Autoria de Lu Dias Carvalho
Joenilson Mendes, com a crise que se instalara em seu país, e que acabara por roubar-lhe o emprego de garçom, pois seu patrão britânico fechara o restaurante, resolveu ir para o estrangeiro, mais especificamente para Londres, levando uma carta de indicação do ex-chefe. Nos seis anos que com ele trabalhara, aprendeu um pouco da língua inglesa, que dava para o gasto. Na capital britânica foi trabalhar com certa Lady Katharine, Katy para os íntimos e Madam Pence para os criados. Ali, até os cachorros andavam rígidos, tamanha era a empáfia da família, gente que dizia ter sangue azul nas veias.
Na segunda semana na casa de Madam Pence, Joenilson sentiu uma saudade danada de doída de seu país. Sorrateiramente bebeu dois dedos de Whisky Dalmore King Alexander III, na falta de uma caninha, e pôs-se a sambar. Isso foi o bastante para que o mordomo de Lady Katharine, um tal de Mr. Thompson chamasse sua atenção. Mas ele logo se explicou: “Na minha casa todo mundo é bamba/ Todo mundo bebe, todo mundo samba”. O empertigado funcionário não tardou em levar o fato aos ouvidos grã-finos de Madam Pence, que veio quente em cima do rapaz. A resposta já estava na ponta da língua: “Na minha casa não tem bola pra vizinha/ Não se fala do alheio, nem se liga pra candinha/ Na minha casa ninguém liga para intriga/ Todo mundo xinga, todo mundo briga”.
Lady Katharine ficou temerosa de botar Joenilson no olho da rua, pois o moço era de uma cultura ligada à bruxaria, conforme tagarelavam seus criados. Como era muito supersticiosa, pediu ao mordomo que conversasse com o brasileiro, com jeitinho, para descobrir se ele mexia com magia negra. Mal o dito pronunciou a palavra “macumba”, Joenilson foi logo abrindo o verbo: “Macumba lá na minha casa/ Tem galinha preta, azeite de dendê/ Mas ladainha lá na minha casa/ Tem reza bonitinha e canjiquinha pra comer”. E completou, deixando o mordomo ainda mais aturdido: “Se tem alguém aflito/ Todo mundo chora, todo mundo sofre? Mas logo se reza pra São Benedito/ Pra Nossa Senhora e pra Santo Onofre”.
Mr. Thompson saiu em disparada para contar à Madam Pence tudo que ouvira. Enquanto isso, Joenilson foi até o Whisky Dalmore King Alexander III e tomou mais uma boa talagada, e continuou dançando, dessa vez cantarolando um animado samba: “Mas, se tem alguém cantando/ Todo mundo canta, todo mundo dança/ Todo mundo samba e ninguém se cansa/ Pois minha casa é casa de bamba”.
Obs.: Clique no link abaixo para ouvir:
CASA DE BAMBA
Nota: ilustração copiada do blog Cantinho Literário do Zé Pilintra.
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