Autoria de Lu Dias Carvalho
Giovanni de Santi, pai de Rafael, era um homem culto, dramaturgo de sucesso e estudioso, que tinha excelentes relacionamentos. A pintura era o seu meio de ganhar a vida, embora fosse considerado sem talento para a profissão – crítica que nunca o desanimou e nem o tornou invejoso, pois era humilde em reconhecer suas limitações e o talento dos colegas. Tinha grandes pintores no rol de seus amigos, inclusive o famoso Piero dela Francesca que chegou se hospedar-se em sua casa. Tudo isso contribuiu para influenciar o filho a seguir seus passos. Rafael – ainda garoto – acompanhou seu pai numa visita ao grande mestre Perugino que se encontrava no ápice de sua fama. Segundo alguns críticos, tal contato foi de grande valia para a sua formação precoce de pintor.
A composição intitulada Deposição é uma obra do artista, executada quando ele tinha 25 anos de idade, tendo sido encomendada por Atalanta Baglioni em memória de seu filho Grifonetto, adornando a capela da família em Perugia. Contudo, depois de um século naquele lugar, esta obra foi levada clandestinamente para Roma e dada ao Cardeal Borghese como presente do Papa da época.
A obra de Rafael apresenta o corpo de Cristo, após ser descido da cruz, sendo carregado para o sepulcro, localizado numa rocha ao fundo. Em meio ao grupo que o conduz encontram-se dois coveiros, em primeiro plano. O que segura a mortalha pelo lado da cabeça é mais velho e aparenta dificuldades, como mostram suas pernas cambaleantes, enquanto o da direita, com seu corpo forte e curvado para trás, segura a mortalha com força, mantendo suas pernas eretas. Eles se mostram indiferentes, como se estivessem apressados para acabar o trabalho. Não trazem auréola (símbolo de divindade) sobre a cabeça.
O corpo suspenso de Jesus, em primeiro plano, já mostra a palidez da morte. Seus olhos e lábios estão extremamente roxeados. Em segundo plano encontram-se José de Arimateia, vestido com um manto verde e uma capa amarela; o discípulo João traz as mãos em postura de oração e a cabeça voltada para Cristo; Maria Madalena segura a mão do Mestre e fita-o com um olhar de pungente sofrimento; a Virgem Mãe desfalecida está sendo amparada pelas Santas Mulheres. Todos expressam muita dor em seus gestos, excetuando os dois coveiros.
Na parte superior, à direita, no Monte Calvário, ainda estão fincadas as três cruzes. Uma escada está recostada na cruz central de onde foi retirado o corpo ensanguentado de Cristo. Dois soldados ainda se encontram ali. O movimento, as tensões do corpo humano, os fortes contrastes e os efeitos de cor e ritmo foram a preocupação do artista ao executar a sua obra.
Ficha técnica
Ano: 1507
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 67 x 56 cm
Localização: Galleria Borghese, Roma, Itália
Fontes de pesquisa
Galleria Borghese/ Os Tesouros do Cardeal
1000 obras-primas da pintura europeia/ Köneman
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