Autoria de Lu Dias Carvalho
O retirante olha as estrelas no firmamento.
Há poucas delas no céu, quiçá umas cinco.
Ali perto, a nuvem escurece o velho morro,
e o poente encoberta-se com muitos cirros.
Ele vigia de novo cheio de contentamento.
É preciso ter certeza de não estar sonhando.
A lua está cercada por um aréola cor de leite,
e sua sombra leitosa prossegue agraudando.
Os cirros acumulam-se e certamente choverá.
A caatinga reviverá com as águas chegando.
Uma viração tepente alastra-se feito catinga,
empuxando os xiquexiques e os mandacarus.
Uma palpitação diferente atinge tudo em volta.
Há um reviver de garranchos e folhas secas.
O presságio de chuva arrupia o solo nu.
Quando a chuva chegar ali, naquele “Saara”,
badalos de ossos animarão a tristeza, e irão
tilintar prazenteiros por todos os arrebaldes.
Os pixotes brincarão na terra e se espojarão
no chiqueiro de terra fofa das cabras.
As cores retornarão ao rosto de Sinha Vitória,
sua cara murcha e cheia de rugas reverdecerá,
as nádegas bambas e miúdas entronquecerão.
Ela suscitará a inveja de outras madamas, pois
vestirá saias de flores e ramas vistosas.
Quando a chuva chegar naquele chão iracundo,
a semente do gado retornará àquele árido curral,
a caatinga do sertão bruto ficará toda verdejante.
Ele será o vaqueiro pelejador da fazenda morta.
Não apenas isso – será o dono daquele mundo.
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