Arquivo da categoria: Pintores Brasileiros

Informações sobre pintores brasileiros e descrição de algumas de suas obras

Ianelli – O MENINO PINTOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor brasileiro Arcangelo Ianelli retrata em sua composição O Menino Pintor o seu filho Rubens, que desde pequeno mostrava-se inclinado para a pintura, e sua filha Katia. Este é um quadro da sua fase figurativa.

Pelo chão da imensa sala encontram-se dois brinquedos: uma bola de cor alaranjada e um cavalinho de madeira de cor azul. Quadros e molduras estão dependurados ou recostados na parede, à direita.

O pequeno pintor chama a atenção por se encontrar diante de um gigantesco cavalete, onde pinta sua tela, enquanto é observado pela irmã, sentada num banquinho.

Ficha técnica
Ano: 1952
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 92 x 74 cm
Localização: Coleção particular

Fonte de pesquisa
Arcanjo Ianelli/ Coleção Folha

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Ianelli – PIC NIC

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Na sua composição Pic Nic, Arcangelo Ianelli, pintor brasileiro, retrata sua família. Em primeiro plano estão representadas sua esposa Dirce, grávida do segundo filho, a filha Katia acompanhada de sua prima. Todas as personagens estão vestidas de branco, postadas sobre uma toalha também de cor branca.

Dirce está assentada à esquerda, no pequeno grupo; Katia encontra-se de pé, ligeiramente inclinada sobre a mãe, à sua esquerda, enquanto a outra garota está deitada de frente para mãe e filha, com a cabeça escorada no braço, tendo atrás de si uma cesta.

Um chapéu encontra-se diante das figuras. Como Dirce traz o seu à cabeça, pertence certamente a uma das garotas. Ao fundo está um campo verde, com três diminutas árvores. Mais distante estão as montanhas.

Ficha técnica
Ano: 1950
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 38 x 46 cm
Localização: Coleção particular

Fonte de pesquisa
Arcanjo Ianelli/ Coleção Folha

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Pintores Brasileiros – ARCANGELO IANELLI

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Enganam-se os que julgam que um quadro colorido é aquele que contém variedades e acúmulo de cores dominando uma superfície mal disposta. A sutileza e elaboração da própria cor, quando criada pelo verdadeiro artista, poderá conter uma riqueza infinita de matizes dentro de um só azul ou de um só gris. A cor é suficiente para construir e expressar nosso universo. Difícil é saber como usá-la. (Arcangelo Ianelli)

Não se pode apenas colorir um desenho, é preciso expressar também valores plásticos que a pintura requer, caso contrário está-se diante de uma simples ilustração colorida. (Arcangelo Ianelli)

A cor é suficiente para construir e expressar o universo. (Ianelli)

O artista brasileiro Arcangelo Ianelli (1922-2009), nascido na cidade de São Paulo, era filho de imigrantes italianos, tendo perdido a mãe quando ela tinha 49 anos. Seu contato com a arte deu-se a partir dos sete anos, época em que estudou interno numa escola católica, onde passou a desenhar. Quando começou a trabalhar, aproveitava as horas vagas para estudar pintura, vindo a ingressar posteriormente na Associação Paulista de Belas Artes, onde conheceu vários artistas também de origem italiana. Nos finais de semana, eles seguiam juntos para pintar nos arredores da cidade de São Paulo.

Aos 24 anos de idade, o pintor casou-se com Dirce Ianelli, época em que passou a dedicar integralmente à pintura. Com ela teve os filhos Katia e Rubens. Viajou com a família, durante dois anos, pela Europa, com exposições itinerantes, período em que aproveitou também para estudar arte. De Roma foi para Paris, onde morou alguns meses.

A toxidade das tintas trouxe problemas para a saúde de Arcangelo Ianelli, que teve que abrir mão do uso da tinta a óleo por um bom tempo, passando a trabalhar com têmpera, guache e pastel. Participou de onze Bienais de Arte no Brasil, Colômbia, Venezuela e México, e várias mostras. Teve também seus trabalhos expostos nos Estados Unidos, além de participar de inúmeras exposições internacionais.

O estilo de Ianelli foi muito diversificado: cenas cotidianas, paisagens urbanas, naturezas mortas, abstracionismo e abstracionismo geométrico. Fez parte do Grupo Guanabara, do qual participaram os artistas Manabu Mabe, Yoshiya Takaoka e Tikashi Fukushima. Além de pintor, Ianelli foi também escultor, ilustrador e desenhista. Para ele, a arte deveria ser a base da educação. Faleceu em 2009, aos 87 anos, deixando um rico acervo de desenhos, gravuras, relevos, esculturas e pasteis.

Fontes de pesquisa
Arcangelo Ianelli/ Coleção Folha
http://www.mercadoarte.com.br/artigos/artistas/arcangelo-ianelli

Nota: retrato de Arcangelo Ianelli – óleo sobre tela, 0,80 x 1,00 m – 1983/ Acervo do Museu de Arte Brasileira (MAB)

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Tarsila – ANTROPOFAGIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

Tarsila12345   (Faça o curso gratuito de História da Arte, acessando: ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE)

Os contornos inchados das plantas, os pés agigantados das figuras, o seio que atende ao inexorável apelo da gravidade: tudo é raiz. O embasamento que vem do fundo, do passado, daquilo que vegeta no substrato do ser.  (Rafael Cardoso)

Filhos do sol, mãe dos viventes, […]. Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo. (Manifesto Antropofágico)

Para fazer a sua composição Antropofagia a pintora brasileira Tarsila do Amaral concebeu uma criativa união de dois trabalhos anteriores: A Negra (1923) e Abaporu (1928), como se aqueles seres colossais fossem interdependentes, um interligado ao outro. É impossível o entendimento desta obra através de uma leitura convencional,  aquela que é feita na análise dos detalhes. O observador deve optar por outro nível conceitual, pois as duas formas brutas, apresentadas pela artista, reportam ao estado primitivo.

A obra Antropofagia — a mais importante da fase antropofágica da pintora — é praticamente a fusão das duas pinturas citadas acima. A cabeça da negra tornou-se diminuta em sintonia com a de seu companheiro. O braço que sustentava o seio está agora escondido atrás da perna direita, enquanto o seio é sustentado pela perna do outro ser que escora a sua e que toca graciosamente o chão. A perna esquerda da Negra está encoberta pela perna do Abaporu que se encontra em posição inversa. Ele não mais se encontra na pose de pensador. A mão que sustentava sua cabeça, encontra-se agora descansando na perna. Ele se inclina para a Negra, como se estivesse dialogando com ela.

Os dois seres entrelaçados possuem cabeças diminutas e sem faces num corpo gigantesco, o que leva à ausência de pensamentos, pois encontram-se na forma primitiva, totalmente ligados às raízes. Eles ganham a vida como fazem as plantas — absorvendo a energia da terra e do sol. À sua palheta nacionalista (verde, amarelo, azul e branco) Tarsila soma o ocre avermelhado que compõe a pele das figuras e que mais se parece com argila.

A união dos dois personagens exclui-os da condição de mito, integrando-os à paisagem. Ao fundo a artista faz a junção do cactos e do sol, presentes na obra Abaporu, com a bananeira, presente na composição A Negra. Segundo o historiador da arte Rafael Cardoso, “Em Antropofagia as coisas não se transformam, elas apenas são; subsistem, com uma terrível e sólida permanência que as ancora no chão”. Se o homem é visto como o irmão gêmeo do Abaporu, a mulher, por sua vez, traz consigo o seio caído da Negra.

Ficha técnica
Ano: 1929
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 126 x 142 cm
Localização: Acervo da Fundação José e Paulina Nemirovsky, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso
Brazilian Art VII

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Tarsila – ABAPORU

Autoria de Lu Dias Carvalho

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É o homem plantado na terra. (Oswald de Andrade)

Segui apenas uma inspiração sem nunca prever os seus resultados. Abaporu é uma figura solitária monstruosa, pés imensos, sentada em uma planície verde, braço dobrado repousando num joelho, a mão sustentando o peso pena da cabecinha minúscula, em frente a um cacto explodindo uma flor absurda. (Tarsila do Amaral)

A composição Abaporu foi presenteada por Tarsila do Amaral a seu namorado Oswald de Andrade, no dia de seu aniversário, ficando o escritor muito impressionado com a pintura que até então não tinha um nome. Durante as discussões para nominar a obra, Oswald e seu amigo, o poeta Raul Bopp, concluíram que se tratava de um ser de profundas raízes com a terra, ou seja, um antropófago. Ao consultarem o dicionário tupi-guarani do pai de Tarsila, acabaram chegando ao nome de “Abaporu” (Aba: homem; poru: que come) cuja tradução era “homem que come carne humana” ou “homem que come gente”.

Esta obra foi responsável por dar início à Fase Antropofágica de Tarsila. Na composição A Negra, anterior a esta obra, a pintora já mostrava preocupação com suas raízes. Pode-se dizer que as duas obras são parentes, sob o ponto de vista estilístico. Para a artista, este personagem estava relacionado com as histórias, que ouvira em sua infância, contadas pelas pretas velhas da fazenda, onde passou a infância. As pinturas “Abaporu” e A Negra levam em conta o mesmo estilo. Elas se fundem harmoniosamente no quadro Antropofagia, criado em 1929, recebendo o mesmo tratamento no que diz respeito à cor, à superfície e ao fundo da tela, onde se projeta a flora comum à obra da artista, pertencente unicamente a ela.

O tamanho monstruoso do corpo da figura presente em Abaporu, bem além da realidade, em contraponto com sua minúscula cabeça de alfinete, valoriza o trabalho braçal em detrimento do mental. Expressa uma natureza bruta, bem mais forte e dominadora do que o mundo das ideias. Seu pé direito (o esquerdo encontra-se escondido) e mão direita gigantescos mostram a sua ligação com a terra. A figura está posicionada ao lado de um cacto verde-escuro, havendo, entre ela e a planta, um enorme sol que se parece com gomos de laranja ou com uma flor. O personagem e o cacto possuem a mesma origem, pois ambos nascem do mesmo chão, são feitos da mesma matéria, distintos apenas pela cor.

As cores empregadas na composição: céu azul, sol (ou flor) amarelo e mata verde remetem às cores do país. “Tudo ali, sobe à tona como partículas do inconsciente coletivo, tudo vira víscera do Brasil. A bandeira fora desfraldada e vibrava a pleno vento.”, assim se exprime o crítico Roberto Pontual em “Entre Dois Séculos/ Arte Brasileira do Século XX.

O Abaporu inspirou Oswald de Andrade a escrever o Manifesto Antropofágico, cujo movimento tinha como objetivo apreender a cultura europeia, transformando-a em algo tipicamente brasileiro. Trata-se hoje da tela brasileira com maior valor no mercado de arte nacional, e uma das mais importantes produzidas por um artista brasileiro. Foi a pintura mais cara vendida no Brasil, encontrando-se na Argentina.

Explicação de Tarsila sobre a obra (trechos tirados de uma entrevista com a pintora):

Eu quis fazer um quadro que assustasse o Oswald, que fosse uma coisa mesmo fora do comum. O “Abaporu” era aquela figura monstruosa, a cabecinha, o bracinho fino apoiado no cotovelo, aquelas pernas compridas, enormes, e junto tinha um cacto que dava a impressão de um sol, como se fosse também uma flor, e ao mesmo tempo um sol. Quando o Oswald viu o quadro, ficou assustadíssimo e perguntou: “Mas o que é isso? Que coisa extraordinária.” Telefonou para o Raul Bopp e disse: “Venha imediatamente aqui pra você ver uma coisa!” O Bopp assustou-se também e o Oswald disse: “Isso é como se fosse um selvagem, uma coisa do mato”, e o Bopp foi da mesma opinião. Aí eu quis dar um nome selvagem também ao quadro, porque eu tinha um dicionário de Montoia, um padre jesuíta, que dava tudo.

Eu gosto de inventar formas de coisas que eu nunca vi na vida, mas não sabia por que que eu tinha feito o “Abaporu” daquela forma. Eu me perguntava: Mas como é que eu fiz isto? Depois uma amiga me dizia: “Sempre que eu vejo “Abaporu”, eu me lembro de uns pesadelos que eu tenho.”. Então liguei uma coisa a outra, devia ser uma lembrança psíquica ou qualquer coisa assim, e me lembrei de quando éramos crianças na fazenda. Naquele tempo tinha muita facilidade de empregadas, aquelas pretas que trabalhavam para nós na fazenda; depois do jantar elas reuniam a criançada para contar histórias de assombração. Iam contando da assombração que estava no forro da casa, eu tinha muito medo, a gente ficava ouvindo, elas diziam: “Daqui a pouco da abertura vai cair um braço, vai cair uma perna”, e nunca esperávamos cair a cabeça, abríamos a porta correndo e nem queríamos saber de ver cair a assombração inteira. Quem sabe o “Abaporu” é um reflexo disso?

Ficha técnica
Ano: 1928
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 85 x 73 cm
Localização: Acervo do Museo de Arte Latino Americano de Buenso Aires, Fundación Constantini, Argentina

Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha
Tarsila – sua obra e seu tempo/ Aracy A. Amaral
Brazialian Art VII

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Tarsila – SEGUNDA CLASSE

Autoria de Lu Dias Carvalho
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Até então, a pintora Tarsila do Amaral era dona de uma invejável situação financeira, mas em 1930, com a crise mundial de 1929, ela se viu numa situação precária. Nessa época, vivia com o psiquiatra Osório César. Foi nesse período que conheceu o socialismo de perto, ao fazer uma viagem à União Soviética. Ao regressar, foi presa por um período de um mês, por participar de reuniões de esquerda e por ter feito uma viagem a um país comunista. Para se manter, a artista recebeu encomendas de retratos, fez ilustrações e começou a escrever para jornais.

A ida à União Soviética e o contato com a esquerda despertou em Tarsila, que sempre fizera parte da elite do país, preocupações sociais. Foi nessa época que realizou duas importantes obras: Segunda Classe e Operários.

Nessa fase, chamada de Fase Social, Tarsila passou a questionar os problemas advindos da industrialização e do capitalismo, que geram riquezas, mas não para aqueles que trabalham, pois esses continuam pobres e desesperançados, sem acesso aos bens e à educação.

Na sua composição Segunda Classe, a artista mostra o êxodo rural que se segue, quando as famílias deixam o interior em busca de emprego na cidade grande. Elas vêm de várias regiões do interior do país, trazendo o sonho de emprego, mas também a tristeza dos parentes e amigos deixados para trás e a incerteza de que possam vir a ter uma vida melhor.

Na composição Segunda Classe estão presentes 14 figuras, sendo seis crianças, três homens e cinco mulheres. Todos se mostram tristes e desesperançados. Numa das janelas está uma mulher com um bebê e na outra um homem mais idoso, de barba.

Atrás da família, já fora do trem, composta por 11 personagens, está o vagão de segunda classe que a trouxe. Com exceção daquela que parece a mais velha da família, que se encontra no meio do grupo, segurando uma criança vestida de branco, as demais mulheres parecem querer se esconder atrás dos homens. As crianças, por sua vez, mostram-se tímidas e amedrontadas. Todos parecem se perguntar sobre o que a vida lhes aguarda nesse novo mundo, tão diferente daquilo que viveram até então.

Ficha técnica: 1933
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 110 x 151 cm
Localização: coleção particular, São Paulo, Brasil

 Fonte de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha

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