A maioria dos humanistas do século XV — embora muitos deles trabalhassem para patronos — tinha como maior interesse a recuperação da linguagem e da literatura clássica, o que os levava a um grande empenho no estudo da língua latina, vasculhando bibliotecas à procura de textos de autores clássicos. Havia medidas que visavam proteger as obras copiadas que só podiam ser vendidas por negociantes de livros de Florença, como Niccolo Niccoli Vespasiano e Poggio Braccilioni que contribuíram para que seus amigos tivessem acesso a um grande número de exemplares de escritores antigos. Poggio foi responsável por recobrar a literatura romana de uso popular, enquanto Niccoli criou uma nova forma — a escrita itálica, usada até os dias de hoje.
O interesse dos humanistas pela literatura latina estava atrelado ao fascínio pela cultura grega. O escritor Francesco Petrarca, por exemplo, conseguiu um exemplar da “Ilíada” de Homero no grego original — língua que ele não dominava —, passando então a mostrar a necessidade do ensino do grego. Um diplomata grego e professor de Constantinopla foi responsável pelo ensino do grego em Florença.
Na segunda década do século XV, um humanista, historiador, sábio e sacerdote siciliano — Giovanni Aurispa — levou 200 manuscritos gregos de Constantinopla para a Itália, dentre os quais se encontravam as obras completas de Platão. Com a passagem de Constantinopla (antiga Bizâncio e atual Istambul) para as mãos dos turcos em 1453 (século XV), houve uma grande migração de eruditos e de manuscritos para a Itália. A tradução dos textos gregos para os idiomas latino e italiano contribuiu para que o conhecimento referente a esses textos se expandisse rapidamente. Inicialmente houve um enorme receio no que diz respeito à tradução e as edições de textos. Essas deviam ser bem feitas, contemplando os escritos de importantes autores gregos como Platão, Plotino e Aristóteles.
Os humanistas do século XV, apesar de ocuparem uma posição elevada, não se fechavam no isolamento do saber acadêmico. A sedução pela Antiguidade também dizia respeito às excentricidades daquela época. O poeta e crítico literário italiano Giovanni Boccaccio (não confundir com o escritor português Manuel Maria Barbosa du Bocage), por exemplo, ainda que escrevesse uma série de textos históricos e morais, tem como obra mais popular uma coleção de 273 histórias curtas, levemente pornográficas (Decameron).
Era por demais extensa a lista de assuntos sobre os quais um humanista escrevia: pintura, escultura, arquitetura, filosofia moral, família, descrição das ruínas de Roma, matemáticas aplicadas, gramática, etc., como nos prova o legado do italiano Leon Battista Alberti (1404-1472) — arquiteto, teórico de arte e humanista que nutria grande paixão pelas artes visuais. O Renascimento foi marcado pela presença dos humanistas.
Os humanistas buscavam encontrar a existência humana ideal, levando em conta o equilíbrio justo. O poeta e humanista Francesco Petrarca — tido como o “Pai do Humanismo” — chegou a afirmar sobre sua cidade: “a tarefa de levar Pádua à sua majestade anterior não consistia tanto nos grandes projetos, mas nos pequenos detalhes”. Pondo em prática a sua visão humanista, aconselhou o governador de Pádua a arrumar as ruas da cidade e a obrigar os que tinham porcos a guardá-los fora dela.
Os humanistas atuavam como conselheiros nas cortes e nas cidades, prestando grande serviço à vida italiana. Segundo afirmavam, “com a ajuda da sabedoria antiga, um homem bem educado ou príncipe filósofo poderia servir o governo e a sua gente”. Voltando a Petrarca, um de seus conselhos famosos foi feito a Francesco Carrera — governador de Pádua: “Embora os soldados possam ser úteis em ocasiões, podendo realizar bons serviços em tempo de guerra, somente os homens que têm a capacidade de dar o conselho acertado no momento exato asseguram a fama do dirigente”.
Exercício
1. Qual era o interesse maior dos humanistas italianos?
2. O que aconteceu com a tomada de Constantinopla pelos turcos?
3. Quem foi Leon Battista Alberti?
Fontes de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
Renascimento/ Nicholas Mann
Views: 64
Lu
O conhecimento é de fato a principal moeda de vida. Fica muito evidente no Renascimento quando artes e ciência criaram novos paradigmas para a humanidade.
Antônio
A partir do Renascimento, os humanistas tiveram um papel muito importante na história da humanidade.
Abraços,
Lu
Lu
Esse assunto é muito interessante. Durante o Renascimento muitas pessoas cultas e inteligentes começaram a pensar diferente daquilo que as pessoas da Idade Média pensavam.
O humanismo renascentista, movimento intelectual e filosófico que se desenvolveu com muita força durante o período do Renascimento entre os séculos XV e XVI foi muito importante para a humanidade. O antropocentrismo que coloca o homem no centro do mundo foi o conceito pelo qual se apoiava este pensamento filosófico. Foi a base teórica e filosófica do movimento renascentista. Influenciou o Renascimento artístico, cultural e científico, sendo responsável por desenvolver as ciências, as artes, enfim, alavancar uma série de novas descobertas nas mais diferentes modalidades. Os humanistas pregam valores através dos quais o homem passa a ver e compreender a sua realidade e a tudo que o cerca.
Marinalva
O nascimento da filosofia humanista durante o Renascimento foi sem dúvida um dos mais altos pontos desse período fascinante da história da humanidade. Ele foi realmente “a base teórica” da Renascença.
Abraços,
Lu
Lu
Nesta aula achei interessante a citação da obra “Decameron” de Giovanni Boccaccio, onde há sátiras à Igreja, isso demonstra que o “Humanismo” foi o início do fim da influência da Igreja nas obras de artes? Minha sugestão: assistir ao belo filme “Decameron” de Paolo Pasolini, onde o diretor transporta para a tela alguns contos da obra de Boccaccio, mostrado com maestria e diálogos inteligentes, o marco literário da ruptura entre a moral medieval e o realismo.
Adevaldo
O Humanismo foi um grande passo para que houvesse o distanciamento da arte das rígidas influências da religião cristã, ainda que essa continuasse forte durante o Renascimento, uma vez que a Igreja era uma grande compradora de obras de arte, detentora de importantes mecenas. Praticamente todos os grandes mestres do Renascimento italiano trabalharam para ela. O filme em questão é muito bom e merece ser visto.
Abraços,
Lu
Lu
Texto muito objetivo sobre a descrição do humanismo no Renascimento.
O movimento renascentista foi um marco importante na transição da Idade Média para a Moderna. A essência principal desse movimento foi o antropocentrismo (o homem no centro do mundo), contrariando o teocentrismo (Deus no centro do do mundo). Isso foi importante para o surgimento de novos conceitos nas artes como um todo e até mesmo como estilo de vida. No Renascimento houve uma busca pelo resgate da cultura greco-romana e, ao mesmo tempo, houve o surgimento de um estilo próprio e suas peculariedades.
A independência em relação ao controle da religião na vida das pessoas foi como uma mola propulsora para o surgimento de novas ideias na poesia, na escultura, na arte pictórica, na arquitetura, ou seja, em todas as modalidades artísticas e no campo do pensamento em geral. Assim como um rio precisa de espaço para poder fluir naturalmente, sem qualquer forma de represamento, a mente também precisa de liberdade criar. A liberdade é um elemento imprescindível para o aperfeiçoamento.
Hernando
O Renascimento fez surgir uma nova visão de mundo, ao colocar o homem no centro de tudo, responsabilizando-o pelo seu agir. Ele deixa de creditar tudo a um ser supremo e passa a tomar para si suas ações. O surgimento do humanismo mostra como as pessoas iam se libertando das ideias preconcebidas, voltando para si mesmas, para o outro e para o espaço ao seu derredor. Ainda que a religião continuasse em pauta, ela ia se tornando cada vez menos opressora, principalmente no que diz respeito às mentes privilegiadas, como as citadas no texto. Mais uma vez fica patente que o saber liberta. Sem ele o homem não passa de um joguete nas mãos de outrem. Penso eu que nenhuma época deu um salto tão grande como aconteceu com a Renascença italiana.
Abraços,
Lu