Autoria de Lu Dias Carvalho
Ao examinar uma obra como o “Atirador de Arco”, é fundamental levar em consideração a natureza dupla de seu discurso visual, transitando entre modernizador e arcaizante. (Rafael Cardoso)
A pintura Atirador de Arco é uma obra decorativa e nativista do pintor brasileiro Vicente do Rego Monteiro, resultante de seus estudos sobre a arte índígena. Apresenta uma composição harmônica, com figuras estilizadas, em que a cor terrosa lembra a cerâmica. A inspiração para as figuras estilizadas foi encontrada no adorno marajoara, de fundo arqueológico. Na obra, o primitivo e o exótico convivem harmonicamente.
A composição está simetricamente dividida pela figura central, ou seja, pelo índio que se encontra deitado de costas. Ele traz um arco preso entre os pés e segura a flecha, que se encontra exatamente no meio da tela, dividindo-a verticalmente. A posição do índio alude à obra de Debret denominada “Caboclos ou Índios Civilizados”, como citava o próprio Vicente do Rego Monteiro.
O artista usa o arco e a flecha para, através deles, organizar os demais elementos de sua obra. O índio, que se prepara para atirar a seta, é visto de cabeça para baixo, numa postura frontal, com o corpo acompanhando a linha vertical da flecha. O tronco oculto contribui para o alongamento de suas pernas, como se essas nascessem logo abaixo da cabeça.
Simetricamente postados em relação à figura central, um de cada lado, estão dois outros índios, quase análogos, como se um refletisse o outro. Entre eles só é possível notar diferença na posição do rosto. O da direita está de frente para o observador, enquanto o da esquerda encontra-se de perfil. Embora seus corpos mostrem-se de frente, a perna esquerda de um e a direita de outro estão perfiladas, com os pés convergindo para o centro da composição. É interessante também notar que os braços e o peito destas duas figuras acompanham a curvatura do arco, enquanto um dos antebraços e uma das mãos posicionam-se na direção da extremidade pontiaguda da flecha.
A proximidade entre os corpos nus, redondos e musculosos dos três índios tranforma-os numa única figura. O feitio retangular das cabeças, o formato das orelhas e a cara estilizada são parecidas com as estátuas marajoaras. Uma faixa de luz rodeia o corpo dos índios, sendo responsável por dar vida ao relevo. Na parte superior da pintura, linhas escuras, semelhantes ao arco, posicionam-se acima desse. Elas induzem o observador a imaginar o movimento que acontece logo após o arremesso da flecha.
Ficha técnica
Ano: 1925
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 65 x 81 cm
Localização: Acervo do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, Recife, Brasil
Fontes de pesquisa
Vicente do Rego Monteiro/ Coleção Folha
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso
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Lu,
gostei muito do seu artigo, seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.
Edilaine
Sou eu quem agradece sua presença e comentário. Será sempre um prazer recebê-la neste espaço.
Abraços,
Lu