Autoria de Lu Dias Carvalho
Corre à boca miúda que as intrigas no reino estão a mil por hora. Não há um santo dia em que a cobra não fume. O rei e seu guru astrólogo – corda e caçamba – parecem navegar à deriva das declarações insensatas, querendo mudar o andar da carruagem a ferro e fogo, como se fossem a fina flor da sapiência. A permanecer assim não será de admirar que a vaca acabe indo para o brejo mais cedo do que se imagina. Enquanto a trama é urdida, os súditos veem o reino curvar-se à la diable (desordenadamente). Contudo, em meio a tanto destempero, um raio de luz fez-se presente: o vice-rei saiu de sua discrição e deu um chega para lá no guru que tem por obsessão mostrar-lhe que a porta do palácio é serventia do reino, ainda que diga que não tem “bosta nenhuma” a ver com o pedido de impeachment feito contra o vice-rei por certo pastor de quelelê.
Como é sabido até mesmo pelos ratos que frequentam as cozinhas do reino, o guru astrólogo desceu a ripa no staff real, direcionando a pancadaria maior sobre os homens das espadas. Alegou que dentro do governo há “só intriga, só sacanagem, só egoísmo, só vaidade…”. Os súditos, embasbacados, passaram a se perguntar como é que um reino que se diz fundamentado nos preceitos cristãos – embasado na família e na honra – pode ser um local propício à sacanagem, à devassidão e à pouca-vergonha? Além disso, o fato de saber que os fardados guardiões da pátria só estão preocupados em pintar as madeixas e impostar a voz – conforme afirmação do guru –, deixando a pátria à deriva, a trancos e barrancos, a trouxe-mouxe, ao Deus nos acuda, deixou as gentes do lugar ainda mais receosas. Abyssus abyssum invocat! (O abismo chama o abismo!).
O astrólogo real estava mesmo a fim de abusar da boa vontade dos generais do reino, ao dizer que eles não tinham vergonha na cara. Estaria o torunguenga fazendo um péssimo uso do poder que a família real lhe deu, ou seria apenas o porta-voz da imprudência, insensatez e leviandade que ela lhe outorgou? Ainda mais quando é visto no palácio como o mentor e filósofo da realeza, responsável por sua subida ao trono do reino e por escolher muitos de seus asseclas. Se assim for, na verdade trata-se apenas de uma ação entre amigos do peito – um tomando para si a responsabilidade do insulto desferido e o outro o referendando. A julgar pelos últimos resultados, os vassalos presumem que o soberano acertou na mira, mas errou o alvo, ao dar munição para o seu mentor despirocado, ou os fatos não passam de um jogo de cena até que a poeira baixe, continuando tudo como dantes no quartel de Abrantes.
O guru real perdeu a compostura quando foi chamado de “astrólogo” pelo vice-rei que, cansado de tanto levar chicotadas, desabafou: “Acho que ele se deve limitar à função que desempenha bem, que é a de astrólogo. Pode continuar a prever as coisas aí que ele é bom nisso!”. Se alguém quiser matar o mentor real de raiva é chamá-lo de “astrólogo”. Era certo, portanto, que o vice-rei – chamado de “modelo” pelo guru – não perderia por esperar, pois seu desafeto viria afiado como uma navalha, uma vez que sua língua viperina não perdoa. E foi exatamente isso o que aconteceu.
Munido de grande ódio e instigados pelos príncipes reais – um deles é louco e o outro é deslumbrado, segundo o presidente da Câmara do reino – , o guru tresloucado disse cobra e lagartos acerca do vice-rei e outros fardados ocupantes do reino. Agora, quem o chamará à responsabilidade? Ninguém! Ele se assenta ao lado do trono real, o que lhe dá o direito de ser tão delicado quanto um hipopótamo e tão filosófico e racional quanto Incitatus. Ave, César! O tempo fechou, agora além da queda vem o coice. Alea jacta est! (A sorte está lançada!).
Views: 17
Lu
Este reinado está doidão. O rei parece um meninão maluco. Cada assessor ou comparsa (vice, guru, clã, cobra, sapo, lagarto e outros bichos) quer engolir o outro. Parece que a história está se repetindo. O rei seria D. Pedro II (o meninão que assumiu o reinado com o golpe da “maioridade” aos 15 anos). Como o brasileiro gosta de golpe! Até o “golpe do vigário” foi criado por aqui. Quem poderia representar os Andradas, os barões do café e o resto da aristocracia? Está faltando as revoluções: praieira, farroupilha e balaiada, ente outras. Por que a história oficial não fala da revolução de 1942, liderada em Minas por Teófilo Benedito Ottoni? Neste novo reino muita coisa vai acontecer e como Hernando disse: “estamos fudidos”. Antes quem mandava era a Inglaterra agora é o Tio Sam. Haja complexo de vira lata!
Abraço
Devas
O descrito por você nos mostra como a história é cíclica. Não são poucos os malucos que por este reino transitaram e outros tantos continuam levando estas terras à loucura total. Será aonde tudo isto irá parar? Será que há esperança para os vassalos deste reino, uma vez que os peixes graúdos encontram-se cada vez mais cevados? E viva o “golpe do vigário”!
O Brasil se tornou um hospício a céu aberto. E nós que não contribuímos colocando esses psicopatas no poder, também pagamos o pato. É difícil entender e digerir o ódio que essas pessoas colocaram pra fora. Saíram do armário do fascismo e se apresentaram para o país sem o menor pudor. Que tempo sombrios…
Abraços
Maria Cláudia
Mesmo tendo que pagar o pato junto com os “patos” que fizeram tal escolha, nós temos a consciência de que escolhemos o melhor para o nosso país. E nada medlhor do que isso.
Beijos,
Lu
Lu
Estou totalmente convicto que estamos literalmente “fudidos” com este hospício em que se transformou a nação brasileira. Iniciou-se desde o golpe midiático-jurídico e parlamentar sobre um governo eleito e democrático, provocando assim uma ruptura nas instituições responsáveis pela manutenção do estado de direito. Todo este ambiente favoreceu a eleição de um rei extremista e cruel, assessorado por figuras esdrúxulas como este guru, que utiliza os astros para fazer suas previsões catastróficas. Na verdade, ele deve enxergar bastante o buraco negro, porque, além de expressá-lo constantemente, está corroborando para lançar todos os súditos,tanto os avisados como os desavisados, no abismo da escuridão. No momento atual temos esperança de que o vice-rei incorpore seus ancestrais de patente e honre o exército brasileiro para nos salvar dos monstros criados pelo sistema e apoiado pelos acéfalos de conscientização política.
Hernando
Seu comentário está imbuído da mais absoluta verdade. Penso que este nosso reino nunca passou por tanta desesperança. Você fecha com chave de ouro ao dizer:
“No momento atual temos esperança de que o vice-rei incorpore seus ancestrais de patente e honre o exército brasileiro para nos salvar dos monstros criados pelo sistema e apoiado pelos acéfalos de conscientização política.”.
Abraços,
Lu