Autoria de Celina Telma Hohmann
Conheço e por vezes compartilho do mesmo espaço de pessoas que têm o prazer doentio de reclamar. A murmuração, o balbucio eterno de que tudo está mal afronta nossos ouvidos e a própria vida. Quem nunca se viu em situação de reclamar, achar que nada dá certo? Por vezes acontece, mas acontecer é uma situação, perpetuá-la é prender-se ao negativismo que não pode, de forma alguma, trazer conforto, tranquilidade. Cansa! Tudo o que é demais é demasiado, não? O eterno reclamar é cansativo a quem reclama e exaustivo para quem ouve, presencia ou permanece próximo ao eterno balbuciador de desgraças. Nossos problemas não têm que ser problemas dos outros. Se os temos – e humanos que somos os temos, sim – mas os ouvidos dos outros merecem respeito.
O que se observa é que o eterno insatisfeito tem eco. Só reclama porque alguém o ouve.. Reclamam porque alguém lhe dá ouvidos. Não quero dizer que o fato de dar ouvidos aos queixumes não seja nobre, mas fortalecer um rosário de lamúrias é compartilhar um mal que não leva ninguém a lugar algum. Os lamurientos não são pessoas leves, carinhosas, com perspectivas. Há uma diferença entre a tristeza, e o perder-se, a menos valia, mas o mundo, vasto, lindo e fascinante oferece muito mais que tragédias. Estamos à volta com a busca pelo bem-estar e a reclamação constante faz com que pingos – até mesmo imperceptíveis – acabem se transformando em torrentes.
Confesso que entrei num processo de quase não ver saída, mas eu sabia que existe, e como o problema era exógeno, saí à cata de ir quebrando um a um, os galhos secos das tragédias. Processo não tão simplista, mas trouxe uma nova vertente: a meditação! Bendita, salvadora, reconfortante e nos dá um conhecimento de nós próprios que dá aquela vontade de gritar ao mundo como é bom redescobrir fórmulas. Atravessei uma fase em minha vida em que houve a necessidade de parar literalmente. Mas parei para buscar a solução. Naufraguei, não porque o mar era bravio, mas desatenta, assumi a proa de um navio que nem era meu. Sem prática, lá fui eu de cara mar adentro e, claro, engoli água salgada até quase explodir os pulmões. Saída? Aquietar-me! Descobrir métodos, magias e poções. Levei sustos na busca, mas quem disse que fazer o mundo ouvir que algo estava exagerado seria a solução?
Nada é eterno. Nem o bem ou o mal, nem o bonito ou o feio. Tudo acaba e não adianta ranger os dentes, girar os olhos e lamuriar. Busquem o que acalma. Temos a glândula pineal e a bendita transforma até o que não vemos. Parti para a meditação e foi a fórmula. Caminho não fácil, pois a mente consciente é uma esperta que dá gosto, mas dedicação, o ato de praticar, praticar e praticar, ao final, dá o sinal verde de que somos donos do que temos, responsáveis pelo que assumimos como dor ou amor. E nessa, lá veio a calma (outra vez). Sinto vergonha em confessar que dei umas boas lamuriadas, mas essas, ah, estão no passado!
O processo de acalmar a mente e alma exige um tempo e cada mente tem sua dinâmica. Por vezes, há tanto lixo tóxico que se o jogarmos num impulso, contaminamos o mundo. Por isso, eu fui devagar. Deixei meus “coelhos” na quarentena – que durou bem mais que isso – e soltei a tartaruga: devagar e sempre e sempre. Parar? Nada! Vamos trabalhar a glândula pineal e dar sossego ao cortisol. E maldade pura, mas os lamurientos que me perdoem, pois são uns chatos e todo chato é cansativo e faz com que as pessoas se afastem dele.
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Prezada Celina.
Seu texto lega-nos muita reflexão e nos leva a fazer até mesmo uma análise de nosso egocentrismo. É difícil, muito difícil conhecer-nos. O ego impedi o “nosce te ipsum”, pois achamos sempre que temos razão. E aí devemos nos amparar na humildade e lembrar que somos humanos, sujeitos a erros, enganos e defeitos.
A mania de reclamar, na maioria das vezes, é um desabafo. Em muitos casos pode haver até razões, mas machucam as pessoas mais íntimas. Se algum amigo se dispõe a ouvir o desabafo até que pode ser bom. Se esse amigo não existe, convém lidar com o problema, buscando soluções. Em muitos casos a reclamação não conta as imperfeições, os defeito que temos, pois lá está o ego a nos afastar da verdade, da realidade. Aí o desabafo é realmente uma reclamação que ninguém gosta de ouvir, por perceber que ela não condiz com os fatos.
A nossa luta contra o mau funcionamento da glândula pineal é muito difícil, mas devemos buscar sua melhoria. Há muitos que, para dormir e esquecer seus problemas, vão se esconder no bromazepam. Porém, não acordam descansados, dispostos a enfrentar os dramas da vida e, assim, seguem sem obter progressão. Temos que buscar com médicos a melhoria do desempenho das funções desta glândula que produz a melatonina, durante a noite. O bom é dormir em quarto escuro, sem luminosidade, pois ela não ocorre em ambiente claro.
A melatonina é importante, pois sua falta pode-nos legar muitas doenças físicas e até mentais. Inclusive é importante lembrar que a melatonina – sua escassez – pode-nos trazer distúrbios de movimentos, principalmente na velhice, quando a produção da melatonina diminui sensivelmente, traz, v. gratia, o Parkinson e demência. Assim, temos que buscar as soluções de nossos problemas com muita reflexão, auxiliados por médicos e medicamentos. Até a alimentação tem reflexos no bom ou mau desempenho desta glândula. O controle do cortisol é também importante, mas ele é alegria e prazer, por isto, pode ser regulado, mas temos que o ter presente, o que será, sem dúvida, uma barragem em nossas reclamações, pois a vida poderá ter mais prazeres do que tristezas.
Agora, finalizando, parabéns pela sua perseverança. Ela é sua grande força. Lembro, aqui, a frase de Charles Chaplin, “A persistência é o caminho do êxito”. E foi este caminho que você tomou, devagar e sempre, sem o tempo dos coelhos, mas o das tartarugas, com muita vontade de triunfar. Parabéns pelo seu texto e por sua vontade indômita em vencer suas dificuldades.