Autoria de Lu Dias Carvalho
A realidade é que os homens e as mulheres jovens têm relações sexuais. Se essas relações são definidas dentro de uma estrutura islâmica, não teremos o perigo da prostituição. (Semanário iraniano “A Esperança da Juventude”)
Se eles são realmente sérios, devem estudar o assunto no âmbito da sexualidade, o controle da natalidade, doenças sexualmente transmissíveis, a moral, a religião e as relações de gênero. (Shahla Haeri sobre os defensores do sigheh)
Deus proibiu o álcool, por isso permitiu o casamento temporário. (Clérigo iraniano)
No Irã, é proibido aos casais ainda não casados, fazerem sexo ou andar de mãos dadas na rua. O descumprimento da regra pode levá-los a serem multados, presos ou açoitados. Contudo, existe uma forma de casamento que joga por terra toda a sisudez moral iraniana: o casamento temporário (sigheh). Para oficializá-lo, o casal só necessita comparecer diante de um mulá. Se a mulher quiser, poderá dizer não, o que implicaria numa série de problemas para sua família, ao desonrar um homem rico com a recusa.
Ao contrário do que desejam as mulheres iranianas, o sigheh não se trata de um casamento vitalício, mas de uma união com um determinado tempo estipulado no contrato, podendo ser de uma hora, uma noite, três meses, etc. Trata-se de arranjos com o intuito de oferecer prazer ao homem, podendo ser renovável, caso a mulher agrade-o. À família dela é oferecida certa quantia em dinheiro, que, se aceita, será paga no ato da assinatura. Se quiser, o garanhão também poderá lhe oferecer joias durante o período em que estiverem juntos. E, sempre que for renovado o sigheh, novo pagamento é feito. É como se fosse um contrato de serviços sexuais. Enquanto no casamento vitalício é a família da moça quem paga o dote, no sigheh dá-se o contrário: ela recebe o preço estipulado em contrato.
Muitas mulheres, que entram no imbróglio do casamento temporário, sonham com a possibilidade de permanecerem com o contratante indefinidamente, coisa dificílima de acontecer, pois, se endinheirado, o sujeito prefere sempre mudar, em busca de carne fresca. Sem falar que os homens ricos só se casam com mulheres de classe alta e virgens, Normalmente, as que aceitam o sigheh são moças pobres, que não podem pagar um dote.
No Irã, as esposas (podem ser em número de quatro) são as responsáveis pelo herdeiro e seus gozam de muitos privilégios, porém, os filhos tidos com a contratada serão tidos como legítimos e sustentados pelo pai, contudo, jamais terão o mesmo status dos gerados pelas esposas vitalícias, sem falar que, mesmo gerando filhos, a mulher tomada em contrato jamais terá direito à herança do genitor, ou qualquer outro direito, podendo vir a esmolar na rua.
Não é honroso para uma família dizer que tem uma filha em sigheh, por isso, muitos contratos são mantidos em sigilo, pois a moça passa a não ser aceita nas chamadas famílias respeitáveis. Muitas vezes, o contratante é totalmente indiferente ao que sua contratada faz durante o dia, que continua a morar na casa dos pais. Somente quando ele a quer, ordena que ela apareça na sua alcova. Um homem rico pode ter várias delas. Acabado o contrato, a mulher fica numa situação lamentável, pois perdeu a virgindade, sendo a condição de virgem exigida para um casamento. Após perder a virgindade, a vida da mulher não mais diz respeito à família quanto às escolhas feitas. Ainda assim, deve fingir que é virgem, pois ninguém constituiria uma família com uma desvirginada.
Antes de ser levada ao contratante pela primeira vez, a garota é encaminhada a um “hammam” (estabelecimento público de banhos) de mulheres, onde tem os pelos depilados e a sobrancelha arqueada, ficando com a pele como a de uma garotinha. Seus pés e mãos são pintados de hena. Trata-se de um banho completo. Faz-se a Grande Ablução com água quente. Em casa é vestida, adornada e tem as sobrancelhas e pálpebras pintadas com Kohl. Ao sair de casa, é coberta com um xador e levada até a casa do futuro amante. Após o primeiro encontro, ela passa a ser banhada, depilada e vestida pelas empregadas do dono da casa. Depois de pronta, é conduzida ao aposento do “venerável” machão, senhor absoluto da vontade de sua nova fêmea, que tudo fará para ter o contrato renovado.
Segundo dizem, a prática xiita do casamento temporário (sigheh) existe desde o tempo de Maomé, quando ele o indicou a seus amigos e soldados. Mas não são todos os iranianos que aceitam o sigheh, considerando-o praticamente como uma forma legal de prostituição, que anuncia que a mulher já não é mais virgem. Alguns preferem o sexo ilícito, se mantido em segredo. Mas diante do desemprego no país, que impossibilita o pagamento do dote, e de uma população muito grande de jovens, os casamentos vêm sendo adiados. Por isso, o sigheh tem sido discutido pelos clérigos como solução, ou seja, a possibilidade de se fazer sexo “legalmente” antes do casamento.
Segundo Shahla Shekat, editor de uma revista mensal feminina de nome Zanan, existem bons motivos para a prática do sigheh:
1- maior liberdade nas relações entre homens e mulheres;
2- a satisfação das necessidades sexuais;
3- acabar com a politização do sexo;
4- permitir que os jovens liberem sua energia, atualmente voltada para as manifestações de rua;
5- acabar com a obsessão do país pela virgindade.
O fato é que no Irã, um homem pode ter quatro esposas permanentes e tantas temporárias quanto desejar, podendo abrir mão do contrato quando bem quiser, mas às mulheres não é dado direito algum, a não ser o da sujeição. E eles ainda dizem que os ocidentais é que são promíscuos. Haja hipocrisia!
Fonte de pesquisa
Os Fios da Fortuna/ Anita Amirrezvani/ Editora Nova Fronteira S.A.
https://www.library.cornell.edu/colldev/mideast/tmpmrig.htm
A Lei do Desejo/ Shahla Haeri (indicação de leitura)
Nota: imagem copiada de www.motherjones.com
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Pagar pra casar e pra ter sexo por uma noite, pra mim isso é outra coisa…
Silvana
Realmente é tudo muito louco!
Beijos,
Lu
O título deste tema diz tudo, é tanta hipocrisia; eu fico a pensar, onde ficam essas jovens que lhes destroem a vida?
No meu país isso não se chama casamento, mas prostituição.
Abraços
Rui Pedro
Lu,
Se Maomé gosta de mé,
Se o pó rola no pé,
Se o pé rela no pó,
Então como Sigheh é assim?
Abraço,
Devas
Devas
Adoro as sua marchinhas!
Quanta safadeza no Sigheh!
Abraços,
Lu
Cara Lu,
É isto ai, a hipocrisia domina as relações sociais no Irã considerando-se a mulher como um objeto que se usa e depois joga fora. A religião islâmica, que é a religião oficial dos países árabes e não árabes como o próprio Irã, é usada como um pretexto do governo para dominar corações e mentes. Não se permite manifestações contra os governos sendo feita uma lavagem cerebral nas crianças desde a mais tenra idade com aulas de religião nas escolas.
O trabalho infantil também é muito utilizado, especialmente com as meninas nas tecelagens de tapetes, devido aos dedos pequenos que permitem a confecção de pontos muito pequenos. É muita hipocrisia ficando os príncipes com a enorme fortuna do petróleo utilizado em proveito próprio e não da população em geral.
Abraços
Geraldo Magela
Magela
O livro com que me presenteou foi muito útil, rendendo este excelente artigo, que põe às claras a hipocrisia iraniana. Que absurdo! E ainda chamam os ocidentais de promíscuos. Fiquei impressionada com o relato da escritora e fiz algumas outras pesquisas sobre o assunto.
O problemas das crianças fazendo tapetes é outro absurdo, escondido debaixo dos pontos e nós. Dá nojo o comportamento desses príncipes muçulmanos e o dos clérigos.
Obrigada, mais uma vez, pelo livro.
Abraços,
Lu