UM NOVO ESTILO – ROMANTISMO (Aula nº 79)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Nesta nossa viagem pela História da Arte já passamos por diferentes épocas da história da humanidade.  Iniciamos pela Pré-História (Período Paleolítico/ Período Neolítico/ Idade dos Metais). Seguimos depois pela Antiguidade, quando nos defrontamos com a arte do Mundo Antigo (Egito/ Grécia/ Roma) e fechamos esse portal do tempo com a Arte Bizantina. Na Idade Média tivemos contato com dois importantes estilos: Românico e Gótico. Na Idade Moderna travamos contato com os seguintes estilos: Renascimento, Maneirismo, Barroco e Rococó. Adentramos na Idade Contemporânea — esta em que vivemos e que se iniciou no século XVIII, continuando até os nossos dias —, responsável por um grande leque de estilos que se abre maravilhosamente diante de nós. Iniciamos nossa viagem pelo estilo conhecido como Neoclassicismo e hoje vamos conhecer o Romantismo.

O Romantismo foi um estilo ligado às artes que teve início no final do século XVIII e atingiu sua plenitude no início do século XIX. Nasceu da visão dos filósofos alemães — Immanuel Kant, Karl Schlegel e George Hegel —, para os quais o mundo interior do artista era a essência da esfera romântica. Para tal visão contribuíram certas precondições filosóficas, políticas, sociais e artísticas, existentes à época, que puseram em primeiro plano a imaginação individual e a criatividade, sem que essas ficassem atreladas a quaisquer impedimentos. O movimento romântico carregava em si uma visão emotiva e intuitiva em oposição ao tratamento comedido e racional que se dava ao “clássico”.  

A reação ao racionalismo iluminista do século XVIII foi em parte responsável pelo surgimento do Romantismo. Os pensadores do Iluminismo haviam tentado encontrar uma ordem racional que fosse capaz de eliminar as superstições e os ideais religiosos que se espalhavam pelo mundo do pensamento inteligente, o que acabou não se concretizando, resultando numa grande desilusão, uma vez que o caos e as guerras continuavam existindo. Isso acabou ajudando a estimular o novo estilo.

Outro fator responsável pelo desenvolvimento do Romantismo foi a Revolução Industrial europeia que deu início a um período de caos social, despertando nas pessoas um sentimento de impotência diante das forças antinaturais da mecanização que se fazia cada vez mais presentes. O Romantismo acabou fazendo com que essa frustração desaguasse na relação especial do homem com a natureza intocada, selvagem e inculta, como expôs o teórico francês Jean-Jacques Rousseau e como externou o pintou J.M.W. Turner em sua tela denominada “Vapor numa Tempestade” que veremos mais à frente.

Os românticos objetivavam fazer reaparecer o lado espiritual e fantástico da Idade Média, fundamentalmente moderno, sob a alegação de que esse fora corrompido pela regressão pagã do Renascimento materialista. As ideias relativas ao Romantismo espalharam-se por toda a Europa, mas França, Alemanha, Suíça e Grã-Bretanha abraçaram-nas com paixão. A arte dos Estados Unidos — principalmente a pintura de paisagem — também sofreu grande influência deste estilo que, ao se interessar pela Idade Média, contribuiu em grande escala para o ressurgimento da arte pré-rafaelista por parte dos nazarenos alemães, retomando o interesse pelo gótico na arquitetura, principalmente na Inglaterra.  A escultura foi enriquecida com a representação de animais e foi menos afetada pelas diretrizes românticas — ao contrário da pintura que era tida à época como uma arte totalmente antirromântica.

O termo “romântico”, usado livremente para referir-se a uma visão saudosista do passado, ganhou intensidade com o renascimento vigoroso do estilo Gótico na arquitetura, sobretudo na Inglaterra. Porém, no final do século XVIII, um grupo de autores alemães passou a fazer uso de tal termo, dando-lhe um sentido diferente, ou seja, como o oposto do Classicismo, no que dizia respeito aos valores tradicionais. Enquanto o Classicismo valorizava a razão e a ordem, o Romantismo prezava o poder da imaginação, as emoções e o individualismo.

Na França havia uma disputa entre românticos e classicistas. Enquanto os primeiros — liderados por Eugène Delacroix — eram coloristas e suas obras muitas vezes pareciam inacabadas, os segundos — liderados por Jean-August-Dominique Ingres — viam no traço e no acabamento esmaltado os dois pontos mais importantes da arte. Por sua vez os nazarenos (grupo de pintores românticos alemães do início do século XIX que pretendiam reviver a honestidade e a espiritualidade na arte cristã, e cujo nome nasceu como zombaria em razão de sua afetação do modo de usar roupas e estilo de cabelo segundo o modo bíblico) na Alemanha, inspiravam-se no passado, mas não se atinham às normas acadêmicas impostas pelo Neoclassicismo — estilo anterior. Outro ponto em que clássicos e românticos diferiam era na criação de paisagens. Os primeiros trabalhavam a natureza de modo que essa se adequasse a suas composições ordenadas, enquanto os últimos retratavam-na selvagem e afoita.  

Os valores queridos aos românticos podiam ser vistos de diferentes maneiras: opção por mostrar o indivíduo opresso pelas forças da natureza; o individualismo ancorado no espírito de revolta; levantes populares contra o Estado dominante; e os movimentos nacionalistas. Eles trabalhavam com um grande leque de temas: horror, violência, loucura, sobrenatural, ideias exóticas, visionárias e místicas. Era comum que reproduzissem cenas históricas ou lendárias referentes à Idade Média. O movimento romântico apregoava a exacerbação das emoções, a agitação da psicologia humana e a força incontida da natureza, capaz de sobrepor à da própria humanidade, como mostra a pintura do artista francês Theodore Géricault, intitulada “A Jangada da Medusa” que também veremos mais à frente.

O Romantismo foi muito mais uma questão de ponto de vista, o que torna quase impossível analisá-lo em termos de conjunto de características. No entanto, podem ser citadas algumas tendências pictóricas predominantes, como a extrema linearidade dos alemães e a acentuada “pictorialidade” dos franceses. Alguns artistas também mostraram grande interesse pela cor, quer seja por seu potencial vibrante, quer seja pela criação de efeitos vibrantes. No que diz respeito à pintura histórica, essa deixou para trás sua supremacia moral vista no estilo Neoclássico, passando a fundir-se, muitas vezes, à pintura de gênero. Por sua vez a paisagem alcançou seu auge, sendo tida por muitos como a mais importante forma de arte do novo estilo. O Romantismo passou a dar lugar aos realistas nos anos 1840, quando esses passaram a retratar o presente com uma visão menos afeita à emotividade.

Ilustração: A Liberdade Guiando o Povo, 1830, Delacroix

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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6 comentaram em “UM NOVO ESTILO – ROMANTISMO (Aula nº 79)

  1. Marinalva

    Lu
    A mente criativa dos artistas não têm limites! Cada artista com seu modo peculiar de pensar, criar e expressar, contribuindo para a grande diversidade artística em todos os tempos e em muitos lugares.

    Após termos estudado vários estilos artísticos, chegamos ao Romantismo, movimento em que a arte e a cultura revolucionaram a sociedade nos séculos XVIII e XIX, envolvendo não só as áreas artísticas, mas também as da política e da filosofia. O objetivo era reaver a sensibilidade e o emocional individual das pessoas. O Romantismo se define por usar o fantasioso e o sentimentalismo excessivo. Mudou-se para um outro estilo de vida no campo artístico e também da liderança aristocrática para a burguesa.*

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      Já percorremos um grande caminho nesta nossa viagem pelos estilos de arte. Agora, na Idade Contemporânea, já deixamos para trás o Neoclassicismo e nos encontramos a visitar o Romantismo. Iremos ver obras incríveis. É muito bom contar com a sua companhia.

      Abraços,

      Lu

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  2. Hernando Martins

    Lu
    O conhecimento é infinito e dinâmico, observado em toda a trajetória da história da humanidade. Especificamente no campo das artes observam-se grandes mudanças artísticas nas várias fases da História. O Romantismo surgiu como um movimento filosófico, artístico e político em decorrência do racionalismo do Iluminismo e do Neoclassicismo, dificultando a criatividade dos artistas ao expressarem suas emoções. O ambiente político e econômico da época, através da Revolução Industrial, promoveu muitas mudanças sociais, transformando o pensamento das pessoas do período. Foi nesse contexto que a burguesia ocupou o lugar da aristocracia no controle político, pois no campo econômico ela já dominava. A arte é sempre o resultado de uma revolução intelectual em determinado época da história, sendo materializada através de trabalhos belíssimos na escrita, pintura, escultura, música, arquitetura e muitas outras modalidades de expressão.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      A História da Arte mostra a inconformidade do homem com determinados acontecimentos de cada época. É por isso que um novo estilo sempre nasce em contestação a outro. O mais interessante é que muitas vezes se parece com a dança das cadeiras, num vai e vem constante. A força do classicismo dos gregos e romanos é enorme, presentes em diferentes épocas, numa tentativa de recriar a arte desse período, ainda que por novos caminhos. Como você bem disse, a arte é a primeira a mostrar as mudanças em decorrência dos acontecimentos de uma determinada época.

      Abraços,

      Lu

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  3. Adevaldo R. de Souza

    Lu
    O Romantismo foi um estilo bastante diferente do Neoclássico. O primeiro apresentou uma visão emotiva e intuitiva, enquanto o segundo tinha um tratamento comedido e racional. Seguindo os passos da história, o Romantismo desenvolveu-se em um período conturbado: Revolução Francesa, ascensão de Bonaparte com invasão a Portugal e fuga de Dom João VI para o Brasil, além do período da Revolução Industrial. Essa última levou à consequente ascensão dos valores da burguesia e marginalização de parcela da sociedade (miseráveis trabalhadores nas minas de carvão). Penso que a partir daí aumentaram os desníveis sociais, existentes até os dias de hoje. Imagino que à época tenham surgidos várias obras com esse tema, como “Germinal”, uma obra prima de Émile Zola.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Sua análise está perfeita. A Revolução Industrial deixou bem clara a divisão social, ao ampliar os desníveis sociais, como bem disse você, desníveis esses que ampliam cada vez em nossos tempos. Estudaremos composições que ampliarão esta visão de que fala.

      Abraços,

      Lu

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