Como é grande e bondoso o céu ao depositar numa única pessoa as infinitas riquezas e as amplas graças de seu vasto patrimônio. Todos aqueles dons raros que, por um longo espaço de tempo são repartidos entre muitos dos indivíduos, podem ser vistos claramente em Rafael Sanzio da Urbino. Que foi dotado pela natureza com toda a modéstia e bondade que só algumas vezes é encontrada naqueles que, bem mais que os outros, possuem certa humanidade de natureza gentil, acrescida de um ornamento belíssimo: uma graciosa afabilidade. Rafael sempre soube mostrar-se doce e agradável com todo tipo de pessoa que encontrou (…). Em Rafael resplandeciam clarissimamente todas as virtudes da alma, sempre acompanhadas por muita graça, estudo, beleza, modéstia e bons costumes. (Giorgio Vasari)
Rafael Sanzio (1483 – 1520) foi um dos pintores mais importantes da Alta Renascença italiana, período em que houve uma grande concentração de gênios na arte, como Leonardo da Vinci e Michelangelo e em que o homem era visto como a medida de todas as coisas.
Giovanni de Santi, pai de Rafael, era um homem culto, dramaturgo de sucesso e estudioso que tinha excelentes relacionamentos. A pintura era o seu meio de ganhar a vida, embora fosse considerado sem talento para a profissão, crítica que nunca o desanimou e nem o tornou invejoso, pois era humilde em reconhecer suas limitações e o talento dos colegas. Tinha grandes pintores no rol de seus amigos, inclusive o famoso Piero dela Francesca que chegou a se hospedar em sua casa. Tudo isso contribuiu para influenciar o filho a seguir seus passos. Rafael, ainda garoto, acompanhou seu pai numa visita ao grande mestre Perugino que se encontrava no ápice de sua fama. Segundo alguns críticos, tal contato foi de grande valia para a sua formação precoce de pintor.
O ambiente familiar de Rafael começou a desmoronar muito cedo. Aos dez anos de idade perdeu a mãe e o pai veio a falecer um ano depois. Assim, aos onze anos, foi entregue aos cuidados de um tio e de outros parentes. Contudo, o pintor Evangelista di Pian di Meleto que fora aluno de seu pai ocupou o lugar do mestre, dando a seu filho orientação e estímulo. E Perugino, que sempre precisava de jovens aprendizes talentosos, para ajudá-lo na execução de suas inumeráveis encomendas, tomou o adolescente sob sua tutela, repassando-lhe o seu vasto conhecimento. De modo que, aos 18 anos de idade Rafael já era um pintor independente que recebia muitas encomendas e cuja fama já se espalhava pelas cidades vizinhas.
Aos vinte e um anos, Rafael deixou a região de Urbino onde nasceu, para ampliar seus horizontes em Florença, capital artística da Itália. Há muito vinha tomando conhecimento dos padrões artísticos inimagináveis de dois grandes gênios que ali viviam: Leonardo da Vinci e Michelangelo. O primeiro era trinta anos mais velho do que ele e o segundo oito. Em Florença viveu quatro anos sem se deixar intimidar pela genialidade dos dois colegas, decidido a aprender tudo que pudesse. Além disso, enquanto Leonardo e Michelangelo eram pessoas de difícil convívio, Rafael tinha um temperamento doce e terno, o que o levava a ganhar a atenção dos grandes mecenas da época.
O próximo destino de Rafael foi Roma, onde estavam sendo oferecidas grandes oportunidades aos artistas, além de apresentar dois importantes bens culturais: sua herança cristã e seu passado clássico romano que fascinavam artistas e estudiosos da Itália inteira e da Europa. Artistas e arquitetos buscavam Roma com o objetivo de trabalhar nos projetos artísticos encampados pelos patronos papais. Quando ali chegou Rafael já encontrou Michelangelo trabalhando na Capela Sistina. Mas não demorou muito para que fosse convidado pelo papa Júlio II para decorar as paredes de várias salas do Vaticano.
O prestígio de Rafael começou a incomodar, quando foi convidado a decorar o palácio papal. Surgiram invejas e intrigas contra ele. Os seguidores de Michelangelo viram na escolha do jovem talento uma grande injustiça para com o grande artista. Mas Rafael tomou isso como um desafio e não como uma afronta e começou a pintar grandes áreas, diferentemente do que havia feito até então.
Rafael Sanzio morreu aos trinta e sete anos, no dia do seu aniversário, vitimado por uma estranha doença contraída em Roma, enquanto se dedicava às escavações arqueológicas em busca do passado clássico que tanto o inspirava. Foi um dos primeiros artistas a embrenhar-se na procura pelas ruínas clássicas com seus padrões decorativos. Rafael foi um mestre da arquitetura e da pintura. Junto com Michelangelo e Leonardo Da Vinci forma a tríade de grandes mestres do Alto Renascimento.
Na tumba de Rafael Sanzio foi colocado o seguinte epitáfio (frase de Pietro Bembo): Aqui jaz Rafael; enquanto viveu, a Mãe Natureza temia ser por ele vencida; agora que está morto, ela receia morrer também.
Nota: Autorretrato
Fontes de Pesquisa:
Os pintores mais influentes…/ Editora Girassol
História da Arte/ E.H. Gombrich
Tudo sobre a Arte/ Editora Sextante
1000 obras primas…/ Könemann
Gótico/ Taschen
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