A Índia é o segundo país mais populoso do mundo, ficando atrás apenas da China. Além de possuir tantas criaturas em seu espaço, que corresponde a 1/3 do território brasileiro, existe no país uma grande pobreza, sem dúvida alguma fomentada pela divisão de castas. As ruas das cidades são infestadas por hordas de miseráveis atrás dos turistas, em busca de esmolas. O mais paradoxal, contudo, é que a cultura indiana sedimenta-se na “pureza”. E, por isso, de um lado ficam os “puros” e do outro os “poluídos”. E de que lado poderia vir a “poluição” senão dos pobres e miseráveis? Esse é um jeito muito bizarro, para não dizer perverso, de dividir um país entre os “bem nascidos” e os “deserdados da sorte”. É verdade que, nas grandes cidades, alguns indivíduos de “castas altas” vêm saindo a campo para combater tal contrassenso, responsável pelo atraso e pela miséria de parte daquele povo.
Como vimos em textos passados, é o nascimento o divisor de águas entre a “degradação” e a “limpidez” tão proclamada pelos indianos que professam o hinduísmo. Unicamente o fato de ter nascido nessa ou naquela família, ou herdado esse ou aquele sobrenome, meleca a vida do sujeito para sempre ou o torna um privilegiado. A origem do indivíduo faz-se presente, sobretudo, na divisão de trabalho, o que fortalece ainda mais o casteísmo. Imagine você, caro leitor, que para nós ocidentais não faz diferença alguma entre trabalhar num escritório, chegar a nossa casa e lavar as louças ou o banheiro. Somos polivalentes, pois fazemos de tudo um pouco. Consideramos que a “pureza” vem da alma, do caráter e da água. Um banhozinho relaxante torna-nos tão puros quanto uma virgem do Monte Olimpo. Tampouco nos importamos se a pessoa é coveiro, curtumeiro ou um artesão de trabalhos em couro.
Os indianos possuem um verdadeiro asco em relação a certos tipos de trabalho que são relegados às castas inferiores ou aos “dalits” (intocáveis). Trabalhar com corpos sem vida é tido como o mais poluente de todos os serviços, ainda que esses pertençam às vacas sagradas do hinduísmo. E o maior contrassenso é que os oprimidos, pertencentes às castas inferiores também oprimem outros, seguindo o princípio da “pureza” numa pirâmide maluca. Os “dalits”, por exemplo, que nem castas possuem, tamanho é o estado de “poluição” que ostentam, discriminam outros “dalits”, de acordo com a sua origem e o trabalho que fazem. Ou seja, alguns são mais “poluídos” do que outros, num verdadeiro disparate, em pleno século XXI. Haja excentricidade!
Segundo a escritora Florência Costa, em seu livro Indianos, escrito em 2012 (ver resenha em LIVROS), existem na Índia mais de 500 mil “dalits” que trabalham limpando latrinas secas (sem água, pois não há sistema hidráulico). Ela assim escreve:
“Diariamente, eles vão de latrina em latrina, nas pequenas cidades, retirando os excrementos, colocados em uma cesta de palha, levada sobre suas cabeças.”.
Os limpadores de latrina, que sequer usam qualquer espécie de proteção, conforme mostra a imagem do texto, e os que cremam corpos à margem dos rios são os mais discriminados dentre os “dalits”, onde uns podem ser ainda mais miseráveis do que outros, numa corrente de injustiças que atravessa os séculos. Eles também se subdividem, escravizam e tiranizam, achando que assim estarão caminhando em direção à purificação tão decantada pelas classes altas.
A essa gente tão espezinhada pelo sistema, só resta uma alternativa: fugir da cadeia de força do casteísmo hinduísta. E isso já vem acontecendo desde os tempos de Gandhi. Milhares de “dalits” estão buscando o islamismo, ou o cristianismo e, principalmente, o budismo como religião. Mesmo assim, ainda existem aqueles que são devotos fanáticos do hinduísmo e acreditam que precisam penar na Terra, para se purificarem das coisas ruins que fizeram em outras vidas, de modo que assim retornarão em castas superiores.
Nota: imagem copiada de blogtriunfo.blogspot.com
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Lu
Quanta crueldade é submeter um ser humano a um trabalho desse, sem nenhum equipamento de segurança. Dá nojo a tal espiritualidade assim como o cocô da latrina.
Abraços
Nel
Nel
Ainda há pessoas que vão para a Índia em busca de espiritualidade.
Será que elas veem isso?
Abraços,
Lu
Ei Lu, é difícil de acreditar que pessoas se submetam a esses tipos de serviço na esperança de uma vida melhor em outra existência. Sabemos que é cultural, mas perante tanta tecnologia e informação, a humilhação, o sofrimento e a maldade ainda prevalecem nesse povo.
Pat
E mais impossível é acreditar que um país desse seja tido como “cheio de espiritualidade”.
As pessoas criam certos títulos e neles acreditam, sem se aterem à racionalidade.
A gente nem sabe o que dizer, diante de tanta crueldade.
Abraços,
Lu