Quando meus joelhos me obedeciam, eu seguia a canção. Cantava. Hoje não mais. Digo-lhes: sigam em frente. Eles param. Digo-lhes: parem. Eles continuam seguindo.
A situação, que se apresenta aos velhos hoje, está de conformidade com as direções dos pés de Jânio Quadros, na famosa foto de autoria de Erno Schneider, então do Jornal do Brasil, em l961.
Ficamos ou seguimos? Paramos ou voltamos? Vamos para lá ou para cá? Como nos situamos?
A memória, precária e benéfica, pois ao mesmo tempo em que se esquece das boas coisas também o faz em relação às dores, nos remete a um tempo que se apresenta cada vez mais longínquo: à primeira metade do século passado, quando a vida corria como a vida de nossos pais. De nossos antepassados até nós pouca diferença houve. Um pouco de progresso, de conforto. Um ferro elétrico substituiu o pesado ferro de brasa, um fogão elétrico viveu ao lado do de lenha, a penicilina apareceu para todos, a luz elétrica veio substituindo as velas e os lampiões, os automóveis foram surgindo nas cidades pequenas. Poucos mas conhecidos. E as mulheres começaram a levantar a cabeça.
Da minha geração para a de meus filhos houve uma ruptura tão abissal que pareço uma imaginosa anciã ao enumerar seus feitos: televisão, fita durex, geladeira, fogão a gás, máquina de lavar roupa, pílula anticoncepcional, direito de voto realmente exercido pelas mulheres que procuram carreiras antes nunca pensadas, independência financeira, liberdade sexual, computador e todo o avanço tecnológico advindo das pesquisas e descobertas em todas as áreas do conhecimento humano.
E chegamos nós a um século novo com uma bagagem pesada para dar leveza à vida. Estamos incrivelmente pesados e conhecendo, segundo as palavras do Padre Mário Monieri, a tormenta dos velhos lúcidos, que sentem a juventude de coração e de sentimentos morarem num corpo que não os acompanha. Então, como se começa toda conversa hoje em dia, então, o retrato dos pés do presidente explica bem a situação.
Perplexidade!
A curiosidade diante da vida não arrefece, o olhar perscruta o novo, o afeto junta pessoas de todas as idades. Uma mulher que passou por todos os percalços da vida, chegando à velhice, definiu como feliz a pessoa que não havia perdido a vontade de viver.
E não é que é verdade?
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Hila, você continua impagável com seus textos sábios e bem humorados. Não mais vou perdoar a sua ausência.
Abraços
Moacyr
Perdoa mesmo não, Moacyr. Não mereço perdão pela preguiça. Vou me regenerar, pode crer. Abraço. Hila Flávia
Pois é, Lu, voltei. Lembrei-me, diante de tantas idas e vindas, dos pés do presidente. É uma imagem que ficou realmente tatuada nos meus olhos. Na época, a manchete comentava incertezas. Estou feliz por estarmos juntas, novamente. A postagem ficou linda, como tudo no Vírus da Arte. Agradeço-lhe, de coração, a acolhida.
Carinhoso abraço.
Hila Flávia
Você merece, linda flor!
Hila,
Parabéns pelo interessante texto! Esta foto é antológica, pois bem ratifica a personalidade do ex-Presidente. Era um homem de inteligência aguçada e conhecimento brilhante, mas polêmico, e, às vezes, indeciso.
O fotógrafo foi muito feliz em registrar um momento raro e curioso, que se inseriu na história deste País.
Você fez uma boa relação, associando a foto aos nossos dias, ressaltando a relevância inegável do avanço tecnológico, que traz peso físico e emocional a todos nós.
Meu abraço,
Alfredo Domingos.
Obrigada pela leitura, Alfredo Domingos. Espero que nos encontremos sempre neste espaço tão bom. Abração.
Hila Flávia
Que delícia é tê-la aqui neste cantinho!
A casa é sua. Mande e desmande, mineirinha.
Veja que até enfeitei a casa de prateado para recebê-la.
Menina, você sempre me faz rir com suas indagações sérias e ao mesmo tempo cheias de humor. Eu amo o seu jeito de moleca, ao escrever, tanto é que jamais me esqueci da moça de sári azul… risos.
Hila, minha querida, onde foi que você escarafunchou essa foto do “Fi-lo porque qui-lo”?
Não sabia que ele dançava balé… risos. Será um “Demi-plié”?
Você se referiu aos dizeres do padre Mário Monieri, mas acredito eu, que a velhice está no modo de olhar a vida.
Existem velhos de 20 anos e jovens de 90.
Você será eternamente jovem, com essa sua alegria de viver.
Beijo no coração,
Lu
Pois é, Lu, fiquei mais animada e agradeço-lhe, de coração, a acolhida. É muito bom reencontrar amigos, muito bom mesmo. Os pés do presidente sempre me incomodaram, desde que vi a foto pela primeira vez. É um instante especial, não é? Realmente inesquecível. Abraço afetuoso da Hila Flávia