Autoria de Lu Dias Carvalho
Cézanne ensinou-me o amor às formas e aos volumes, fez-me concentrar no desenho. (Fernand Léger)
Logo fiz amizade com essa gente. Sua maneira franca de falar e sua gíria eram minha linguagem. Queria que minha pintura fosse tão forte quanto essa gíria. (Léger ao encontrar seus amigos de infância no front da Primeira Guerra Mundial)
Descobri o dinamismo da mecânica através da artilharia. Apalpei o corpo do metal e meu olho deteve-se na geometria dos cortes. Um canhão de 75 mm em pleno sol ensinou-me mais que muitos museus. (Léger sobre o front da guerra)
O pintor normando Fernand Léger (1881-1955) iniciou seus estudos num colégio de Argentan, cidade onde nascera. De lá foi para uma escola religiosa em Tinchebray. Com a morte de seu pai, um criador de gado, ficou sob a responsabilidade da mãe e de um tio que, ao notar sua queda para o desenho, enviaram-no para a cidade de Caen, onde viria a estudar arquitetura, que sob seu ponto de vista era mais importante do que a pintura.
Léger seguiu para Paris quando contava com 19 anos de idade, indo trabalhar num estúdio de arquitetura, como desenhista. Ao ser recusado como aluno pela Escola de Belas-Artes, passou a estudar na Escola de Artes Decorativas. Infelizmente, não existem trabalhos deixados pelo artista referentes a tal período, pois ele destruiu tudo que obrara até 1905. E mais uma vez, Cézanne teve fundamental importância na vida de um artista. Léger encantou-se com seu trabalho, sendo-lhe fiel até o final de sua vida.
A composição “A Costureira”, criada em 1909, foi o pontapé inicial para a experiência cubista de Léger, a quem não agradava o Impressionismo. Em seu trabalho buscava simplificar o máximo possível as formas, fazendo uso de um traço resumido e da forma geométrica. Ficou amigo de Picasso e Braque. Aos 51 anos de idade tornou-se pintor exclusivo do marchand Kahnweiler, o que foi uma prova do reconhecimento de seu trabalho.
O artista foi convocado para participar da Primeira Guerra Mundial, encontrando no front os companheiros de infância. Mesmo nas trincheiras desenhou retratos, cenas e esboços de máquinas. Ao ser hospitalizado, após tornar-se vítima de gás, aproveitou para voltar a seus pincéis. E ao retornar da batalha pôs-se, com afinco e otimismo, a reunir o homem e a máquina em seu trabalho, usando a pintura como forma de falar desse mundo mecanizado de então. Também distanciou-se dos cubistas. O que interessava eram o motor, a engrenagem, o metal, etc., que lhe davam uma nova visão de mundo. A figura humana passou a ganhar vida nova, tornando-se compacta, forte e grande.
Fernand Léger também interessou-se por outros campos das artes plásticas e visuais. Colaborou com o escritor Cendrars em “La Roue”, filme de Abel Gance. Após outras experiências cinematográficas dirigiu seu próprio filme, denominado “Ballet Mécanique”, cujos personagens são sapatos, garrafas, discos, olhos, pernas artificiais e um chapéu de palha. Nesse mesmo ano foi à Itália, e apaixonou-se pela obra dos pré-renacentistas, sobretudo por Cimbabue, sobre quem afirma: “Sua concepção arquitetural, seu sentido do belo volume, a rigidez anti-sentimental de seu traço fazem dele um precursor. É hoje muito mais moderno que muitos pintores que se dizem ‘modernos’.”.
Ao travar conhecimento com o arquiteto Le Corbusier, que lhe ensinou a noção sobre “espaço mural”, sua arte adquiriu um caminho direcionado para o “objeto utilitário”. O espaço ganhou novas dimensões e a composição tornou-se abstrata. Passou a criar murais. Tornou-se professor na Academia Moderna de Paris e fez inúmeras exposições em vários países. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial foi para os Estados Unidos, onde chegou a dar aula na Universidade de Yale, entre outros trabalhos.
O fato é que Léger foi um artista de seu tempo, com sua arte representativa da era da máquina. Ele já antevia a difusão industrial, a mecanização do trabalho, a importância da obra coletiva, etc. Talvez como nenhum outro artista da época, pressentiu o quanto o trabalho em grupo seria importante dali para frente, tendo assim se expressado:
“Nós nos dirigimos para o trabalho coletivo, porque cada vez mais a vida coletiva chama-nos. A arte já sofre nítidas repercussões disso. A vida de cada sociedade influenciará a demanda pública. Essa demanda poderá ser o painel decorativo, a arte mural, a tapeçaria, as séries em gravuras e litografias, o vitral, a cerâmica, etc. O artesanato será revalorizado. Todo um vasto público começa a interessar-se por arte, é preciso que ela exista para todos os bolsos.”.
É uma pena que seu reconhecimento tenha sido tardio. O artista morreu aos 84 anos de idade.
Fonte de pesquisa
Gênios da Pintura/ Editora Abril Cultural
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