Recontado por Lu Dias Carvalho
Dríope e Iole eram muito unidas, sendo a primeira delas a esposa de Andrêmon, já tendo ambos a alegria do primeiro filho. As duas irmãs gostavam de colher flores para ornamentarem o altar das ninfas. Para esse fim, encontravam-se à margem de certo rio, trazendo Dríope o filho nos braços, quando viram um lótus cheio de flores de cor púrpura. A mamãe feliz colheu algumas delas e ofertou-as à sua criança. Ao levar a mão para também colhê-las, Iole notou que as hastes, de onde sua irmã apanhara as flores, vertiam sangue.
As duas irmãs quedaram-se horrorizadas com a cena. Queriam fugir daquele local, mas já era tarde. Dríope, responsável por ter apanhado as flores, começou a sentir seu corpo agregado ao solo, como se estivesse criando raízes. Como se isso não bastasse, sentiu-o endurecendo e seus braços e mãos enchendo-se de folhas. Estava se transformando numa árvore. Iole abraçou-a na tentativa de impedir sua metamorfose, mas em vão. Nesse ínterim, chegaram Andrêmon e o pai das duas mulheres. Ao tomarem conhecimento do acontecido, enlearam o tronco da árvore, ainda com a quentura do corpo de Dríope, enchendo-o de lágrimas, beijos e abraços. Mas isso não impediu que a transformação continuasse.
O rosto de Dríope foi o último a transformar-se, dando-lhe tempo para dizer aos seus que se sentia injustiçada, pois nunca fizera mal a nenhum ser vivo, não merecendo aquela sorte malfazeja. Entregou-lhes o filho, pedindo-lhes que o levassem sempre para brincar debaixo de sua sombra. E, quando ele já se encontrasse maior, ensinasse-lhe a chamá-la de mãe, contando-lhe sua história. E, sobretudo, instruísse-o a ter cuidado com as flores que colhesse nas margens dos rios, alertando-o para o fato de que em cada moita de arbustos poderia ali se encontrar uma deusa dissimulada.
Antes da conclusão de sua metamorfose final, Dríope pediu a seus entes queridos que não permitissem que seu tronco fosse ferido pelo machado e nem que os rebanhos corroessem seus galhos. Que subissem em seu tronco e beijassem seu rosto, e levantassem seu filho para que ela o beijasse, enquanto ainda trazia um alento de vida humana.
Depois de cumprido o ritual pedido pela pobre Dríope, nada mais havia nela que lembrasse a linda mulher que fora, a não ser o calor de seu corpo que na árvore permaneceu por algum tempo. Para aqueles que indagam sobre o porquê de tão triste história, informo-lhes que a planta da qual a jovem mulher arrancara as flores não era outra senão a ninfa Lótus, que se metamorfoseara, ao fugir de um brutal perseguidor. Mas quem pagou o pato foi a bela Dríope. Esse é o mundo dos deuses, e por sinal muito parecido com o nosso.
Nota: Dríope Transformada em Árvore, obra de Julien de Parme
Fontes de pesquisa
O Livro de Ouro da Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM
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