Autoria de Lu Dias Carvalho
Roda mundo, roda gigante/ Rodamoinho, roda pião/ O tempo rodou num instante/ Nas voltas do meu coração. (Chico Buarque)
Por mais que se anuncie a desgraça, nossa mente minimiza-a, como uma forma de jogar-nos para frente, pois, enquanto se está vivo, a luta deve prosseguir. Bendita sabedoria da mente, que age no intuito de preservar nossa vida, mostrando que somente os mortos jazem tombados, sem ação. Se vivos, temos muito a fazer, e nada ou ninguém pode jogar por terra nossos anseios, sonhos e vontades. Eu sei disso! E como sei! Já vivi muitas lutas! Tombei e levantei-me ainda mais pertinaz, confiante na minha capacidade de ação. É fato que “Tem dias que a gente se sente/ Como quem partiu ou morreu”. E estupefato e desnorteado pergunta-se: “A gente estancou de repente/ Ou foi o mundo então que cresceu”. E indaga se vale a pena tanta peleja. Mas como vale! Nossos direitos somente serão conquistados na colisão. Eles não nos darão de graça, pois somos o baluarte do capital selvagem e desenfreado que nos sufoca.
Como compreender que nós, que construímos diariamente esta nação, modelando a massa com nossas mãos calejadas, somos capazes de desmentir duas ciências exatas: a matemática e a física que apregoam que, quanto maior é o conjunto, mais forte e coeso ele se torna. Uma vara de marmelo é fácil de ser dobrada e quebrada, mas um feixe delas não se dobra e nem se quebra, a não ser sob a força bruta de possantes máquinas. Nós, os operários de mãos cheias de calosidades, responsáveis pelas mais diferentes funções, somos a grande maioria do povo que constitui esta nação. Contudo, não passamos de servos dos donos do capital. Mas “A gente quer ter voz ativa/ No nosso destino mandar/ Mas eis que chega a roda-viva/ E carrega o destino para lá”. Precisamos ir em busca deste destino, onde quer que esteja. Ele é nosso por direito. Não podemos deixá-lo ser usurpado por quem apenas dá as ordens.
Desde a descoberta deste país, chamado pelos índigenas de Pindorama (Terra das Palmeiras), e finalmente de Brasil, o povo humilde, composto por índios, negros, brancos e suas misturas raciais, tem se dobrado sob a mão ferrenha do capital. É fato que “A gente vai contra a corrente/ Até não poder resistir/ Na volta do barco é que sente/ O quanto deixou de cumprir”. Por mais que rememos contra as bravias torrentes, tantos outros de nós dormitam em suas redes. E por isso deixamos nossa peleja inacabada, não por nossa vontade, mas por não contar com a força daqueles que julgaram desnecessária a participação na luta. Eles nem se apercebem de que “Faz tempo que a gente cultiva/ A mais linda roseira que há/ Mas eis que chega a roda-viva/ E carrega a roseira pra lá”. E todas as roseiras continuarão a morrer, enquanto todos que vivem sob a ditadura dos capitalistas não se derem as mãos na batalha por uma mesma causa.
Vivemos tempos tristes e enevoados em que “A roda da saia, a mulata/ Não quer mais rodar, não senhor”, e o poeta diz “Não posso fazer serenata”, enquanto os sambistas apregoam que “A roda de samba acabou”. E os artistas e intelectuais comprometidos com o destino sofrido do povão, servos do capitalismo selvagem, bradam: “A gente toma a iniciativa/ Viola na rua, a cantar/ Mas eis que chega a roda-viva/ E carrega a viola pra lá”. A viola é o símbolo da luta e da esperança. Ainda que seja atirada ao léu pela roda-viva da prepotência, do desprezo às leis, do despotismo e da opressão, nós haveremos de resistir, até mesmo para dar sentido à nossa própria vida.
Temos conhecimento de que, desde que nosso Brasil foi encontrado, há mais de 500 anos atrás, nossos anseios por um país melhor, mais justo e mais humano vêm sendo espezinhado. E que “O samba, a viola, a roseira/ Um dia a fogueira queimou”. E que essa mesma fogueira acesa pela vaidade dos poderosos continua a queimá-los. E a gente conclui que o fato de ter sonhado com um país melhor, onde todos possam viver com dignidade “Foi tudo ilusão passageira/ Que a brisa primeira levou”. Mas apesar de saber que “No peito a saudade cativa/ Faz força pro tempo parar/ Mas eis que chega a roda-viva/ E carrega a saudade pra lá”, não podemos entregar os pontos. Precisamos lutar com indignação contra essa roda-viva dos mesquinhos e agigantados que nos querem servis, cativos e sem voz, porque “Amanhã vai ser outro dia!”.
Obs.: ouçam a música: RODA-VIVA
Nota: Operários, obra de Tarsila do Amaral
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Lu
Como é desolador observar a multidão indo para o abate, Lu. Povo manipulado, lobotomizado que vislumbra nos usurpadores de voto a salvação da pátria. Como dói assistir nossa tão frágil democracia sendo amordaçada. Quantos Rubens Paiva, Marighellas, Herzogs, teriam que ter morrido para acordar uma nação sonolenta e servil. Ou foi tudo em vão?
Leila
Nada como o tempo para mostrar a misogenia em relação a uma mulher democraticamente eleita. Sempre acreditei na lei da ação e da reação. Nada fica impune. Aguardemos! E não precisará de muito tempo. Soube agora que a bancada BBB (Bíblia, Boi e Bala) está tramando para que o Cunha não caia, mas que apenas perca o cargo de presidente da Câmara, enquanto o STJ dorme em berço esplêndio.
Abraços,
Lu