A arte francesa sentia-se atraída pelo tema circense. Podemos constatar isso, principalmente, na obra dos impressionistas e pós-impressionistas, a exemplo de Degas, Renoir, Seurat e Van Gogh. Eles sentiam que, como artistas de vanguarda, era tão marginalizados quanto os artistas circenses. Esta obra é do período rosa de Picasso, caracterizada por uma escala de cores mais quentes, maravilhosamente trabalhadas, e de maior objetividade em sua narrativa.
A composição A Família de Saltimbancos, também conhecida como Os Saltimbancos, possui dimensões gigantescas. Nela estão presentes seis figuras, distantes e alineadas, que se encontram num lugar não identificado, sem nenhuma relação composicional ou emocional umas com as outras. Elas não interagem entre si, apenas olham para pontos fora da tela, à direita, excetuando duas delas. Como é possível notar, o artista usa a temática do circo como motivo para externar situações humanas, em que o mundo exterior não reflete o interior.
Os personagens do circo ocupam mais da metade da tela, num cenário sem tempo e sem espaço, enquanto uma mulher ocupa a parte restante. Ao contrário dos saltimbancos, vestidos como atores do circo, ela se mostra bem vestida, usando um chapéu enfeitado com flores. Encontra-se de frente para o observador, assim como os dois garotos e o bufão.
O olhar do arlequim, que se encontra de costas para o observador, está direcionado para a jovem. Uma garotinha, também de costas para o observador, carrega uma cesta de flores, iguais às que se encontram no chapéu da jovem mulher, podendo ser esse um indicativo da relação dela com o grupo. O observador depara-se com muitos erros conscientes deixados pelo pintor, a fim de criar uma visão perturbadora:
1. Os olhares dos personagens não se cruzam, a fim de estabelecer qualquer tipo de ligação.
2. O cotovelo do arlequim está numa posição impossível de ser vista.
3. O chapéu da moça parece pequeno demais para a sua cabeça.
4. O bufão descansa numa só perna, pois não se vê a segunda.
5. A garotinha usa sapatilhas de cores diferentes.
Ficha técnica
Ano: 1905
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: The National Gallery of Art, Washington, EUA
Fontes de pesquisa
Picasso/ Abril Coleções
Picasso/ Coleção Folha
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Views: 101
Alf
Picasso foi mesmo um pintor incrível.
Você escreve:
“Concluo que a circunstância dos atores não se olharem possa indicar que embora seja uma trupe, cada um tem a sua individualidade e trabalho na companhia. Será? Não sei…”
Pode ser, pois toda obra é aberta a novas interpretações.
Eu fico me perguntando se os erros foram mesmo intencionais.
Mas, resta-nos confiar no pintor… risos.
Abraços,
Lu
Lu,
O conteúdo desta tela navega numa certa estranheza. Porém, perfeitamente coerente com o personagem PICASSO, todo criativo e quebrador de regras, tanto na arte como nos amores. Concluo que a circunstância dos atores não se olharem possa indicar que embora seja uma trupe, cada um tem a sua individualidade e trabalho na companhia. Será? Não sei…
Mas a obra é fantástica!
Gostei dos erros em destaque, boa forma de nos avisar sobre eles.
Apenas um detalhe, ainda: o bufão, barrigudo, com chapéu esquisito e de vermelho, é bastante interessante. Coisa de PICASSO!
Abração,
Alfredo Domingos.