Recontado por Lu Dias Carvalho
Ceix era filho de Vésper (Estrela-d’Alva) e esposo de Alcíone, filha de Éolo (o deus dos ventos). Era também rei da Tessália, sendo muito amado por seus súditos. Sua vida só não era completa em razão da morte de seu irmão, levando-o a crer que os deuses não gostavam dele, e, por isso, deveria viajar para consultar o oráculo de Apolo, a fim de conhecer toda a verdade. Queria saber em que consistia o seu erro, para receber tal castigo.
Alcíone, que conhecia a cólera dos ventos, tentou dissuadi-lo de tal intenção. Pediu-lhe então que a levasse consigo, mas em vão. Ele não queria submeter a mulher amada a tanto perigo. E assim partiu em seu navio, deixando sua esposa abatida pela dor. Pressentimentos horríveis comprimiam seu coração. Restava-lhe apenas pedir aos deuses para que zelassem pelo esposo, que haveria de atravessar tempos difíceis, que ela bem conhecia por causa de seu pai.
Os ventos, que começaram como uma brisa suave, enfureceram-se no meio da viagem. A tormenta cruel jogou a embarcação de um lado para outro, como se fosse uma caixinha de papelão, até virá-la. Marinheiros e Ceix viram-se perdidos. Esse trazia nos lábios o nome de sua amada Alcíone. Sabia que iria morrer. Pediu então às ondas que levassem seu corpo até sua mulher, para que ela fizesse seu funeral. Nenhum dos homens conseguiu se salvar em meio a tão violenta tempestade. Ceix morreu junto.
Alcíone aguardava o marido dia e noite, de olho no mar. Seus joelhos traziam calos de tanto orar aos deuses, principalmente a Juno, por ele. Pedia, inclusive, que ele não encontrasse outra a quem pudesse amar mais do que a ela. A deusa Juno sentiu-se compadecida com o sofrimento daquela esposa, que orava pelo marido já morto. Pediu então a Íris, sua mensageira, para que fosse ter com o Rei Sono e pedisse-lhe para enviar uma visão de Ceix a Alcíone, para que ela conhecesse toda a verdade. Esse, por sua vez, incumbiu seu filho Morfeu de cumprir tal missão. E assim aconteceu.
Enquanto dormia, Alcíone recebeu a visão do marido, dizendo-lhe que morrera no Mar Egeu. Ao despertar-se, a pobre mulher arrancou os cabelos em sua grande dor. Não via mais sentido em sua vida. Segui-lo-ia em sua morte. Dirigiu-se à praia, e procurou o rochedo de onde vira Ceix pela última vez. Ali, enquanto revivia a cena, viu um corpo boiando nas águas. Pensou que fosse o de um pobre marinheiro, e também sofreu por sua esposa. Somente ao aproximar-se bastante dela é que reconheceu o corpo do marido.
Ao saltar nas águas, Alcíone foi transformada numa ave. Tentava beijar o corpo de Ceix com seu bico. Condoídos com a cena, os deuses, que a tudo observavam, transformaram Ceix também numa ave. Juntos, o casal de pássaros acasala-se e reproduz até os dias de hoje.
Nota: Ceix e Alcíone, autor anônimo, Escola Francesa (1750)
Fontes de pesquisa
O Livro de Ouro da Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM
Views: 13