Autoria de Lu Dias Carvalho
Esconderam o falo do Príapo. É o que a gente chama de repinte de pudor; não é nada incomum. (Regina Pinto Moreira)
O pintor francês Nicolas Poussin (1594 – 1665) nasceu em Les Andelys, um vilarejo da Normandia, oriundo de uma família humilde. Era um artista extremamente perfeccionista. Antes de fazer uma pintura, ele estudava cuidadosamente suas partes, inclusive criando pequenas esculturas em terracota de suas figuras antes de pintá-las na tela. Para esta obra, estudou cuidadosamente os instrumentos musicais da Grécia Antiga, assim como os antigos baixos-relevos romanos.
A composição conhecida como Oferenda Floral a Himeneu, também intitulada Himeneu Travestido Assistindo à Dança de Honra a Príapo ou simplesmente Dança em Honra de Príapro, é uma obra do artista. Encontra-se presente em solo brasileiro, fazendo parte do acervo do Masp, desde 1958, sendo uma das mais importantes obras que ali se encontram.
Nos três últimos séculos, esta pintura passou por inúmeros retoques. No último deles, em 2009, sob a responsabilidade de uma equipe do Louvre juntamente com profissionais brasileiros, descobriu-se que Poussin havia feito uma pintura bem mais erotizada do que esta, chegando a pintar os órgãos genitais do deus Príapo (símbolo da fertilidade), encobrindo-os depois com tinta. Tal descoberta foi feita em solo brasileiro, pois as condições da pintura não permitiam a sua viagem para a França, vindo, portanto, os restauradores para o Brasil.
Para melhor entendimento da composição, o leitor precisa saber que diz respeito a figuras mitológicas. Comecemos por Príapo – deus da fertilidade na mitologia grega – filho da deusa Afrodite e de Baco. Enciumada, Hera (esposa de Zeus) fez com que Príapo nascesse deformado com um grande falo em permanente ereção. Por sua vez, Himeneu – dono de uma grande beleza – era filho de Apolo com uma musa. Onde se encontrasse, era seguido por mulheres apaixonadas. Os gregos evocavam o nome de Himeneu durante os casamentos para que os mesmos tivessem êxito. Himeneu é o deus grego do casamento. Seu nome já chegou a ser considerado a origem da palavra “hímen”, embora os linguistas digam não passar de uma mera coincidência.
A composição mostra um grande grupo de vinte mulheres casadoiras dançando, cantando e tocando instrumentos musicais diante da estátua de meio-corpo de Príapo, deus da fertilidade, para que elas tivessem sucesso na vida sexual e parissem muitos filhos. Ali também se encontra Himeneu, vestido de mulher, porque Príapo não aceitava homens em sua presença, sendo castigados aqueles que ousassem descumprir suas ordens.
Himeneu encontra-se na extrema direita, trajando vestes nas cores verde e vermelha. Na mão direita traz uma grinalda de flores e na esquerda um cesto com flores. A única coisa que o denuncia são suas sandálias, pois todas as mulheres encontram-se descalças. Ele se encontra ali porque está loucamente apaixonado por uma daquelas moças.
Esta composição de Poussin não conta com profundidade e nem perspectiva, sendo feita como se fosse um friso, ou seja, como um longo painel horizontal. Apenas a mulher ajoelhada diante da estátua de Príapo – como se colhesse flores – e a figura referente a Himeneu, posicionada na extrema direita, quebram sua horizontalidade. As figuras, organizadas nas mais diferentes posições, são parecidas com estátuas gregas.
Ficha técnica
Ano: c.1634/1638
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 167 x 376 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil
Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://peneira-cultural.blogspot.com.br/2013/08/renato-brolezzi-desvenda-poussin-o.html
https://selavy.wordpress.com/tag/sacrificio-a-priapo/
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