Autoria de Lu Dias Carvalho
Procurei todas as técnicas e voltei à simplicidade, diretamente, não sou mais moderna ou antiga, mas escrevo e pinto o que me encanta. (Anita Malfatti)
Quando viram minhas telas todas, acharam-nas feias, dantescas e todos ficaram tristes, não eram os santinhos do colégio. (Anita Malfatti)
Anita Malfatti é um temperamento nervoso e uma intelectualidade apurada, a serviço de seu século. (Oswald de Andrade)
A futura pioneira da arte moderna no Brasil, Anita Catarina Malfatti (1889-1964), que seria conhecida depois como Anita Malfatti, nasceu na cidade de São Paulo. Era a segunda filha do engenheiro civil italiano, Samuel Malfatti, e da estadunidense Elizabeth Krug, descendente de irlandeses e alemães, apelidada de Bety. Da capital paulista a família Malfatti mudou-se para Campinas, no interior do mesmo Estado. E em 1892, já naturalizado, o pai de Anita tornou-se deputado estadual e representante da colônia italiana.
Ainda bebê, a pequena Anita foi levada à Itália para ser operada de uma séria atrofia congênita que trazia no braço e na mão direitos. E, nesse período, nasceu o Guilherme, seu irmão mais novo. Dois anos depois, sem que a atrofia fosse totalmente reparada, a família retornou ao Brasil, onde a menina passou a fazer tratamento de fisioterapia, pois, embora não sendo canhota, teria que trabalhar com a mão esquerda. Dentre os exercícios estava o desenho. Nesse mesmo período nasceu sua irmã Georgina.
Anita começou estudando num colégio de freiras católicas, mas com a morte do pai, quando ela estava com cerca de 10 anos de idade, sua família teve que ir morar com os avós maternos, passando ela a estudar num colégio presbiteriano, hoje Mackenzie, onde finalizou seus estudos. Recebeu, portanto, uma dúplice formação religiosa, o que muito influiu em sua obra e vida. Passou a lecionar, mas tinha o pensamento sempre voltado para a pintura.
Aos 21 anos de idade, Anita conseguiu que sua tia e o tio George, irmão de sua mãe, apoiassem-na financeiramente numa viagem à Alemanha, para estudar, local para onde convergia toda a agitação do mundo artístico, com os mais diferentes movimentos de vanguarda. Foi nessa época que surgiram os artistas inconformados com as regras acadêmicas dos Salões oficiais e seus padrões estéticos. A jovem brasileira foi aluna de vários professores, dentre eles estava Lovis Corinth, muito conhecido à época. Mas com o prenúncio da Segunda Guerra Mundial, ela retornou ao Brasil, quatro anos depois, realizando numa das salas do Mappin a sua primeira exposição individual, sem nenhum tipo de êxito.
Reconhecendo que a garota ainda não estava amadurecida suficientemente para a arte, sua família enviou-a para estudar nos Estados Unidos, onde, em Nova York, passou a ter aulas com o professor Homer Boss, que dizia que “a arte é pura filosofia”. Segundo alguns estudiosos, foi nesse país que Anita criou suas mais notáveis obras, em razão da liberdade de estilo ali encontrada. Ao voltar a São Paulo, cerca de três anos depois, deixou sua família insatisfeita com suas pinturas, acusando-as de “horrorosas”. Entretanto, os jornalistas Di Cavalcanti e Menotti del Picchia ficaram arrebatados com os trabalhos dela, enquanto outros como Monteiro Lobato, que a criticou, dizendo: “seduzida pelas teorias do que ela chama de arte moderna, penetrou nos domínios de um Impressionismo discutibilíssimo, e pôs o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura… “.
Alguns estudiosos acham que a crítica de Monteiro Lobato teve influência na mudança de estilo de Anita, que passou a se encaminhar para uma linha mais “nacionalista”, em sua pintura. Passou a estudar com o pintor Pedro Alexandrino, famoso por suas naturezas-mortas. E foi em seu ateliê que conheceu aquela que seria sua grande amiga – Tarsila do Amaral, época em que se aproximou do grupo responsável pela organização da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, e que reencontrara Mário de Andrade, que viria a se tornar seu grande amigo e, posteriormente, seu inimigo. A presença de Anita na Semana de 1922 foi de grande importância, chegando a ser incensada como a pioneira do modernismo no Brasil, como apregoava Mário de Andrade.
Anita ganhou a bolsa de estudo do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, que a levou a Paris, onde participou de várias mostras coletivas e individuais. Contudo, o amigo Mário de Andrade, ferrenho modernista, tornara-se insatisfeito com os rumos que sua pintura tomara. E, quando ela realizou uma mostra individual na cidade de São Paulo, apresentando suas obras pintadas na Europa, onde não mais imperava as convicções estéticas do grupo modernista, foi o estopim para que acontecesse a cisão. Ela caiu de certa forma no ostracismo, tendo que dar aulas, mas não abandonou a pintura. Seu quadro Época de Colonização não foi aceito no Salão Oficial de Belas-Artes do Rio de Janeiro, onde Mário de Andrade era jurado. Ela atribuiu a inaceitabilidade de sua obra ao antigo amigo.
Passeando por Minas Gerais, Anita visitou Belo Horizonte e as cidades históricas de Ouro Preto, Congonhas e Mariana, onde compôs várias paisagens. Passava também temporadas em Itanhém e Embu, em São Paulo. Expôs em vários salões e na I Bienal Internacional de São Paulo e no I Salão Paulista de Arte Moderna. Com a morte da mãe, Anita e sua irmã Georgina ficaram vivendo numa chácara em Diadema e num apartamento na Barra Funda. Faleceu em São Paulo, aos 75 anos de idade.
Fonte de pesquisa
Anita Malfatti/ Coleção Folha
Nota: autorretrato da pintora
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