NÃO SEI! SÓ SEI QUE FOI ASSIM! (Parte I)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

   O Bosque do Silêncio passava por um período de amedrontadora efervescência, após o último conciliábulo de bruxos e bruxas, realizado num sábado à meia-noite, cerca de duas semanas ao que ora é aqui contado. Nem mesmo o pintor espanhol, Francisco de Goya, em seus inimagináveis delírios, seria capaz de transferir às suas telas, durante o período em que suas pinturas retratavam feitiços e bruxarias, os horrores que ali tiveram vez. Não se falava noutra coisa no lugar senão nas diabruras ali acontecidas.

     Os visitantes em derredor daquele maldito bosque, amedrontados com as sandices ali perpetradas, há muito venderam suas terras, hoje tomadas pela erva daninha e por plantas espinhosas. Não haviam palavras, contidas na mente humana, em qualquer que fosse o idioma, capazes de descrever a aversão, a repulsa e o ódio que nutriam pelos acontecimentos advindos daquele local.

    A verdade, caros leitores, é que não passava um dia sequer sem que gritos, urros e gemidos chegassem aos ouvidos dos antigos moradores. Não houve benzeduras, pajelanças ou exorcismos que dessem jeito naquela escabrosidade que subia aos céus e descia à terra, espalhando-se como esconjuro e pestilência. Até mesmo os bichos dali se escafederam, não se sabe para onde. Sumiram no mundo!

   Para o bem da verdade, nem todos abandonaram aquelas cercanias. Um casal negou-se a deixar suas terras, vizinhas ao sinistro bosque. Enquanto o homem labutava na lavoura, a mulher trabalhava à noite na portaria do Bosque do Silêncio, não dando a mínima importância ao que ali acontecia. Dizia ser filha de cabra macho e não seria qualquer disse me disse que a amedrontaria, expulsando-a de suas terras.

    Alardeava a dita mulher que a laúza e a danação que dali se ouvia não passavam da voz do vento, ecoando em meio aos arbustos, árvores, pedras e grotas presentes no sombrio lugar. É fato que ela nada temia, pois esses seres escalafobéticos somente ali chegavam pouco antes da meia-noite, cobertos da cabeça aos pés por uma capa e capuz escuros, sendo de pouco falar. Deles só ouvia a senha para a abertura do rangente portão de ferro. Serviço que ela fazia com  o maior prazer.

    De uma feita, o marido de Celestina – pois este era o nome da mulher – viajou para visitar o pai doente. Ficaria por lá cerca de quatro a cinco semanas. Tempo suficiente para que sua esposa, muito chegada a um embeleco amoroso, necessitasse urgentemente de alguém que lhe oferecesse um bom chamego. Sua quentura, conhecida em toda a redondeza, era capaz de acender até fogueira.

   O marido, sabedor do queimor que saía dos quartos de Celestina, deixou-lhe um sem conta de ervas e raízes para banhos e chás, a fim de acalmar o fogaréu que dela tomaria conta durante a sua ausência. E assim, viajou o moço tranquilamente, certo de que todas as providências haviam sido tomadas em relação ao abrasamento da esposa.

  Não se sabe se foi pelo fato de a mulher não ter tomado os chás, ou por esses não terem produzido efeito algum, o fato é que ela caiu de amores pelo substituto do marido na lavoura, um rapaz musculoso e com a testosterona a sair-lhe pelos poros. Assim, a fome e a vontade de comer uniram-se numa comilança amorosa de dar arrepios até mesmo nos habitantes do Bosque do Silêncio.

Obs: Se  corajoso fores, não perca o episódio II.

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