Autoria do Prof. Rodolpho Caniato
É um grande exercício de memória a comparação do que se tornou o Carnaval carioca com aquilo que também já era a maior festa popular, especialmente no Rio de Janeiro, mesmo nos anos trinta.
Em Copacabana, a grande atração era o desfile dos carros abertos pela Avenida Atlântica. Muita gente, principalmente as moças, em belas fantasias, atiravam confetes e serpentinas. As mais frequentes fantasias eram de pierrô, colombina, pirata, toureiro, odalisca e o “Flit”. Uma que me ficou gravada, pela sua originalidade e ocasião, era a de “soldado mata-mosquito”, em uniforme, com a maquininha de “Flit”, o inseticida usado no combate àqueles insetos, em campanha nacional.
É desse período a eleição do primeiro Rei Momo. Pelas calçadas também desfilavam foliões com fantasias e havia concentrações deles e “mascarados” nas “batalhas de confetes” e “lança-perfumes”. O lança-perfume ainda era, para a maioria, uma brincadeira ingênua. A coisa mais atrevida era esguichá-lo nas costas e nos decotes das moças, especialmente das mais bonitas e exuberantes. Era importado, em frascos de vidro, ou em tubos metálicos.
Os blocos ou “batucadas” vinham principalmente dos morros e eram constituídos em sua maioria por gente negra e mais humilde. O desfile de carros alegóricos, puxados por burros dos carros de lixo da Prefeitura, era organizado pelas “grandes sociedades”: os “Fenianos”, os “Tenentes do Diabo”, “Democráticos”, dentre outros, e eram feitos na Avenida Rio Branco, no centro da cidade, vindo na direção do obelisco. Os anos trinta marcaram também a consagração das marchinhas de carnaval. Certamente uma das de maior sucesso e, por isso, ficou gravada em minha memória foi “O teu cabelo não nega” de Lamartine Babo.
Acompanhando meus pais para assistir ao desfile das grandes sociedades na Avenida Rio Branco, vi e ouvi as primeiras referências aos bailes do Municipal, embora nunca tivesse entrado nele naqueles anos. Getúlio Vargas parece ter sido o primeiro político a entender o Carnaval como meio de comunicação, especialmente em relação às classes mais pobres da sociedade.
Nota: Extraído do livro “Corrupira”, ainda inédito, do autor.
Imagem: Carnaval, obra de Di Cavalcanti
Views: 0