Arquivo da categoria: Saúde Mental

Fórum para debate sobre problemas de saúde mental, com textos alusivos ao tema.

TRANSTORNO EXPLOSIVO INTERMITENTE

Autoria do Dr. Telmo Diniz

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É recomendado contar até cem para acalmar os ânimos e evitar reações de impulsividade. Porém, existem pessoas que só conhecem os primeiros números. Vários de nós podem ter um dia ou outro de piora no estado de humor. Entretanto, o popular “pavio curto” ou aquele “esquentadinho” pode estar sofrendo de uma doença psiquiátrica conhecida por Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), que afeta cerca de 3% dos brasileiros. Os primeiros sintomas aparecem na adolescência e diminuem a partir dos 60 anos. Entre os que sofrem do transtorno, 70% são do sexo masculino.

O TEI está na lista das doenças dos impulsos. A característica do transtorno é que a explosão da pessoa é desproporcional às situações que as motivaram. Sem conseguir se controlar, o indivíduo grita, xinga, bate, atira objetos, quebra etc. Por causa disso, muitas vezes, a pessoa acaba tendo problemas de relacionamento na família, no seu meio social e no trabalho. São pessoas sempre dispostas a “brigar por pouca coisa” e estão sempre “preparadas para guerra”. Não é qualquer sinal de raiva que indica o transtorno. Ataques de raiva podem ser um sinal de problemas de personalidade, bipolaridade e/ou depressão. Portanto, o diagnóstico diferencial deve ser feito. Claro que não podemos confundir este transtorno ou outros distúrbios psiquiátricos com “raivas rotineiras”, que eventualmente todos nós passamos, como em uma fechada no trânsito ou com aquele vizinho impertinente e chato por natureza.

Atualmente, o diagnóstico é feito exclusivamente pelo médico ou por psicólogo, a partir do histórico clínico, historia familiar e pelos sintomas associados. Existem critérios bem estabelecidos para caracterizar o transtorno, como o registro de ataques de agressividade em média duas vezes por semana, por um período de três meses, ou a ocorrência de três explosões de fúria envolvendo dano ou destruição de propriedades e/ou agressão física, resultando em lesão corporal contra pessoas, ou mesmo animais domésticos, em um período de um ano. As crises não podem estar relacionadas com abuso de álcool ou drogas. Caso as crises sejam esporádicas, podem ser reflexo de outros distúrbios ou mesmo de um estresse crônico.

A boa notícia é que a irritabilidade pode ser reduzida e “o elástico da tolerância” pode ser melhorado. O tratamento inclui a introdução de medicamentos antidepressivos e/ou estabilizadores de humor associado à terapia cognitivo comportamental, voltada à mudança de hábitos, bem como estímulo à redução do estresse no trabalho e à pratica de exercício físicos. Os resultados são ótimos, desde que haja boa adesão do paciente ao tratamento.

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A DEPRESSÃO PRECISA DE TRATAMENTO

Autoria do Dr. Telmo Diniz

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Quase 20% das pessoas vão apresentar depressão em algum período da vida. Ou seja, de cada dez pessoas, duas irão desenvolver a doença. E, quando o quadro se instala, se não for tratado de forma correta, costuma levar meses para melhorar. Tristeza é sintoma pontual, enquanto depressão tem um leque de sintomas. Portanto, estar triste não significa estar deprimido. Entender as diferenças e suas nuances é importante para sabermos quando a ajuda passa a ser necessária.

A depressão é uma patologia que atinge os mediadores bioquímicos envolvidos na condução dos estímulos através dos neurônios, que possuem prolongamentos que não se tocam. Entre um e outro, há um espaço livre chamado sinapse, absolutamente fundamental para a troca de substâncias químicas, íons e correntes elétricas. Essas substâncias, conhecidas por neurotransmissores, permitem a transmissão dos impulsos elétricos entre os neurônios. Na depressão, há um comprometimento desses neurotransmissores, responsáveis pelo funcionamento normal do cérebro. O mais conhecido e popular deles é a serotonina.

Já a tristeza é um fenômeno normal que faz parte da vida psicológica de todos nós. Depressão é um estado patológico. Existem diferenças bem marcantes entre uma e outra. A tristeza tem duração limitada, enquanto a depressão costuma afetar a pessoa por vários dias, semanas e até meses. Podemos estar tristes porque alguma coisa negativa aconteceu conosco, como a perda de um ente querido. Porém, isso não nos impede de reagir com alegria, se algum estímulo agradável surgir. Além disso, a depressão provoca sintomas como desânimo e falta de interesse por atividades que antes eram prazerosas. É um transtorno que pode vir acompanhado ou não do sentimento de tristeza e prejudica o dia a dia da pessoa, no trabalho e na vida social.

São muitos os sintomas da depressão. Talvez o mais evidente seja o rebaixamento do humor, que se caracteriza pelo humor melandórico, com choro fácil e “sensação de aperto no peito” (que chamamos de angústia), e que vem acompanhado de falta de ânimo e de disposição, incapacidade de sentir prazer em atividades habitualmente agradáveis, alterações do sono e do apetite, pensamentos negativos, desesperança, desamparo, etc. Esses sintomas podem variar em graus de complexidade e, portanto, necessitam de acompanhamento médico e/ou psicológico.

Já na tristeza temos algo “mais palpável”, pois temos um fator identificável (como uma desilusão amorosa, por exemplo). É um estado emocional transitório, tende a resolver por si e não interfere na rotina da pessoa. Portanto, tristeza passa. Depressão vem pra ficar. É doença e necessita de tratamento. Fique atento e procure ajuda aos primeiros sintomas.

Nota: Cinzas, obra de E. Munch

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MENTE OCIOSA TRAZ PENSAMENTOS RUINS

Autoria do Dr. Telmo Diniz

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Entramos no século XXI, trabalhamos numa correria danada e ficamos conectados 24 horas por dia. Queremos mais tempo livre, mas isso está cada vez mais difícil de ser atingido devido às exigências do dia a dia. Quem não deseja curtir o ócio, com a mente vazia e nenhum compromisso na agenda? Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, é a mente ocupada com uma tarefa, mesmo que sem importância, que faz a pessoa ficar mais feliz.

Ao contrário do que muitos pensam e desejam, a mente vazia e o tempo ocioso parecem atrair pensamentos e sentimentos ruins, de acordo com o estudo da universidade norte-americana publicado no jornal da Association for Psychological Science. O sentimento de “mais felicidade” ou mais satisfação aparece quando a pessoa está envolvida com tarefas que lhe tragam a sensação de se sentir produtiva ou, quando a realização da tarefa lhe traz sentimentos positivos. Executar uma tarefa de forma mecânica, automática, ou fazer algo que traz desprazer não afasta as emoções negativas.

O ócio em si não é nem bom nem ruim. Tudo vai depender do estado emocional da pessoa naquele momento. Se ela está ansiosa, tensa, preocupada com algo, o ócio vai colaborar para que ela fique mais ansiosa. Por outro lado, se ela está em paz consigo mesma, ela terá prazer no ócio. É o que podemos chamar de estado de espírito.

A conclusão do estudo é que as pessoas gostam de estar ocupadas, mas apenas se tiverem uma justificativa para isso. Mente ocupada melhora também pessoas com pensamentos negativos. Toda ocupação tem efeito terapêutico. Estamos constantemente pensando. Nesse sentido, aquelas pessoas que vivem ocupadas com pensamentos negativos sentem-se melhores, quando se ocupam, justamente porque ocupam o seu pensamento com outras diretivas. É simples assim!

Tente se ocupar com coisas que lhe deem prazer. Faça algo todos os dias, mesmo que você ache que seja inútil. Parafraseando o poeta português Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Ocupar a mente é uma forma de sair um pouco dos problemas ou da tristeza. Seria algo como um intervalo para fazermos coisas mais prazerosas ou interessantes. Entretanto, a pesquisa também revela que não podemos deixar de lado os momentos de ócio, de contemplação, etc. Enfim, ocupar-se, relaxar e contemplar são facetas da vida e devem ser alternadas entre si para que se mantenha o equilíbrio emocional.

Enfim, quem estiver trabalhando de forma excessiva, com altos níveis de estresse, com problemas de saúde, etc, pense: seu trabalho é um meio de vida ou de morte? Por outro lado, se você já estiver aposentado, sem compromissos para os dias, semanas, meses ou anos, pense: “mente vazia, oficina do diabo”. Trabalhar de forma demasiada ou não fazer nada trazem consigo problemas a médio e longo prazos.

Nota: Obra do pintor brasileiro Di Cavalcanti

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ÔMEGA 3 E A DEPRESSÃO

Autoria do Dr. Telmo Diniz

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) já projetou, através de estudos, que até 2030 a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, superando problemas do coração e o câncer. A depressão será também a doença que mais gerará custos econômicos e sociais para os governos, devido aos gastos com tratamento e às perdas de produção.

São inúmeras as causas da depressão, desde as condições genéticas até as ambientais. Uma causa importante de depressão e que acomete parte da população pode estar ligada a fatores dietéticos, como a falta da ingestão de alimentos ricos em ômega 3.

O ômega 3 é um tipo de ácido graxo de cadeia longa, encontrado em fontes animais e vegetais. Em países desenvolvidos, seu consumo tem mostrado proteger a população contra as doenças cardiovasculares e neurológicas, como o Alzheimer, e psiquiátricas, como a depressão. Estudos epidemiológicos têm mostrado evidências de que o consumo de ácidos graxos ômega 3, ou a ingestão dos mesmos na forma de suplementos, tem um papel importante na depressão. Em estudos cruzados, foi demonstrada uma associação inversa entre o risco de depressão importante e o consumo per capita de óleo de peixe, ou seja, quanto menor o consumo de alimentos ricos em ômega 3 maiores são os casos de depressão.

Estudos mostram-se otimistas no tratamento da depressão e da ansiedade com ácidos graxos ômega 3. Cerca de 60% do cérebro é composto por gordura, sendo o ômega-3 a principal delas. Quando a quantidade de ômega 3 ingerido na dieta é insuficiente, outras gorduras passam a atuar na composição da massa encefálica, originando um desequilíbrio no metabolismo e saúde neuronal. Ou seja, as membranas dos neurônios tornam-se mais rígidas e isso implica em demora na transmissão sináptica, consequentemente, o raciocínio torna-se mais lento e confuso, prejudicando, inclusive, a memória.

Recentemente, um estudo realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP revela que idosos com depressão apresentam baixas concentrações de ômega 3 no organismo. A pouca quantidade desse ácido graxo nos participantes da pesquisa pode estar relacionada à falta de ingestão de alimentos ricos em ômega 3.

Aumentar as quantidades dessa gordura na alimentação tem se mostrado capaz de atenuar os sintomas depressivos. As principais fontes de gordura ômega 3 são:
• os peixes (salmão, linguado, pescada, peixe espada, ostras, sardinha, arenque e atum)
• e as fontes vegetais que estão presentes na linhaça, nas amêndoas, no brócolis etc.

Obs.: Os peixes já têm o ômega 3 “pronto”, enquanto que, nos vegetais, ele tem de ser convertido no organismo da pessoa que o consome. Outra forma é através dos suplementos, que só devem ser utilizados quando prescritos por profissional qualificado.

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SÍNDROME DAS PERNAS INQUIETAS

Autoria do Dr. Telmo Diniz

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Inúmeras pessoas têm uma qualidade ruim de sono e desconhecem as possíveis causas. Um transtorno do sono frequente e pouco conhecido tem o nome de “síndrome das pernas inquietas” (SPI) ou Síndrome de Ekbom. Também são poucos os que a conhecem e que fazem o diagnóstico corretamente. O problema atinge até 5% da população mundial, mas, nos idosos, esse número salta para 10%. Estudos feitos no Canadá e nos Estados Unidos indicam que somente 30% dos portadores são corretamente diagnosticados e tratados.

A maioria dos pacientes acaba sendo tratada como se tivesse ansiedade e/ou depressão e o uso de antidepressivos pode agravar a síndrome das pernas inquietas, ou seja, pode piorar os sintomas. O problema é mais comum em mulheres após os 50 anos. Os idosos são uma população particularmente atingida por este problema.

Os principais sintomas incluem sensação de desconforto e necessidade premente de mover as pernas, desconforto, formigamento, arrepios, pontadas. O principal achado é uma necessidade irresistível de movimentar as pernas (o que se chama de “acatisia” no jargão médico). Várias descrições são feitas para relatar as queixas, como “sensação de formigas subindo na perna” ou “inquietude nas pernas” ou “sensação de queimação” e “repuxões”, entre outros. A intensidade pode variar de leve a grave e diminui com o movimento. Em geral, os sintomas se manifestam à noite e dificultam que a pessoa tenha um sono reparador. Como consequência, no dia seguinte, ela estará sonolenta, cansada e mais propensa a um humor irritadiço. Tipo estopim curto!

Como foi dito, é mais frequente em idosos, mas pode ocorrer em diversas condições clínicas, em especial àquelas que cursam com anemias ferroprivas. As causas são desconhecidas, mas um componente genético foi identificado. O diagnóstico tem a seu favor uma história clínica bem coletada (com uma anamnese bem feita), com alguns exames laboratoriais, incluindo a medida das concentrações de ferro no organismo (como a dosagem de ferro, ferritina e transferrina). O exame de polissonografia pode ser efetuado como complementação diagnóstica.

O tratamento é feito com medicamentos que aumentam a dopamina a nível cerebral até benzodiazepínicos em baixas doses. A decisão caberá ao médico assistente. A suspensão de remédios psicotrópicos, que agravam o quadro, deve ser revista, bem como a interrupção do consumo de substâncias estimulantes (como cafeína e nicotina – que pioram os sintomas). O agravamento pode tornar insuportável a vida do portador da síndrome e do cônjuge. Só o tratamento adequado é capaz de controlar as crises e aliviar os sintomas que, na maior parte das vezes, pioram à noite.

Nota: imagem copiada de sbc-pr.org

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CONFISSÕES DE UMA MENTE DEPRESSIVA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os pensamentos escravizam-me e me fazem sofrer. Deito-me com eles, até que o sono chega, muitas vezes induzido, trazendo um pouco de alívio. Mas mal abro os olhos para o novo dia, lá estão os flageladores, como espiões a me aguardar. Grudam de novo em mim, como se fossem sanguessugas a me sorver qualquer laivo de compreensão dos fatos. Faço mil indagações sem encontrar respostas. Ao contrário, embrenho-me, cada vez mais, numa teia confusa de grudenta inquirição. Há uma incompletude e uma cegueira que não me permitem vislumbrar respostas. Mas eu as quero. Os acontecimentos se parecem com monstros que se avolumam, prestes a me engolir viva. Enfraqueço-me. Desespero-me. Revolto-me. Perco a noção de que toda vida inclui infortúnios e cicatrizes. Ainda assim não me dou por vencida.

Uma faísca de discernimento, repentinamente, toma forma em meio aos pensamentos amotinados. Então, sou capaz de perceber o tamanho do absurdo que abocanha a minha mente. Mas quanto despautério. A conscientização do despropósito torna-me feliz, pois eu me absolvo. Não mais procuro por respostas. Limito-me a rir, pois não se pode lutar contra o absurdo. Ele é assustadoramente inatingível, inepto, desprovido de consciência ou razão. É um nonsense absoluto. Solto as amarras dos pensamentos conflitantes e ávidos por respostas. E me liberto. Embora saiba que tais acontecimentos voltarão a se repetir. Mas não mais me importo. Um dia de cada vez já é o suficiente.

A conscientização da existência do absurdo devolveu-me a felicidade. Não penso como Camus, que a conscientização do despautério “surge da felicidade”. Ao contrário, a felicidade nasce ao se tomar consciência de que certos fatos são destrambelhos sem nexo ou plexo, não merecendo nenhuma relevância. Logo, não há de se cozinhar os miolos para obter respostas, pois elas inexistem. Ao compreender o descompasso da incongruência, eu faço a minha própria redenção.  Meus sentidos tornam-se mais despertos e minhas emoções mais apuradas. A razão, antes fugidia, retoma seu lugar de origem. Eu rio e até lamento por ter gasto tantos neurônios à toa.

Os pensamentos, antes atordoados, agora se voltam para a criação, em busca dos momentos perdidos, com a certeza de que mais cedo ou mais tarde, tudo na natureza se rende ao tempo. Sinto-me incrivelmente bem humorada. Um turbilhão de palavras aflora em minha mente, querendo ser expressas através do verso ou da prosa. É como se esta voragem assumisse a forma da esfinge grega e me dissesse: Decifra-me ou te devoro! Chega de inanição. Os meus dedos mal dão conta de acompanhar no teclado o parir das palavras pela minha mente desgovernada, mas liberta. E, junto com a sensação gostosa de novamente me sentir feliz e em paz, tomo emprestada as palavras atribuídas ao general e cônsul romano Júlio César, em 47 a.C, “Vim, vi, venci!” (Veni, vidi, vici). Só que com uma diferença: eu venci a mim mesma, ao conseguir me desviar do turbilhão prestes a me sugar . Até quando? Não me importa o tempo! Já me basta a luz que ora me ilumina.

Nota: Lady Macbeth Sonâmbula – obra do pintor suíço Johann Heinrich Füssli

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