Autoria de Lu Dias Carvalho
(Clique no mapa para ampliá-lo.)
Antes de entrarmos na história da arte renascentista propriamente dita, faz-se necessário conhecermos um pouco mais sobre como se encontrava a Itália nos séculos XIV e XV (os chamados séculos da anarquia feudal), politicamente dividida entre várias famílias. Do século XIII em diante, as cidades do norte da Itália encontravam-se constantemente envolvidas em conflitos entre si (revoluções populares, briga de facções, golpes de Estado e até mesmo invasão de governantes estrangeiros), o que gerava grande instabilidade. O que acontecia no resto da Europa não era diferente do que vigorava na Itália, a exemplo da Guerra dos Cem anos entre Inglaterra e França.
Apesar de tanta turbulência, a Itália do Norte diferenciava do restante da Europa em três pontos importantes: 1. as ruínas romanas durante os séculos XIV e XV foram responsáveis pelo estudo da Antiguidade; 2. era uma das regiões mais ricas da Itália, onde se situavam as cidades de Gênova e Veneza (controlavam a maior parte do comércio do Mediterrâneo), enquanto Florença (a cidade mais rica do norte italiano) e Milão foram importantes centros de fabricação e de distribuição, possuindo uma significante classe média e um nível de educação maior; 3. essa parte da Itália estava dividida em cidades-estados — diferindo do restante da Europa —, sendo que seus habitantes comungavam os mesmos elementos de orgulho cívico e de identidade — características fundamentais para o surgimento do Renascimento na península italiana.
As inovações no limiar do Renascimento passaram a ser compreendidas pela sociedade. Os eruditos e os artistas da Itália do Norte eram cada vez mais prestigiados, trabalhando para as pessoas mais importantes das cidades que cresciam velozmente com a saída da nobreza do campo. A temática sobre arte e literatura abrangia um público cada vez maior, sendo usada para louvar as dinastias e as façanhas militares.
A máxima de Aristóteles de que “quem não é um cidadão não é um homem, uma vez que o homem é por natureza um ser cívico”, propagou com força entre as cidades italianas. Mais uma vez podemos notar como o desenvolvimento de uma cultura cívica com consciência própria é benéfica a um povo em qualquer que seja o tempo, a exemplo da Itália do Norte, responsável por infundir a concepção de renovação clássica — uma das partes mais interessantes e ricas da história da humanidade, conhecida como Renascimento. Tal estímulo deve ser, sem dúvida alguma, um dever de todo político que preza o crescimento cultural, econômico e social de seu país.
Enquanto isso acontecia na Itália, a Europa ao norte dos Alpes encontrava-se sob a tutela de governantes territoriais e de uma nobreza rural inculta, envolvida apenas com a “caça, mulheres e banquetes”, desprovida dos valores cívicos que alçavam a Itália a um novo patamar. Entretanto, tornava-se mais fácil para que as ideias renascentistas alcançassem os reinados principescos e aristocráticos da França, da Inglaterra e do norte da Europa, tanto pela passagem de invasores estrangeiros usando a Itália quer pelo desenvolvimento das técnicas de impressão que apressaram a propagação do Renascimento no norte dos Alpes. O Renascimento italiano, ao atravessar os Alpes, fundiu-se com tendências culturais mais antigas da pintura francesa e da flamenga.
A história do Renascimento fora da Itália está mesclada por grandes mudanças no campo político e religioso da Europa no século XVI. Enquanto na Idade Média a religião católica era responsável pela unificação da Europa, a Reforma de Martinho Lutero (1483-1546), iniciada no século XVI na Alemanha, foi responsável por dividi-la, jogando por terra o ideal de uma república cristã unida. E, como a arte é consequência dos acontecimentos de um determinado tempo, o Renascimento não ficou imune às mudanças. Embora se tratasse de um movimento cultural europeu, tomando o continente como um todo, o Renascimento foi moldado de acordo com as circunstâncias e condições particulares de cada um dos países por onde se irradiou. Assim, não existiu uma uniformidade cultural, mas uma diversidade de movimentos.
Exercício:
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder às questões abaixo:
1. Como era a Itália no limiar do Renascimento?
2. Qual foi a importância da Itália do Norte?
3. Como foi o Renascimento na Europa ao norte dos Alpes?
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
Renascimento/ Nicholas Mann
Arte e vida na Itália Renascentista / Coleção Folio
Views: 460