Autoria de Lu Dias Carvalho
Vimos anteriormente que o artista italiano Giotto di Bondone foi responsável por mudar toda a concepção que se tinha sobre a pintura até então. Suas obras repassavam a sensação de que a cena acontecia diante dos olhos do observador ou até mesmo que ele fazia parte do que nelas acontecia. Tais mudanças na pintura aconteceram especialmente na cidade de Florença. A pintura bizantina, até então assimilada pelos artistas italianos, parecia rígida e ultrapassada. A formidável mudança ocasionada por Giotto, contudo, não atingiu toda a Europa de um dia para o outro. Suas ideias alcançaram os países ao norte dos Alpes, enquanto os métodos dos pintores góticos do Norte passaram a ter efeito sobre os mestres meridionais.
Os artistas da cidade italiana de Siena — grande rival de Florença — continuavam atraídos pelo gosto e pelo estilo dos artistas do gótico do Norte, sem, contudo, romper abruptamente com a tradição bizantina. Um contemporâneo de Giotto de nome Duccio (c. 1255/6–1315/18) deu nova vida às antigas formas da pintura bizantina. Os pintores Simone Martini (1285?–1344) e Lippo Memmi (1291-1356) — dois jovens mestres da escola de Duccio — dão uma amostra dessa escola com a belíssima obra denominada “Anunciação” (vista acima), que iremos estudar na próxima aula.
Os mestres da cidade de Siena tinham predileção por formas delicadas e pela representação de um estado de espírito lírico. Agradavam-lhe as curvas suaves das vestimentas esvoaçantes sobre os corpos esguios. Como podemos ver na ilustração acima, a pintura delicada desses artistas se parece com uma obra de ourives, com suas figuras sobressaindo de um fundo dourado, habilmente distribuídas na composição. Os artistas medievais de antes, por desconhecerem o formato e as proporções reais das coisas, usavam uma maneira especial para ajustar as figuras a um determinado padrão, de modo a formar um arranjo satisfatório na obra. Os artistas de Siena, contudo, superaram isso, levando em conta parte dos ensinamentos do grande mestre Giotto.
A França ainda era tida como o principal centro cultural da Europa, tendo as ideias e os estilos franceses grande influência no território europeu. Nessa época — final do século XIV — tanto artistas quanto ideias transitavam livremente de um centro para outro, sem que houvesse qualquer rejeição pelo fato de uma realização ser estrangeira ou não. A arte passava por um grande período de abertura. Foi nesse período de final de século marcado por tão grande interação entre os povos europeus que surgiu um estilo conhecido entre os historiadores como “estilo Internacional”. O Díptico de Wilton (ver link abaixo) é um belo exemplo dessa fase. Os artistas desse estilo eram dedicados à observação e às coisas delicadas.
Uma habilidade diferente passou a fazer parte da vida dos artistas dessa época — realizar estudos da natureza e repassá-los para suas composições. Foi adotado o caderno de esboços com exemplares de plantas e animais. A perícia com que os artistas retratavam a natureza, levando em conta um detalhamento cada vez maior, passou a ser apreciado pelo público. Mas os artistas queriam ir além, almejavam adquirir um profundo conhecimento do corpo humano para transpô-lo para suas estátuas e pinturas, como haviam feito os gregos. A partir do momento em que eles passaram a buscar tais conhecimentos, ficava claro que a arte medieval estava cada vez mais ficando para trás, cedendo lugar a um dos períodos mais ricos e interessantes da História da Arte — o Renascimento.
Exercício
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder as duas perguntas e acessar o link abaixo:
1. Qual era a predileção dos mestres de Siena e o que lhes agradava?
2.Como surgiu o estilo Internacional?
3. Pintor Anônimo – O DÍPTICO DE WILTON
Ilustração: 1. A Anuciação, 1333, obra de Simone Martini e Lippo Memmi
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
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Lu,
A gente percebe um aprimoramento constante das características da arte passada, com uma evolução bastante cuidadosa e gradual. Seguramente muitos artistas eram prisioneiros do próprio estilo ou o priorizava pela sobrevivência ou mesmo pelo fato de não por em risco sua reputação, porque é inerente ao artista ir além na criatividade, mesmo em época com tantos limites. A percepção e inserção artística do mundo natural é interessante, sobretudo quanto a sua utilização nas primeiras ilustrações de classificação dos seres vivos, o que mais tarde evoluiu para o corpo humano.
Antônio
Estes pontos levantados por você são bem pertinentes. Penso eu que a sobrevivência era o que mais prezavam naqueles tempos em que o artista não tinha muito valor. Ou ele se adequava às exigências impostas ou perdia os compradores.
Abraços,
Lu
Lu
O estilo Internacional foi o período derradeiro da arte gótica no contexto da Idade Média. Interessante notar que nessa fase da história da arte houve uma interação maior entre os artistas através do intercâmbio efetivo entre os diversos países, possibilitando conhecimentos de técnicas e referências na elaboração das obras. A natureza passou a ser a musa inspiradora e a liberdade permitiu que houvesse uma amplitude das possibilidades de desenvolver trabalhos mais criativos. O desenvolvimento da perspectiva e harmonia possibilitaram uma interação maior entre o observador e a obra, em virtude da leveza e características aprimoradas dos trabalhos artísticos, tanto a natureza apresentada de uma forma mais real e encantadora, tanto na técnica pictórica, quanto nas esculturas de corpos humanos com muita harmonia e leveza. Podemos dizer que essa fase conhecida como estilo Internacional foi precursora e preponderante para criar um ambiente favorável para o surgimento do Renascimento.
Hernando
O intercâmbio entre os artistas foi muito importante para a troca de ideias, cada um agregando aquilo que sabia mais, ou apresentando técnicas inovadoras. A arte acabou sendo favorecida em diferentes aspectos. Ao agregar a natureza e dar maior ênfase ao corpo humano, o trabalho dos artistas ganhou em beleza e perfeição. Era o prenúncio de algo novo não tardaria a surgir. Tudo era questão de tempo.
Abraços,
Lu
Lu
Chamou a minha atenção esta parte do texto que diz “Os artistas da cidade italiana de Siena — grande rival de Florença — continuavam atraídos pelo gosto e pelo estilo dos artistas do gótico do Norte, sem, contudo, romper abruptamente com a tradição bizantina”, mostrando como muitas vezes é difícil a implantação do novo, pois o apego ao velho fala muito mais forte por um determinado tempo.
Moacyr
É isso mesmo! Os artistas de Siena continuaram apegados ao gótico, enquanto Florença transformava-se num poderoso campo, tanto econômico quanto artístico, transformando-se no berço do Renascimento.
Abraços,
Lu
Lu
Estamos vendo que muitas mudanças ocorreram na arte no final do século XIV. Os artistas de diversas áreas passaram a trabalhar com o propósito de atingir um grau muito alto de perfeição, leveza e originalidade. Florença assimilou as mudanças que se incorporaram aos estilos gótico e bizantino. Vemos a delicadeza e o refinamento tomarem conta da mente dos artistas mais criativos, enquanto os padrões mais antigos vão ficando para trás. A natureza é incorporada às obras, agradando o público. Os artistas passam a se preocupar com o corpo humano, assim como plantas e animais. Giotto é tido como o grande nome da pintura, já caminhando para o Renascimento. O Díptico de Wilton é maravilhoso. É uma pena não ver o nome do artista estampado nele.
Marinalva
Daqui para a frente as obras de arte vão ficando cada vez mais complexas e belas, não que antes não fossem belas em razão do pouco domínio de formas técnicas. Cada coisa nova que aparecia à época, os artistas iam adicionando à sua arte, num trabalho laborioso. Florença foi o berço do Renascimento e o motor propulsor da arte na Itália. O Díptico de Wilton é mesmo uma maravilha é lamentável o fato de não ter ficado gravado para a história do nome de seu autor. Quanto a Giotto, vamos contar com a sua presença em vários textos/aulas.
Abraços,
Lu
Lu,
São belíssimas as composições do estilo chamado Internacional. O que despertou minha atenção foi a obra “O Díptico de Wilton” e suas variações de “movimentos”. Penso que você deve entrar em detalhes em outras aulas sobre essa técnica. Outra observação: a bandeira mostrada nessa obra – segurada por um anjo – parece ser da Inglaterra e não do Reino Unido, pois essa possui listras transversais vermelhas.
Adevaldo
O Díptico de Wilton é uma obra-prima. E pensar que o autor nem mesmo deixou seu nome, o que nos mostra como na era medieval os artistas não gozavam do merecido respeito no que diz respeito ao seu trabalho. O responsável por esse nem mesmo achou que valeria a pena deixar seu nome impresso nele, o que foi uma pena.
Quanto aos detalhes vistos nas obras, as explicações sobre esses irão aumentando à medida que os participantes tiveram uma compreensão maior dos estilos. Irei aumentando o grau de dificuldades aos poucos. Quanto à bandeira, trata-se de uma simbologia dos tempos cristãos da época na Inglaterra. Trata-se da cruz de São Jorge que era o símbolo (e não a bandeira nacional) do Reino Unido.
Abraços,
Lu