Autoria do Prof. Pierre Santos
O óleo sobre tela Esponsais da Virgem (ou Casamento da Virgem) é um quadro de composição e significado muito óbvios, calcado no mestre Perugino, apenas aperfeiçoado, com todas as linhas mestras de perspectiva indo morrer no meio da parte inferior da porta do santuário, numa convergência sistemática, e definindo a distribuição de maneira dosada de todos os pesos plásticos no espaço compositivo. Embora seja uma soberba demonstração de técnica, já superior à do mestre, é flagrante a falta de inventividade – apesar de a tela ser perfeitamente agradável à visão. Mas, aqui há uma novidade: ao que me consta, a partir daí, em todos os quadros de variados figurantes, Rafael sempre se incluiu na pele de algum figurante e incluiu também Perugino algumas vezes. Ali estão eles, como convidados a assistirem ao casório de Maria: são a antepenúltima e a penúltima figuras, à direita do friso.
Ao ver, mesmo de pertinho lá em Florença, a Madonna do Pintassilgo, é difícil de convencer de que se trata de têmpera, pois há efeitos aí que, a rigor, só se consegue com óleo. Mas eles aí estão e o quadro é pintado a têmpera! Como é bonita e convincente – naturalmente em se considerando a época da pintura – esta paisagem tão bem colorida e iluminada! À sua frente, presas num triângulo, as três figuras. O escorço, o volume sensual como são concebidas, é de dar inveja a qualquer acadêmico de hoje, com todos os recursos que têm. Sente-se perfeitamente o espaço e a luz que existem, por exemplo, entre a parte esquerda da cabeça de Batista e a parte azul do manto que cai do ombro da Virgem. Apesar de tudo, nunca me convenceu a figura do Menino Jesus com sua expressão concentrada de benevolência, pois mais parece um velho senhor em plena posse de suas faculdades mentais, e não uma criança praticamente de colo, que ainda mama, começando a viver.
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