JAPÃO – O QUE É UM BURAKUMIN?

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Autoria de Lu Dias Carvalho

barak

Para a maioria dos leitores, Burakumin é um nome totalmente desconhecido, de modo que não faz a menor ideia de onde vem. Mas não será por muito tempo mais. Portanto, amigos, apertem os cintos e arregalem os olhos. Quem diria?! E se alguém pensa que os párias vivem apenas na Índia, atrelados ao atraso do terceiro mundo, está redondamente enganado. Os Burakumin, também conhecidos como Semmin, Hinin (não-humanos) Eta ou Yotsunin (os que andam de quatro) são os párias japoneses. Como os nossos já conhecidos dalits indianos, também são tidos como impuros e, consequentemente, inferiores, não tendo permissão para se misturar à sociedade “normal”, encontrando-se isolados dentro do próprio país do Sol Nascente.

Numa época em que o mundo tornou-se uma Torre de Babel e que parte da humanidade vive como nômades, é possível imaginarmos que os Burakumin sejam pessoas de outra etnia que não a japonesa. Mas não! Os intocáveis descritos aqui são étnica e culturalmente japoneses, não havendo nada que os diferencie dos demais, a não ser os seus ancestrais. Em 1974 eram por volta de mais de três milhões de almas, já que outras tantas escondem a sua origem, para evitar o preconceito que é violento, sob todos os pontos de vista. Como os Barakumin surgiram? Dizem os historiadores que existem três diferentes versões:

1ª – são descendentes dos aborígenes, povos primitivos do Japão, que foram dominados pelos que chegaram ao país, posteriormente;
2ª – são descendentes de imigrantes filipinos e coreanos;
3ª – são pessoas que, há muitas e muitas gerações passadas, foram encarregadas de matar, limpar e preparar os animais para o consumo. E, com o tempo, também passaram a cuidar dos corpos dos mortos, preparando-os para os funerais. No meio do século XVIII, Atsutane Hirata, o reformador do xintoísmo (religião principal do Japão), escreveu que os Burakumin eram impuros e inferiores, devendo permanecer separados da sociedade e impedidos de entrar nos templos. Decreto cumprido até os dias de hoje!

O xintoísmo já trazia a noção de poluição associada à morte e, com a chegada de outra religião, o budismo, no século VI d.C., reforçando esse mesmo preconceito, assim como a proibição do consumo de certos animais, a situação dos Burakumin só fez complicar. Como parte da segregação, eles passaram a ser mantidos em bairros ou vilas, chamados de “Buraku” (significa “vila” em japonês) e, como no caso dos dalits, totalmente desdenhados pela sociedade, sendo obrigados a viverem isolados e a casarem entre si.

A pergunta que nos vem à mente é: como é possível que, passados tantos séculos, os japoneses ainda conseguem saber quem é um Burakumin? Consta que a lista sobre as famílias dos Burakumin, feita no século VII, vem sendo atualizada por detetives particulares. A seguir, são reproduzidas e vendidas a um grande número de companhias japonesas, que as usam para identificar os Burakumin, de modo a excluí-los dos empregos. Tal listagem, muitas vezes, é consultada por famílias, para conhecerem a origem de seus possíveis novos membros, em caso de casamentos.

Embora tal prática ainda tenha sequência em pleno século XXI, o governo japonês, em 1871, por decreto, transformou os Burakumin em pessoas comuns. Tanto lá como cá, sabemos que sem fornecer os meios para a educação de um povo, torna-se impossível esperar por mudanças de fato. E leis, que ficam somente no papel, são desprezíveis. Por isso, sem ajuda financeira e educação, os Burakumin continuam sendo vistos como Burakumin. Tampouco o xintoísmo e o budismo fizeram algo para mudar a vida dessas pessoas, perpetuando a posição de subalternidade delas, cuja situação pouco mudou nos dias de hoje. Normalmente, os trabalhadores são empregados em empresas que trabalham com carne, pertencentes a pessoas mais pobres. Suas crianças sofrem discriminação nas escolas, onde são chamadas com nomes relacionados a animais. Contudo, os Burakumin legaram à cultura japonesa grandes artistas, criadores do teatro noh , kabuki e kyogen e escritores como Mishima e Kenji Nakagami.

Desde 1980, mais e mais jovens Burakumin vêm se organizando e protestando contra a discriminação social em que vivem. Movimentos com vários objetivos, que vão desde a “libertação” para incentivar a integração, têm tentado pôr um fim à situação.

Nota: Imagem copiada de http://sjnsociologyblog.wordpress.com

Fontes de pesquisa:
 Japão/ Louis Frédérica
http://www.espacoacademico.com.br

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