Autoria de Lu Dias Carvalho
Segundo os Evangelhos cristãos, Jesus Cristo reuniu-se com seus doze apóstolos antes de sua morte e ressurreição, para com eles cear. Seria a última refeição compartilhada pelo Mestre e seus discípulos, chamada de a Última Ceia ou de Ceia do Senhor, ou ainda de Ceia Mística. Esse momento tem sido objeto de várias representações ao longo dos tempos, com diferentes artistas, mas nenhum deles foi capaz de rivalizar com Leonardo da Vinci, com sua pintura mural, iniciada em 1495 e provavelmente concluída em 1498.
A Última Ceia está entre as pinturas mais famosas de todos os tempos e é tida como um dos maiores tesouros da humanidade. A sua importância não está no tema, muito comum à época em refeitórios, mas na interpretação que o pintor dá a ele. A pintura retrata um dos momentos mais dramáticos da vida terrena de Jesus, quando anuncia aos apóstolos que será traído por um deles. Enquanto o Mestre mostra-se tranquilo, com os abraços abertos simbolizando aceitação, seus discípulos apresentam-se extremamente estarrecidos. Da esquerda para a direita (sob o ângulo de quem está diante da pintura), estão no primeiro grupo: Bartolomeu, Tiago Menor e André; no segundo: Judas Iscariotes (cabelo branco inclinado contra o suposto João), Simão Pedro e João; Jesus Cristo está ao centro; no terceiro grupo: Tomé, Tiago Maior e Filipe e no quarto grupo estão Mateus, Judas Jésus e Simão Cananeu também conhecido por Simão, o Zelote.
O mural cobre uma das paredes de uma sala que era usada como refeitório pelos monges do mosteiro de Santa Maria delle Gratie em Milão/ Itália. Muitas representações da “última ceia” de Cristo já foram feitas por diversos artistas, mas nenhuma se assemelha em dramaticidade, teatralidade e apreensão como esta. A obra não possui nada de caótico. Os doze discípulos parecem dividir-se naturalmente em grupos de três, sendo ligados por gestos e movimentos.
A Última Ceia foi realizada por Leonardo durante a sua primeira permanência em Milão. É um trabalho pictórico e, sem dúvida, uma das principais obras realizadas pelo pintor. Nele, Leonardo expõe a sua versatilidade e sensibilidade ao captar expressões humanas. Nas outras pinturas renascentistas sobre o mesmo tema, anteriores a esse, os apóstolos encontram-se sentados em torno de uma mesa, enfileirados ao lado de Cristo, durante a Eucaristia, enquanto Judas Iscariotes é representado de costas, separado do grupo. Já no mural de Leonardo, o momento é representado com extrema dramaticidade, sendo bem visíveis as reações de cada um deles. O mestre Da Vinci põe em evidência aquilo que ensinou na teoria: o pintor deve olhar com acuidade as posturas corporais, para melhor exprimir as paixões da alma.
É bem provável que a pintura mural de A Última Ceia tenha sido encomendada por Ludovico Sforza, o Mouro. Nas décadas que se seguiram, após o término dessa obra magistral, ela passou a sofrer grandes danos. Deve-se uma parte de tais perdas às infiltrações de umidade na parede do refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie em que foi feita e outra parte à técnica escolhida por Leonardo que empregou na sua feitura uma têmpera enriquecida por uma base a óleo que, diferentemente do afresco, necessitava de mais tempo para sua execução, técnica essa costumeiramente usada pelo pintor, mas em madeira.
Já se lamentava em 1517 os danos sofridos pela pintura. Em 1556 já se dizia que “não se conseguia ver mais que uma mancha ofuscante” e, em 1642, que “restavam poucos traços das figuras”. A partir do século 18, A Última Ceia passou por constantes restauros. Somente as restaurações documentadas foram oito, no mínimo. A última teve a duração de 22 anos, encerrando-se no ano de 1999.
Diante de tantas reparações sofridas pela A Última Ceia, somos levados a crer que pouco temos da obra original. Segundo os críticos de arte, as maiores modificações aconteceram com as cabeças de Cristo e dos apóstolos, que perderam, sobretudo, a veemência expressiva. Só para se ter uma ideia das mudanças sofridas, nos desenhos de Leonardo, Judas apresenta uma rotação de três quartos, enquanto no mural, encontra-se de perfil. Até mesmo a figura de Cristo aponta diferenças claras na posição e inclinação da cabeça, assim como no perfil.
Ao pintar o mural de A Última Ceia, Leonardo da Vinci fez um estudo rigoroso dos personagens retratados, de modo a extrair deles uma humanidade jamais vista. A disposição dos apóstolos, em grupos de três, em volta de Cristo não é aleatória, mas obedece a uma sequência de divisões, que enseja diversos focos narrativos, com seus corpos em diferentes posturas e com fisionomias diversas. A distância entre eles é pequena, enquanto Cristo, centralizado, simboliza o equilíbrio e o poder do grupo.
Curiosidades:
A obra de Leonardo foi feita na parede do refeitório do convento de Santa Marie delle Grazie, procurando dar a impressão de que havia um prolongamento do ambiente.
- A nova técnica de pintura de afresco, experimentada pelo artista, contribuiu para a degradação da obra, que em pouco tempo começou a trincar e a se desprender da parede.
- Leonardo pintou A Última Ceia, um incrível trabalho, o mais sereno e distante do mundo temporal, durante anos caracterizados por conflitos armados, intrigas, preocupações e emergências. Ele a declarou como concluída, embora eternamente insatisfeito, continuou trabalhando nela.
- A obra foi exposta à vista de todos e contemplada por muitos. Desde então, ele foi considerado um dos primeiros mestres da Itália, senão o primeiro.
- Os artistas vinham de muito longe para analisar, cuidadosamente, a pintura, copiando-a e discutindo-a.
- O rei da França, ao chegar a Milão, acariciou a ideia impossível de remover o afresco da parede para levar para o seu país.
- Durante a sua realização, inúmeras lendas foram tecidas em torno do mestre e seu trabalho.
Ficha técnica:
Data: 1495/1497
Técnica: mista com predominância da têmpera e óleo sobre duas camadas de preparação de gesso aplicadas sobre o reboco (estuque).
Dimensões: 460 x 880 cm
Localização: Refeitório de Santa Maria dele Grazie, Milão, Itália
Fontes de pesquisa:
1000 Obras Primas da Pintura Européia
Grandes Mestres/ Abril Coleções
A História da Arte/ E. H. Gombrich
Endereço para ver a Última Ceia em alta definição:
Ouhttp://www.haltadefinizione.com/galleries.jsptras
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Lu
A famosa arte da “Última Ceia” revela todos os recursos usados pelo artista para retratar o momento solene em que as janelas de fundo com luz externa, as laterais escuras, a posição equilibrada de Jesus ao centro e a inquietude dos apóstolos dão uma enorme força emocional, inserindo o contemplador na própria cena.
Antônio
Essa é realmente uma obra magistral do gênio chamado Leonardo da Vinci. Tudo nela nos leva ao êxtase. Maravilha pura!
Abraços,
Lu
Lo importante es la respuesta del cristiano (y del sabio) al mal, no el anuncio de la traición (Platón, Critón). La última triade platónica muestra el diálogo de Platón (Simposio) con Ficino (De amore commentarium un convivium platonis). La penúltima del lado luminoso dice que el amor es el deseo de la belleza que se perfecciona en Dios.
S. Paz
Amigo
Agradezco su visita al sitio y comentario. Es un placer recibirlo en este espacio.
Abrazos
Lu
Encantado de dialogar con ustedes.
Spaz
É um grande prazer recebê-lo neste espaço. Apareça mais vezes.
Abraços,
Lu
“Você poderia imaginar que cada gesto, expressão e posição dos personagens na Última Ceia de Leonardo da Vinci encobrem o principal símbolo da Cabala?! Finalmente a razão de tanto mistério em torno da obra é revelada de forma clara e ilustrativa. Além de desvendar toda alegoria hermética da secreta filosofia judaica oculta na pintura o autor de Ordem dos Fantasmas surpreendentemente expõe a simplicidade do segredo mais sagrado das filosofias esotéricas: o Santo Graal e o Cálice Sagrado. Diferente de Dan Brown, o autor não vê códigos em Mona Lisa, e sim pictogramas que literalmente revelam sua enigmática identidade! Um livro fascinante, que aguça olhos e ouvidos para percepção dos fantasmas em nós e fora de nós!”
Dê uma olhada na página: ordemdosfantasmas.blogspot.com.br
Se gostar baixe o e-book, é gratuito!
Att. Eucajus
Eucajus
Muito obrigada pelas informações que me passou.
Estava sem internet (problemas na rede) e só agora retomei.
Vou ler o link, sim.
Abraços,
Lu
Lu,
Bonito trabalho sobre a pintura mais famosa de Leonardo da Vinci. Até hoje existem lendas sobre a obra, pois alguns afirmam que Maria Madalena está ao lado direito de Cristo.
Abraço,
Devas.
Devas
É uma pena que o tempo esteja danificando a obra, feita com um material muito frágil.
Existem mesmo, muitas histórias.
Abraços,
Lu
CARA LU,
Muito bonita e explicativa seu texto sobre a famosa pintura ” A ÚLTIMA CEIA”
Pude apreciá-la pessoalmente quando estive em Milão, na primeira vez que fui à Europa.
Atualmente deve-se marcar com antecedência a visita, com dia e hora marcados, admitindo apenas 20 pessoas de cada vez com um tempo limitado.
Estas precauções são para evitar danos à obra, sujeita a um trabalho permanente de restauração e conservação devido à precariedade do mural.
A RAI, RÁDIO E TELEVISÃO ITALIANA, fez um belíssimo filme sobre LEONARDO DA VINCI, que pode ser acessado pelo GOOGLE, com duração de 3 hs e meia, e é muito bem feito. Se puder assista-o que vai apreciar muito.
ABRS DO GERALDO MAGELA
Magela
Realmente é uma pena que uma obra como a de Leonardo possa estar sendo destruída pelo tempo.
Realmente tais cuidados devem ser tomados para preservação do painel.
É uma pena que o Leonardo tenha usado uma técnica tão frágil, em se tratando de uma parede.
Envie-me o nome do filme para que eu possa baixá-lo e também repassá-lo para os leitores.
Deve ser fantástico.
Muito obrigada!
Abraços,
Lu