ficha técnica
Ano: 1944
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 180 x 220 cm
Localização: Museu de Arte de São Paulo – MASP – São Paulo, Brasil

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Portinari – CRIANÇA MORTA

Autoria de Lu Dias Carvalho

criança morta port.   (Faça o curso gratuito de História da Arte, acessando: ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE)

O artista plástico brasileiro Candido Portinari (1903-19620) demonstrou em 1944 preocupação em representar a situação social do trabalhador brasileiro, tanto é que criou a “Série Retirantes” como uma denúncia social com influências expressionistas, composta por Criança Morta, Emigrantes, Retirantes e Enterro na Rede.

Na tela Criança Morta uma gigantesca mãe encontra-se curvada sobre o filho morto que carrega. Essa colossal mãe, com suas pernas flexionadas e com o filho nos braços, que mais se parece com uma estátua, lembra a figura da Pietá do pintor italiano Michelangelo. Quatro personagens espalham-se em torno da mãe dolorosa.

A criança morta, com seu corpo despido e esquelético — o que intui que tenha morrido de fome — tem a cabeça caída para frente, enquanto o braço direito despenca-lhe do corpo em direção ao chão, como o de Jesus na Pietá e em outras composições da Renascença.

Todas as figuras ao redor da mãe e de seu filho são cadavéricas. À esquerda o homem segura a esposa pelo ombro, também com o corpo curvado e com os cabelos a tocar-lhe as costas, como se lhe quisesse repassar consolo. Uma mulher segura com as duas mãos a cabeça do menino morto. À direita outra mulher segura a mão de uma criança, cujo rosto envelhecido parece o de um adulto.

Excetuando a mãe, de quem não é possível ver o rosto e a criança segura pela mão, tanto o homem quanto as duas mulheres vertem lágrimas de pedras, simbolizando a crueza da seca e a dureza do sofrimento.

A paisagem é seca e cheia de pedregulhos. Não se vê uma única plantação. No chão, descansa uma cabaça cujo objetivo é carregar água. O azul do céu é carregado, reforçando o amargura da cena. Haja sofrimento neste grupo de seres humanos, sofrimento esse que nos parece tão palpável.

Ficha técnica
Ano: 1944
Dimensões: 180 x 190 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo do MASP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Fonte de pesquisa
Portinari/ Coleção Folha

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Portinari – RETIRANTES

Autoria de Lu Dias Carvalho

os retirantes port.

O pintor brasileiro Candido Portinari (1903-1962) demonstrou no ano de 1944 uma grande preocupação com a situação social do trabalhador brasileiro, tanto é que criou a “Série Retirantes”, uma denúncia social com influências expressionistas, composta por Criança Morta, Emigrantes, Retirantes e Enterro na Rede (presentes no site). Essa série mostra o sofrimento dos trabalhadores nordestinos que eram sempre açoitados pela seca.

Na obra Retirantes, ilustrada acima, o conjunto de personagens é formado por quatro adultos e cinco crianças, todos esquálidos. O grupo é composto por imensas figuras que ocupam o primeiro plano da composição. A obra possui o formato piramidal, cujo vértice superior é formado pela trouxa que a mulher carrega na cabeça. A fisionomia dos personagens demonstra tão profundo abatimento que chega a doer no coração de quem as observa.

A figura do velho que leva um cajado e a do bebê escanchado na cintura da mulher à sua frente são descarnadas, lembrando esqueletos ambulantes. O homem idoso é retratado como se fosse um santo penitente, tamanha é tristeza e o desalento que repassa. Na parte direita da composição um garotinho, vestido apenas com uma camisa, traz à vista uma enorme barriga, evocando a presença de vermes. No centro do grupo uma mulher carrega uma trouxa na cabeça, enquanto traz no braço esquerdo um desmilinguido bebê, cujo rostinho repassa uma extrema piedade.

O homem de chapéu traz um saco na ponta de um pau escorado em seu ombro esquerdo. Com a mão direita ele segura um desalentado garotinho, usando também um imenso chapéu. À sua esquerda estão presentes duas outras crianças. Homem e crianças parecem fixar tristemente o observador, como se lhes pedissem socorro. Todas as gerações são mostradas na composição, sendo afetadas pela seca.

A terra escura está salpicada de ossos, enquanto aves negras de rapina espalham-se pelo céu esquisito. Todo o grupo é composto por tipos magérrimos e acinzentados, aparentando sujeira, e descalços. O sol mostra-se tão feio e sujo quanto os retirantes, figuras que nos trazem a impressão de serem palpáveis.

A paisagem, atrás dos retirantes, é seca, triste e desolada, onde não se vê uma folha verde. Mais ao longe montanhas nuas e ressequidas complementam-na. Existem poucas tonalidades fundamentais na tela (brancas, cinzas e pardas) que têm por objetivo colocar em evidência o contexto estrutural, avivado em poucos pontos  com tons mais quentes que possuem valor meramente decorativo.

Ficha técnica
Ano: 1944
Dimensões: 190 x 180
Técnica: Óleo sobre tela
Localização: Acervo MASP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Fontes de pesquisa
Portinari/ Coleção Folha
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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