EXISTE LIVRE-ARBÍTRIO?

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Autoria de Lu Dias Carvalho

cerebro 

Nossas decisões são programadas automaticamente a partir do que trazemos em nossa carga genética e das experiências de vida que tivemos. Quando uma questão chega à nossa consciência, ela já havia sido previamente decidida em uma parte de nossa mente a que não tivemos acesso. (Michael Gazzaniga)

Você pode pensar que fez escolhas, mas sua decisão tanto de ler este texto quanto de comer ovos ou pão no café da manhã foi tomada bem antes de você pensar sobre isso. (Jerry Coyne)

Os que creem na liberdade de escolha aprendem a lidar melhor com as próprias emoções e são mais caridosos. (Thomas Nadelhoffer)

O risco, quando não se crê na liberdade de escolha, está na punição, ao produzir uma obediência externa, mas não uma consciência ética interna, reflexiva. (Ranato Janine Ribeiro)

Essa não! Eu que pensava ser dona absoluta das minhas ações e agora vem a dona neurociência dizer-me que não é bem assim, que nenhuma escolha é livre e consciente e, portanto, não existe livre-arbítrio. Estou embasbacada! Quer dizer então que o meu cérebro é o senhor absoluto das minhas vontades, ou melhor, das vontades dele. E pior, ele me engana todo o tempo, de modo que penso estar tomando decisões, fazendo escolhas, quando na verdade ele já as tomou automaticamente, sem a minha permissão. E ainda me dizem por aí que sou responsável pelas minhas ações.

Segundo o neurocientista Michael Gazzaniga, professor da Universidade da Califórnia, apoiado por uma ala de colegas, “o hemisfério esquerdo de nosso cérebro é o responsável por trazer significados às nossas experiências, memórias e fragmentos de informação e, inclusive, às nossas decisões”, criando explicações para tudo que nos acontece, mas a função de deliberação cabe ao hemisfério direito de nosso cérebro, “onde estão gravadas as informações genéticas e de vivências anteriores, sendo a escolha feita por base em padrões já existentes”. É demais!

O nosso hemisfério esquerdo, responsável por dar sentido ao que fazemos, também é um manipulador. Quantas vezes já compramos algo de que não necessitamos, mas uma desculpa qualquer acalma a nossa aflição de estar gastando desnecessariamente. Seria a razão ou nosso cérebro espertíssimo? Quer dizer que, quando nasci, minha massa cinzenta já estava toda programada, geneticamente falando? Ou que trago uma programação daquilo que viveram várias gerações de meus antepassados, além de plagiar o comportamento de meus genitores e de outras pessoas ligadas a mim, como bagagem para minhas escolhas? Quer dizer que eu já tinha um computador, antes de comprar o meu notebook? Confesso que estou ficando abilolada.

E eu, que sempre lutei para fazer tudo com o máximo de consciência, medindo e remedindo minhas ações, refletindo sobre minhas decisões e coisa e tal, e agora a neurociência vem me dizer que “O cérebro guia o comportamento de maneira conveniente. Não importa se a consciência está envolvida na tomada de decisão. E na maior parte do tempo, ela não está.”. Ou seja, meu cérebro sabe o porquê de ter tomado essa ou aquela decisão, enquanto eu fico boiando na minha santa ignorância. Eu cá tentando me explicar e o danadinho rindo de mim, por cima.

Calma meu caro leitor, nem todo neurocientista está de acordo com o fato de não termos o livre-arbítrio, alegando que muitas experiências e estudos ainda precisam ser feitos. Assim, Santo Agostinho, que foi o primeiro a propagar o livre-arbítrio, defendendo que Deus criou o homem livre, com direito às suas próprias escolhas, continua em alta. E isso para o bem da vida humana. Imagine o leitor, se de uma hora para outra, ficasse realmente provado que o homem é teleguiado pelo cérebro e, portanto, incapaz de fazer escolhas… Haveria um tsunami na vida da humanidade. As religiões naufragariam sem o chamado “pecado”. As leis tornar-se-iam inviáveis. A justiça estaria totalmente desfocada. As pessoas não se sentiriam responsáveis por suas ações. Haveria apenas vítimas. Em lugar de cadeias, haveria apenas clínicas de tratamento, pois os indivíduos não responderiam por suas ações, sendo vistos como doentes, reféns do próprio cérebro.

O pesquisador da neurociência, Michael Gazzanig, responsável pela crença de que o livre-arbítrio não existe, alivia minhas preocupações:

– Embora nossa consciência não esteja no comando como pensávamos, nosso cérebro automático é capaz de aprender regras sociais. Inclusive, elas ajudam a criar as experiências que vão proporcionar as nossas decisões futuras, mesmo que elas sejam automáticas.

Ah! Ainda bem!

Fonte de pesquisa:
Revista Galileu/ Abril de 2013

Nota: Imagem copiada de tribunadonorte.com.br

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10 comentaram em “EXISTE LIVRE-ARBÍTRIO?

  1. Patricia

    Ei Lu!

    Informação nunca é demais. Gosto de ler estudos relacionados a nossa existência principalmente de cientistas, mas há controvérsias.
    Dizer que o homem não é livre para suas escolhas seria o mesmo que voltar a viver no tempo das cavernas.
    Espiritualmente falando, estudos dizem que trazemos em nossos “gens”, que herdamos e somos sujeitos a repetir atos do passado. No meu entendimento é contraditório, se nascemos para evoluir, repetir erros seria um atraso.
    Continuarei a estudar sobre o assunto e, até provarem o contrário, a minha filosofia de vida continua a mesma.

    Bjos.

    Responder
    1. LuDiasBH

      Pat

      Você já pensou como seria o mundo, se não existisse o livre-arbítrio?
      Já não tem sido fácil ver com a certeza de que ele existe.
      O ideal é que o ser humano possa evoluir sempre, como bem explica você.
      Caso contrário esta nossa vida seria muito louca.
      Concordo com você.

      Beijos,

      Lu

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  2. Matê

    Se a moda pega, acabaria o conceito de livre-arbítrio.
    Para ser coerente, teria de retirar a palavra “livre”
    e deixar só arbítrio.
    Abraço
    Matê

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Matê

      As pessoas já estão virando o mundo de pernas pro ar, imagine se acaba a crença no livre-arbítrio…
      E, quando a ética acaba, de certa forma o livre-arbítrio também vai pro brejo.
      E há muito já estamos sem ela.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  3. Manoel Matos

    Lu

    Fiquei balançado com o artigo. Espero que os neurocientistas estejam enganados. Seria uma catástrofe a humanidade sem o livre-arbítrio.

    Beijos

    Nel

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Nel

      Isso é verdade!
      Com a crença de que existe o livre-arbítrio a humanidade já está de pernas pro ar, imagine sem.
      Você tem toda a razão.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  4. Terezinha

    Lu querida,
    Penso como o Mário. Embora esteja ciente de que raízes culturais pesam na nossa formação. No entanto, temos uma vida inteira para formar nossa bagagem cultural e de conhecimento. Tudo isso atua com nossas raízes. Agora, que é difícil nadar contra a maré…Isto é.
    Beijo,
    TT

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      TT

      Depois das descobertas de que o DNA do alcoólatra já traz a raiz do alcoolismo, assim como acontece com outras doenças, fica difícil esquecer a bagagem que carregamos.
      Mas esperemos que a Ciência traga para nós mais respostas.

      Beijos,

      Lu

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  5. LuDiasBH

    Mário

    Eu ando muito confusa com tantas descobertas que a ciência vem nos trazendo.
    Tenho muito apreço pelos filósofos, mas não me prendo a nenhum.
    As opiniões vão mudando de acordo com o tempo e as invenções científicas.
    Imagine Nietzsche vivendo nos dias de hoje…
    Com certeza reformularia muitos de seus pensamentos.
    Isso aconteceria com todos eles.

    Penso que a neurociência veio para ficar.
    Ela tem feito descobertas importantíssimas.

    Nós somos deuses, mas, na maioria das vezes agimos com tanta ignorância, que mais parecemos demônios.

    Grande abraço,

    Lu

    Responder
  6. Mário Mendonça

    Lu Dias

    É uma tremenda controvérsia, temos livre arbítrio sim, podemos fazer o que quisermos.

    Infelizmente não fazmos, porque estamos presos a doutrinas que foram introduzidas e as seguimos como um efeito manada.

    No canal AXN esta passando uma série interessante chamada Hannibal (aquele do canibal) e os diálogos psíquicos sobre a mente desmascaram esses pseudos neurocientistas que acham que não possuímos a famosa liberdade “Niestzchiana”….

    Somos deuses presos a dogmas e doutrinas e quando alguns se libertam, são tratados como “dementes” ou fora do status quo…

    Abração

    Mário Mendonça

    Responder

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