Autoria de Rodrigo Morais
Na nossa sociedade, infelizmente, a confusão entre diagnóstico (que identifica uma situação para indicar os tratamentos, buscando melhor qualidade de vida) e “rótulo” (ideia de julgamento social, baseada nos preconceitos e estereótipos) tem lançado uma neblina na compreensão de muitas pessoas, que ao invés de popularizar as informações sobre os transtornos (aumentando sua aceitação e reduzindo a invisibilidade social), incita-as ao entendimento de diagnóstico como rótulo, como indutor de estigma social; levando-as à tentativas constantes de relativização do diagnóstico, minimização e manipulação de informações. Como se, para alguém que tem um transtorno psicológico real, o fato de transmitir a outra pessoa a percepção de que não possui aquela condição, e perceber nessa pessoa algum acolhimento, pudesse em si livrá-la de todos os sintomas e dificuldades decorrentes de sua situação real, de forma quase mágica.
Eu lido com uma situação dessa. Tenho uma companheira que foi diagnosticada com TAB (Transtorno Afetivo Bipolar) aos 14 anos (seu pai possui TAB, depressão, esquizofrenia e mais recentemente, desenvolveu Alzheimer). Foi atendida regularmente por psiquiatra e medicada durante mais de 14 anos com estabilizante de humor e antidepressivo. Devido ao comportamento do pai, seu ambiente familiar foi instável, traumático, conturbado e abusivo em todos os níveis. A mãe, impotente diante do desequilíbrio do pai, possivelmente entendia que era uma forma de “compensá-los” deixando-os fazer o que queriam e mentindo, encobrindo diversas situações do pai, sem enxergar os outros problemas que isso iria gerar.
Até onde conheço, não é indicado o uso de cannabis para pessoas que tem TAB, porém ela fuma maconha desde a adolescência, como infelizmente é comum em muitos círculos sociais, fazendo uso quase diário, durante alguns períodos, intercalando com ciclos de maior intervalo. Durante o nosso namoro, eu não tinha conhecimento da situação, achava estranho que, nalguns dias, ela ficava o dia inteiro na cama. Falava que era depressão, que ia passar. Dizia que tomava medicamentos, mas que seu objetivo era reduzir a utilização, até não precisar mais. Após idas e vindas, tivemos um filho e iniciamos uma vida em conjunto na tentativa de criá-lo da melhor forma.
Foram 3 anos de muitos abusos emocionais, desequilíbrio, agressões verbais constantes, insegurança psicológica, e oscilações no comportamento (pontuados, sim, por alguns momentos bons), culminando em um episódio em que ela decidiu (por conta própria, contra todos os meus pedidos) amamentar nosso filho, horas depois de ter fumado maconha. Minha preocupação não é moral (ela é adulta e já está lidando com as consequências), e sim com a saúde do meu filho.
Eu havia enviado estudos de diversas fontes, todos desaconselhando uso de maconha em situação de amamentação, e já havia pedido que não fizesse isso. Ela havia dito que concordava, mas na hora mudou e disse que nunca tinha concordado (gaslighting) e que aquilo era questão de opinião e ela pensava diferente. Precisei dizer a ela que caso continuasse, eu chamaria a mãe dela ou a polícia – isso a fez parar de amamentar, mas imediatamente começou a relativizar a situação, dizendo que eu estava falando de forma agressiva, e isso também afetava o nosso filho. Naquele momento, acho que perdi qualquer admiração e amor que ainda restava por ela, ao ver quão irresponsável estava sendo, relativizando a situação e tentando me colocar como responsável.
O relacionamento agora está caminhando para uma separação (detalhei um pouco das situações em outras postagens que fiz aqui neste fórum). Hoje em dia, uma separação geralmente se encaminha para uma guarda compartilhada, mas confesso que tenho muita dúvida sobre a condição dela de criar um filho. Preparar refeições, dar banho, e colocar para dormir são coisas que dividimos e ela faz sem dificuldades, até aí sem problemas, a questão é pensar na formação de personalidade, caráter, princípios e valores ao longo dos anos.
Na atual situação (vivendo juntos e dividindo as tarefas), por diversas vezes perde a hora, dorme demais, desiste das coisas. Esquece coisas importantes. Acorda tarde e trabalha com a roupa com que dormiu. Imagino como seria numa situação de morar sozinha e ter de cuidar de si e do nosso filho. Sem falar de outros hábitos familiares/culturais, como críticas em excesso, inveja, desmerecer as conquistas dos outros, reclamações e pessimismo constante. Não quero que meu filho seja mais um a fazer parte dessa espiral descendente.
Ela não tem dialogo comigo, quando temos qualquer desentendimento banal que um casal resolveria facilmente. Habitualmente leva essas situações nossas para “desabafar” com outras pessoas (obviamente, contando a versão dela), expondo nossa vida. O maior problema é que a partir do nascimento de nosso filho, ela passou a consultar-se com uma psiquiatra online que, segundo ela, “removeu” seu diagnóstico de TAB, dizendo que ela tem TDH. É triste dizer, convivo com ela faz 6 anos, morando juntos a mais de 3 anos e posso afirmar pelo convívio e pelas inúmeras situações que vivemos, que ela tem todos os sintomas de TAB e que está piorando a cada dia.
Minha esposa tem uma grande capacidade de convencimento, manipulação, terceirização de responsabilidade… Eu não sei o que ela falava para a psiquiatra dela, pois nunca deixou que eu participasse de uma sessão sequer (ela se trancava no quarto para ninguém ouvir), sendo que é altamente recomendado que alguém acompanhe, pelo menos, alguns minutos, pois a percepção da pessoa pode ser muito diferente da realidade. A psiquiatra é de outra cidade, atende pela internet no horário marcado, não consegue enxergar o conjunto de evidências da vida dela que não condiz com o que ela supostamente falou. Desconfio que tenha induzido a psiquiatra a remover esse diagnóstico (até onde sei, não realizaram nenhuma tomografia de crânio, ou seja as evidências que a psiquiatra tem, são unicamente as coisas que ela falava).
Confesso que estou em grande dúvida a respeito de seguir com uma separação amigável (guarda compartilhada) ou avançar para um pedido de guarda unilateral do meu filho. Sei que isso traria outros problemas também….
Agradeço se alguém tiver algum insight sobre a situação.
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Rodrigo
Sua situação é mesmo muito delicada, pois envolve seu bem maior – o filho. Essa é uma das encruzilhadas em que a vida coloca-nos vez ou outra. Se sua esposa abrisse mão da tutela do filho, seria o ideal, pois não acarretaria desgaste para você e para ela. Quanto à preocupação com o seu filho, é mais do que natural, pois tal transtorno causa danos a todos os que estão em volta.
Sugiro que procure um advogado de família para que ele lhe dê todas as coordenadas relativas ao seu caso. Penso que, inclusive, ela terá que passar, queira ou não, pelo diagnóstico de um psiquiatra, para que se dê andamento ao processo.
Nós, deste espaço, torcemos para que o melhor seja feito, principalmente para a criança. Continue nos informando sobre seu caso.
Abraços,
Lu
Rodrigo
Passei por situações semelhantes com o meu ex marido, porém, no caso dele era álcool, cigarro e promiscuidade. Pesadelo seria a descrição do convívio que tivemos.