UM NOVO ESTILO – REALISMO (Aula nº 80)

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho                                               (Clique na imagem para ampliá-la.)

Na nossa viagem pela História da Arte passamos por diferentes épocas da história da humanidade: Pré-História (Período Paleolítico/ Período Neolítico/ Idade dos Metais), Antiguidade, quando nos defrontamos com a arte do Mundo Antigo (Egito/ Grécia/ Roma) e a Arte Bizantina. Na Idade Média tivemos contato com dois importantes estilos: Românico e Gótico. Na Idade Moderna travamos contato com os seguintes estilos: Renascimento, Maneirismo, Barroco e Rococó. Adentramos na Idade Contemporânea — esta em que vivemos, iniciada no século XVIII, continuando até os nossos dias —, responsável por um grande leque de estilos. Já vimos: Neoclassicismo, Romantismo e agora nos embrenhamos na história do Realismo.

O Realismo — movimento que surgiu na França em meados do século XIX — tinha como objetivo o afastamento formal e estilístico das cenas idealizadas e naturais, assim como da pintura histórica que obedecia aos ditames da arte acadêmica do início do século XIX. O novo estilo desejava romper definitivamente com a tradição artística do passado, ao buscar uma arte objetiva em suas representações e referências. Suas sementes foram lançadas quando em Paris, no final da década de 1840, um grupo de artistas, escritores e intelectuais passaram a reunir-se num bar, Brasserie Ander, onde debatiam variados assuntos, abrangendo desde políticas radicais e questões sociais a tendências artísticas. O local passou a ser chamado de o “Templo do Realismo”, nome que o pintor francês Gustave Courbet viria a usar posteriormente em sua arte.

O desenvolvimento de uma consciência social cada vez maior e de uma crença na democracia e na liberdade individual fez com que revoltas políticas estourassem na metade do século XIX. As ideias fundamentais dos filósofos alemães — Karl Max e Friedrich Engels — que pregavam a igualdade social e a distribuição justa das riquezas, espalharam-se, tornando-se a razão de grande parte da obra realista. Dentre os fatores que contribuíram para que as ideias realistas ganhassem vida estava a situação dos pobres das áreas urbanas e rurais. Eles se viram numa situação de privação e miséria em razão do crescimento descontrolado da população, das inúmeras quebras de safras e do aceleramento da industrialização. Esta junção de fatores acabou gerando grande instabilidade, resultando na Revolução de fevereiro de 1848 que teve como ganho a garantia do voto universal para os homens, assim como o “direito ao trabalho”. Dentro de tal contexto os pobres passaram a ter voz na política.

Os pintores realistas aproveitaram-se de tais transformações sociais e políticas para contestarem tudo aquilo que não aceitavam, como o fato de as autoridades artísticas dizerem-lhes o que podiam ou não fazer, ou a presunção de que só um fato importante podia ser algo digno da arte. Também mostraram sua indiferença pelo Romantismo (estilo anterior), ao retratarem pessoas e acontecimentos do dia a dia, usando um estilo de pintura naturalístico, quase fotográfico, tendo como principal objetivo a observação o mais fiel possível. As cenas eram pintadas na maioria das vezes em grandes telas, com a intenção de dar-lhes a mesma importância conferida às pinturas que representavam grandes eventos históricos. Aos realistas não importava mostrar figuras belas ou feias, mas mostrá-las simplesmente reais.

O pintor francês Gustave Courbet é tido como o líder do movimento realista, sendo que sua obra intitulada “O Ateliê do Artista” é vista como uma declaração de seus princípios políticos e artísticos. Ao mesmo tempo em que compõe sua obra usando um estilo grandioso, próprio da pintura histórica, aborda uma temática realista ao apresentar seu estúdio, onde se reuniam pessoas das mais diferentes classes sociais, evidenciando sua crítica à postura idealizada da arte acadêmica. Sua tela não foi aceita pelo júri do Salão de Paris de 1855. Em resposta Courbet construiu um espaço próprio intitulado “Le Réalisme” que acabou atraindo uma geração mais jovem de artistas parisienses.

Os pintores realistas encontraram no interior rural um lugar propício para suas obras, nas quais retratam principalmente paisagens tristes. As pinturas rurais foram objeto, sobretudo para os artistas da chamada “Escola de Barbizon”, criada por um grupo de pintores sob a liderança de Jean-Baptiste-Camille Corot, Thèodore Rousseau, Jean-François Millet e Charles-François Daubiny, que se inspirou nas cenas pintadas pelo artista inglês John Constantable. Eles não só pintaram a natureza como tema principal, como nela inseriram personagens, a exemplo de Millet em sua obra “Os Catadores” em que inclui camponeses. Os membros desse grupo tinham em comum, sobretudo, a repulsa pela artificialidade da arte acadêmica. Propunham-se representar as cenas que viam com o maior realismo possível. Esses artistas foram mais tarde citados pelos impressionistas como inspiração para o novo estilo que criariam — o Impressionismo.

Os críticos que até então conviviam com as formas idealizadas da arte acadêmica achavam tudo aquilo bizarro. Para eles os artistas realistas faziam uma busca deliberada pela feiura. No entanto, os realistas não tinham compromisso com a beleza, mas com a verdade. Transgredir a arte acadêmica à época era tido como um absurdo sob o ponto de vista dos imponentes censores da arte. Achavam, por exemplo, um disparate o tamanho grandioso das pinturas naturalistas que retratavam as cenas rurais que para eles tinham apenas a finalidade de transmitir aos cidadãos urbanos certo escapismo. E pior, essas ainda mostravam as condições do trabalho daquela gente, o que para os conservadores cheirava perigosamente a socialismo.

A França, ao abraçar um movimento coerente com seus ideais, foi a grande fomentadora do Realismo. As tendências naturalistas, ainda que em menor escala, ganharam projeção em vários países europeus, como Áustria, Alemanha e Itália, o que possibilitou diferentes graus deste estilo. Em seu contexto, o Realismo também apresentou formas chocantes para a época, sendo vistas pela maior parte dos críticos e público como ofensivas. É fato que alguns artistas realistas tinham por objetivo agredir as ditadoras convenções artísticas, mas também queriam atacar as conveniências sociais que eram, ao mesmo tempo, sociais e artísticas, uma vez que eles tinham compromisso com a realidade. Courbet, por exemplo, ao apresentar sua pintura “As Banhistas” provocou um escarcéu no Salão de Paris de 1853, sendo sua tela vista como ofensa pública.  A mesma pressão e crítica sofreu Manet, dez anos depois, com sua tela “Olympia”, uma versão do decantado tema de Vênus.

Ilustração: O Ateliê do Artista, 1855, Courbet

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

4 comentaram em “UM NOVO ESTILO – REALISMO (Aula nº 80)

  1. Marinalva Autor do post

    Lu

    O movimento surgido na França, séc. XIX, conhecido como Realismo, foi um movimento artístico que trouxe muitas mudanças. No período da 2a. Revolução Industrial havia nos países europeus mudanças sociais, culturais e políticas, no tocante à ciência, à filosofia e tecnologia, mudanças essas transpostas para a literatura, escultura e outras. No Realismo as obras não possuem subterfúgios, como na vida real, assim se valoriza os fatos, sem idealismos ou imaginação exagerada. O artista retrata fatos da sociedade, os problemas enfrentados por ela em tempo real, em sua época e contexto histórico.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      A arte é fruto dos acontecimentos de uma época. É por isso que sempre haverá novos estilos surgindo. A Idade Contemporânea foi pródiga em estilos artísticos, pois tem passado por várias mudanças em seu decorrer. Realmente “No Realismo as obras não possuem subterfúgios, como na vida real, assim se valoriza os fatos, sem idealismos ou imaginação exagerada”.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Hernando Martins

    Lu

    Como é interessante o surgimento dos estilos de época! Eles sempre vão mudando de acordo com os acontecimentos ocorridos na vida dos povos. O Romantismo foi um estilo de época em que os artistas utilizaram suas obras para denunciar as opressões vividas, trazia uma aspiração de liberdade bem caracterizada. O Realismo surge num mundo com grandes transformações de conceitos científicos, econômicos e sociais, período em que surge o pai do positivismo, Comte, Charles Darwin, da ciência, Engels, Marx, da economia, enfim, vários ícones em diversos setores influenciaram a visão de mundo. Os artistas são para-raios capazes de captar o momento socioeconômico e político de um tempo. Os realistas conseguiram elaborar obras objetivas de cunho social para mostrar os acontecimentos com a impessoalidade e a veracidade dos fatos ocorridos naquele período.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Os artistas são realmente bem mais sensíveis e por isso captam as mudanças com mais intensidade, transformando-as em obras e, através dessas, repassam seus sentimentos às pessoas. Como bem diz em seu comentário: “Os artistas são para-raios capazes de captar o momento socioeconômico e político de um tempo”.

      Abraços,

      Lu

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *