Autoria de Lu Dias Carvalho
Bosch… o descobridor do inconsciente. (Carl Jung)
O Inferno Musical situa-se na janela direita do Tríptico do Jardim das Delícias. Representa os castigos a que estarão sujeitos homens e mulheres, se não se enveredarem no caminho do bem, afastando-se dos pecados. Hieronymus Bosch apresenta um mundo onírico, demoníaco, opressivo, de incontáveis tormentos, onde estão presentes o fogo e o gelo.
A presença de vários instrumentos musicais, símbolos tradicionais do amor e da luxúria, usados pelos seres satânicos, dão nome à pintura. Para quem não sabe, a diversão era tida como um caminho para o pecado, à época de Bosch. Portanto, na pintura, os instrumentos musicais são transformados em instrumentos de tortura.
Logo no alto do painel, uma cidade está sendo consumida pelo fogo, enquanto uma atmosfera sulfurosa remete à visão que se imagina do Inferno. Logo abaixo, vê-se um símbolo fálico em forma de tanque de guerra, composto por uma lâmina e duas orelhas. Na faca está escrita a letra M. A origem de tal letra aventa várias explicações. Uma delas sugere que representa a palavra “mundus”. E, logo abaixo, são mostradas as barbaridades da guerra, com a punição dos condenados.
Dentre os elementos figurativos presentes na composição estão o vaso e a lanterna, que simbolizam o sexo feminino, enquanto as facas e os calçados são emblemas do sexo masculino. O ato de subir escadas é representativo, muitas vezes, da relação sexual.
No canto inferior da composição, um monstro híbrido, semelhante a uma ave gigantesca, está assentado sobre um trono, em pose autoritária, devorando os miseráveis sofredores e defecando-os num poço de excrementos. Castigo dado àqueles que se escravizaram pelo pecado da gula. Um enorme caldeirão serve de capacete para o ser infernal. Abaixo do trono do monstro, um homem vomita e outro defeca moedas, simbolizando a avidez pelo dinheiro. Sob o manto do monstro, uma mulher é acossada por um diabo em forma de árvore, tendo ela que olhar sua imagem refletida nas nádegas desse, que lhe serve de espelho.
No canto inferior esquerdo da composição, um porco com um véu de freira está abraçado a um homem, enquanto uma criatura de armadura, em frente, observa os dois. O animal parece estar falando ao ouvido do homem, que tem sobre a perna esquerda um testamento, seduzindo-o para que doe seus bens à Igreja. Bosch parece querer mostrar a ganância da Igreja, muito mais comprometida com o poder temporal do que com o divino, fato que vemos assumir formas assustadoras nos dias de hoje.
Bem no centro da composição, está o homem-árvore, parte homem, parte árvore e parte ovo, que olha diretamente para o observador. Seus braços são como troncos de árvore e estão descansando sobre barcas. O tórax está aberto e oco, e no seu interior há mais seres estranhos. Encontra-se dentro de um lago gelado, sobre o qual patinam alguns condenados, enquanto o gelo se quebra. A cabeça do monstro serve de base para um alvo (um disco) e para uma gaita de foles cor de rosa, que representam o masculino e o feminino, respectivamente. Em volta de tais objetos circulam bruxas, demônios e pecantes.
Vejamos algumas cenas:
- um homem sangrando é carregado numa vara por um coelho, enquanto de sua barriga o sangue jorra com força, como numa explosão;
- uma figura nua está amarrada a um alaúde;
- uma figura está presa nas cordas de uma enorme harpa;
- uma figura foi enfiada dentro de um instrumento de sopro;
- um homem, sobre um tambor azul, tem enfiado no ânus uma flauta, enquanto dois outros estão colocados dentro do tambor;
- dois animais estraçalham um corpo, etc.
- do ânus da figura engolida pelo monstro sentado na cadeira saem pássaros negros;
- uma mulher com um dado na cabeça faz menção aos jogos de azar, etc.
As obras de Bosch continuam difíceis de serem explicadas, pois grande parte da simbologia medieval ainda continua desconhecida.
Ficha técnica:
Data: 1480 – 1490
Tipo: óleo sobre madeira
Dimensões: 220 x 97 cm
Localização: Museu do Prado, Madri
Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante
Bosch/ Tachen
Grandes pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
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Realmente apocalípctico!
Márcio
Haja criatividade! O que a religião não era capaz de fazer a um homem. Em muitos casos Bosch é tão moderno quanto certos pregadores nos dias de hoje.
Agradeço a sua visita e comentário. Volte mais vezes.
Abraços,
Lu