Autoria do Dr. Telmo Diniz
O culto ao corpo mostra-se como uma característica dos tempos atuais, e encontra-se centrado na busca diária por uma silhueta perfeita, capaz de superar qualquer problema, e corresponder a qualquer expectativa. A busca doentia por formas esculturais pode ter várias causas, como fatores individuais, familiares e culturais; além, é claro, de explicações históricas. Neste sentido, especificamente no Brasil, desde a Independência até os dias atuais, os modelos de beleza têm se modificado e adaptado ao contexto econômico e social. No século XIX, por exemplo, quando a culinária primava pelo alto teor calórico, o padrão corporal feminino desejado era o de formas mais arredondadas. As mais gordinhas eram o padrão aceitável da época. E realmente eram bonitas! Basta olhar os quadros e afrescos da época.
Já a partir dos anos 60, o que observamos é a construção de uma imagem feminina esquálida, materializada nas manequins e modelos, que vêm assumindo contornos cada vez menores. No começo dos anos 80, o incremento da busca pela magreza já era nitidamente percebido. Agora, no final do século XX e início do século XXI, o culto ao corpo perfeito é fato notório. A busca por um corpo sem defeitos é realizada de maneira obsessiva, transformando-se em um estilo de vida, especialmente para as mulheres. O preconceito contra a obesidade é grande, e a magreza é ligada à imagem feminina de sucesso, de competência e de autocontrole.
Pesquisas recentes, realizadas em diversos países, demonstram a existência de uma relação entre o culto ao corpo e os índices de anorexia e bulimia nervosa. A busca por um padrão estético globalizado de magreza, segundo os estudiosos do assunto, tem intrínseca relação com esses transtornos alimentares. No mundo contemporâneo, a globalização e a mídia, em todas as suas formas de expressão, vêm desempenhando, como nunca, papéis na construção deste modelo físico. Personalidades, atrizes e modelos esbeltas, com alta estatura e musculatura definida ditam o ideal corporal que deve ser aceito e seguido. Portanto, são preocupantes os dados sugeridos pelas pesquisas em relação ao alto grau de insatisfação corporal, aos índices de transtornos alimentares, à obesidade, a comportamentos alimentares de risco e ao uso de medicamentos anorexígenos e laxantes, em idades cada vez mais jovens.
Entendo que os cuidados com o corpo são importantes e essenciais não apenas no que se refere à saúde, mas também nas exigências da sociedade. O problema reside na propagação de um ideal inatingível, bem como em culpar o indivíduo que não atingiu este ideal. Acredito que a família, os profissionais da saúde e os educadores devem estar atentos aos nossos jovens, estabelecendo continuamente um clima de diálogo, informando o risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares. Devemos também estimular e valorizar, nas crianças e adolescentes, outros valores que não o ideal doentio de beleza. Se pudesse dar um conselho seria para não se preocupar com a perfeição, pois você nunca irá consegui-la.
Nota: Depois do Banho, obra de Renoir, imagem à esquerda; modelo, imagem à direita.
Dr. Telmo
“…Se pudesse dar um conselho seria para não se preocupar com a perfeição, pois você nunca irá consegui-la…”
A maioria das pessoas é sugestionável, como se todos fossem amarrados pelo cordão da verdade do outro. Há uma obsessão pela forma perfeita que sacrifícios exige. Muitos, com certeza! Lá no passado, como moda e agradável era a mulher (principalmente a mulher) que tinha coxas roliças, cintura não tão fina, farto busto e era a sensação e o ideal de beleza. Hoje são esquálidas personagens andando, como se vagueassem pela sombra e essa sombra, como ideal de beleza. Pura tolice!
O número de distúrbios para a busca do corpo perfeito fez-se notar e assusta. De alguma forma, entrei nesse jogo num período curtíssimo, mas estive à beira do colapso, pois uns quilinhos a mais me puseram na lona. E os havia conseguido pela excessiva ansiedade, comia e engordava. No meu caso foi por pouco tempo, pois sou uma das descendentes europeias desbundadas que não engordam nem se colocadas no processo de ceva. O padrão ideal de beleza é algo tão complexo de entender e custa muito às pessoas a não aceitação própria. Igualar-se num mundo em que um termômetro (fino e com uma gravatinha vermelha) é o que nos jogam na cara, literalmente, como sendo o ideal.
A aceitação de si próprio deveria ir além do que querem a estética e a moda. Aceitar-se é confortante. Obviamente, o maluco que exagera na comida, como se amanhã um meteoro fosse atingir a Terra é um provável doente e não nos cabe julgá-lo, pois sabe que se mata aos poucos. Mas não podemos julgá-lo. Feio por ser gordo? Quem disse? Feio é ser vítima de padrões, se esses impuserem algo que não nos traz proveito. Hoje criam-se roupas para tamanhos maiores e já há uma certa aceitação de que nem todos precisam ser magérrimos. Convenhamos que a magreza, segurando – ou suportando – nádegas à custa de muita malhação, ou com mais dinheiro, a utilização de procedimentos cirúrgicos e implantação de silicones e o que mais haja à disposição, deixa o que seria agradável, um assombro! Um corpo natural, com suas estrias, mas harmonicamente combinando com uma postura correta de ombros, cabeça e peito são charme puro e particularmente nos diferencia.
Adolescentes precisam de grupos, aceitação, têm momentos confusos, mas isso é próprio e natural da fase. Passará! Ruim é ver adultos na busca por essa tal perfeição que não leva ninguém a lugar algum, exceto para autoafirmar-se. Tudo maluquice! Essa fase do tipo perfeito passará seja por ter acabado a tal “moda” ou pela cansaço em carregar trilhões de quilos para ganhar definição de músculos que na velhice já não surtirão efeito algum. Uma alimentação equilibrada é necessária e não é luxo. Exercícios são importantes (confesso que não os pratico mais), mas limitar-se a ser o que o mundo vê como perfeito é angustiante! Não gosto de palitos. Pior se esses palitos exibirem “bolotas”, ranhuras (que chamam de tanquinho) e que as mulheres acham serem possíveis com muita malhação. Sim, será com muita malhação, alguma ingestão de algo que não fará tão, respeitem-se as diferenças. Na juventude, o abdômen pode ser perfeito. Passem-se os anos e quero ver uma mulher com barriga de 18 anos. Vai suar! E ao final terá um belo corpo de homem. Outro modismo ou mais uma das loucuras que atinge o mundo e sua população ávida por novidades?
Excelente artigo que aborda um tema bem atual e que descamba para o suicídio coletivo dos que não se enquadram nas perfeições que as revistas, cinema e TV não mostram e que alguns, a qualquer custo, tentam seguir. Parabéns!
Lu
Texto excelente! Desesperador ver as nossas filhas jovens focadas única e exclusivamente em fatores estéticos e se esquecendo ou deixando de lado valores tão importantes.
Marília
O Dr. Telmo (que aqui escreve também) é uma pessoa muito sábia. Ele sempre aborda temas corriqueiros, mas de grande importância para nossa vida. A ditadura da moda, exigindo que se seja assim ou assado, pesa muito sobre nossos jovens que parecem cada vez mais alienados. Penso que seja também um modo de preencher o vazio existencial que vem tomando conta de nosso tempo, época em que os valores éticos são cada vez mais ignorados. Pobre juventude, cada vez mais sem esperança neste país tão despedaçado.
Amiguinha, gostei muito de contar com a sua participação. Você é uma pessoa muito especial!
Abraços,
Lu
Lu,
o artigo é muito bom. Parabéns ao Dr. Telmo. A gente tem que aprender a por os pés na balança e não chorar.
TT
Agradeço a sua participação.
Abraços,
Lu
Oi, Lu
Os homens suas futilidades e seus falsos padrões. Onde vamos chegar? Nosso corpo deve e merece ser muito bem cuidado para que tenhamos qualidade de vida não importa qual seja sua forma ou cor. A imagem de um corpo perfeito foi criada pela ilusão do homem, que adora cultivar formas e modelos. No ritmo que a humanidade caminha este conceito ainda perdurará por muito tempo. Cabe a nós, conscientes de padrões distorcidos, passarmos aos jovens, crianças e até adultos, o quanto somos vulneráveis e frágeis.
Beijos
Patrícia
A grande maioria das mulheres vivem apenas para agradar o sexo masculino, sem jamais se preocupar com o bom senso. Como sabiamente coloca você, devemos nos preocupar é com a qualidade de vida, ou seja, possuir um corpo saudável, que nos possibilite viver melhor, pois o resto é puro modismo, padrões distorcidos…
Beijos,
Lu
Oi, LU
As pessoas estão sem opinião e sem autocrítica. Infelizmente seguem padrões impostos por uma mídia vazia.
Beijos
Beth
É a mais pura verdade. As pessoas contentam-se apenas com as aparências, e perdem a noção do ridículo.
Abraços,
Lu
Estamos entre dois opostos: a ditadura da moda,que exige modelos altos e magros.
Por outro lado,as tristes celebridades exibindo corpos sarados e “popozudas”
Uma futilidade só.
Abraços
Matê.
Matê
É realmente triste ver o comportamento das celebridades, que são vistas como modelos para adolescentes e para as “cabeças de vento”.
Abraços,
Lu
Oi, Lu. É uma pena que a busca por corpos perfeitos não se estenda para boas leituras e comportamentos mais éticos. Seria, no bom sentido, um esforço mais válido. A busca pela saúde e não simplesmente pela estética.
Beijos,
Glaucia.
Glaucia
Você está coberta de razão.
Mas boa leitura e comportamentos éticos “dão trabalho”.
Beijos,
Lu