Recontado por Lu Dias Carvalho
Uma vez que os deuses deixaram a Terra nos trinques, com cada coisa em seu devido lugar, inclusive os bichos das mais diferentes espécies, acharam que, para usufruir de tanta beleza, e depois de tanto trabalho, teriam que criar um animal mais célebre, que se regozijasse com tudo aquilo. E assim foi criado o homem. Como pode concluir o leitor, até os deuses erram. Mas vamos deixar isso para lá, pois o que está feito não mais está por fazer. Vejamos o processo usado pelas divindades.
É fato que no resto daquele caldo chamado “Caos”, ainda existiam algumas sementes celestiais, com certeza já passando do prazo de validade, e foi delas, juntamente com terra e água que foi feito o homem. Aos dois irmãos titãs Epitemeu e Prometeu os deuses deram a tarefa de criá-lo. Ao primeiro coube a execução da obra e ao segundo a supervisão. Para dar um porte mais altivo a esse novo ser, ele foi criado diferente dos outros animais, à semelhança dos deuses. Por isso, ao contrário dos bichos, cujo rosto é voltado para baixo, como se agradecessem pelo chão em que pisam, o novo animal anda olhando para frente, e pode contemplar o céu e as estrelas sempre que quiser. Mas alguns levam tal postura tão a sério, que se tornam vitimados pelo torcicolo da vaidade.
Epitemeu, portanto, foi incumbido de meter a mão na massa, enquanto cabia a Prometeu apenas a tarefa de examinar o produto final. Espertinho, não? Contudo, houve um probleminha, que acabou refletindo nos dias de hoje, pois ao trabalhador Epitemeu também coube a tarefa de distribuir a todos os animais seus devidos dons (ligeireza, coragem, força, audição aguçada, etc.). E nesse toma aqui e dá ali, já cansado, o titã nem percebeu que não deixara nem um poucochinho de faculdades necessárias ao animal nobilíssimo, chamado homem, para a sua vivência na Terra. Pelos deuses, o que fazer? O pobre titã estava em meio a um angu de caroço. Ou seria num mato sem cachorro?
Prometeu, que havia trabalhado menos, é bom que se saiba, foi chamado para socorrer seu irmão Epitemeu. Era o mínimo que poderia fazer, por não ter supervisionado a obra como deveria. Pediu ajuda à deusa Minerva (Palas), a mandachuva da sabedoria. Ambos foram até o céu, e ali, ocultamente, acenderam um archote no carro do sol, dando ao homem o fogo. E foi ao apoderar-se do uso dessa energia, que ele, o animal nobre, conseguiu comandar o mundo. Com ele construiu as mais perversas armas, sobrepujando os outros animais, e depois a espécie pôs-se a brigar entre si, numa ferocidade desmedida. Deve ser por isso que dizem por aí que a espécie humana é “fogo” nas ardilezas. Lamentavelmente o homem é o único animal capaz de conceber o mal e colocá-lo em prática.
Nota: pormenor da obra de Michelangelo, A Criação de Adão
Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM
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