Autoria de Lu Dias Carvalho
Já não acredito que ainda haja alguma coisa a fazer. O povo é muito incompetente para assuntos concretos; demasiado imbecil neste aspecto. (Paulo Klee)
Klee, já célebre como professor na Bauhaus, em Dessau, também aqui marca presença. Diz a toda gente que lhe corre puro sangue árabe nas veias, mas é um judeu típico da Galícia. (Artigo no Jornal Die Rote Erde)
Este espectro não iria durar muito tempo, garantíamos uns aos outros sem grande convicção. Algumas semanas depois, talvez alguns meses, os alemães terão de voltar à razão e libertar-se deste regime vergonhoso.” (Klaus Mann)
A Academia de Dusseldorfia, onde Klee trabalhava, era tida como uma fortaleza de judeus. Os nazistas fizeram uma busca na casa do artista, enquanto ele e sua esposa Lily estavam fora. Sobre o fato de pedirem certificado de que era ariano, assim se expressou:
“Se me for exigido oficialmente, terei de apresentá-lo. Mas tomar por mim próprio uma iniciativa deste calibre, parece-me um coisa indigna, pois, no caso de ser verdade que sou judeu originário da Galícia, o valor da minha pessoa e das minhas obras não se alterará nem um milímetro. Não tenho o direito de renegar este meu ponto de vista pessoal, segundo o qual um judeu ou um estrangeiro não é, em nada, inferior a um alemão em geral e a um habitante do país, porque senão ficaria de mim uma lembrança muito estranha. Prefiro suportar certras contrariedades a ter de fazer um papel trágico-cômico, esforçando-me por obter benesses dos homens do poder.”.
No dia seguinte a esta declaração do artista, o governo nazista promulgou uma lei que excluía os não-arianos dos postos oficiais, sendo Klee obrigado a apresentar a comprovoção de sua origem para continuar como professor da Academia, mas ainda assim ele foi despedido, pois todos os funcionários “que, devido às suas atividades políticas, não ofereciam a garantia de estarem prontos a servir o Estado sem reservas e em quaisquer circunstâncias” foram jogados no olho da rua pelo regime nazista.
Ao deixar a Alemanha, Klee escreve a seu filho Felix: “[…] sou obrigado a partir. […] Nas últimas semanas envelheci muito, mas não quero que a amargura apodere-se de mim, ou então, que seja uma amargurada eivada de humor”.
A composição Eliminado da Lista é um autorretrato do artista, em que ele se apresenta de olhos fechados e lábios comprimidos, como se estivesse impedido de falar. A parte de trás da cabeça está marcada por um gigantesco X que vai até a testa e a face direita, repassando insegurança, inconformismo e amargura.
O artista fora eliminado de seu posto de professor na Academia, assim como fora eliminado o seu valor como homem e artista na Alemanha daqueles dias. Só lhe restava deixar aquele país, onde vivera por tanto tempo. O homem retratado não estava “eivado de humor”, mas debilidado, fragilizado e decaído por uma grande tristeza e desespero, como se mostra todo homem consciente, diante da brutalidade e da tirania de governos golpistas, capazes de transformar o povo numa massa de imbecis, para atingir seus fins.
Ficha técnica
Ano: 1933
Técnica: óleo sobre papel
Dimensões: 31,5 x 24 cm
Localização: Klee Museum, Berna, Suíça
Fontes de pesquisa
Paul Klee/ Taschen
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