A ESCRAVIDÃO NO IMPÉRIO ROMANO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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De todos os lados, a morte pode te surpreender: um naufrágio, bandidos, e, para não falar de um poder mais alto, o último de teus escravos tem um direito de vida e morte sobre ti. (Sêneca)

Meu pai sempre me ensinou a não encarar tragicamente as perdas materiais; se me morre um boi, um cavalo ou um escravo, eu não faço disso um drama. (o médico Galeno)

Os escravos estavam presentes em todo o Império Romano. Os romanos estavam certos de sua superioridade em relação a eles. Tinham-nos como crianças, ainda que fossem velhos, e sujeitos à decisão do tribunal doméstico, presidido pelo amo. Quando levados aos tribunais públicos, sofriam castigos físicos e até mesmo a morte, fato inimaginável para um homem livre daquela época. Seus senhores nutriam por eles um grande medo, pois, embora tidos como inferiores, tinham contato íntimo com seus amos, numa relação de amor e ódio. E nunca se sabia quando esse ódio viria à tona. Eram tidos e tratados como um bem material, pertencente aos donos, fazendo parte de seu patrimônio. Ainda que fossem vistos como inferiores, executavam diferentes funções na economia, na política na sociedade e na cultura do Império Romano. Os povos vencidos, que se transformavam em escravos, eram muitas vezes mais sábios do que seus senhores, como foi o caso dos gregos.

Os filhos de escravas eram considerados escravos e, consequentemente, pertenciam ao mesmo senhor, que detinha sobre eles todos os poderes. Tanto podia criá-los como enjeitá-los, ou até mesmo afogá-los, se assim lhe aprouvesse. A tradição de rejeitar filhos ainda bebês era tão comum, e não apenas entre os pobres, que havia mercadores de escravos que iam buscar os enjeitados nos monturos públicos, para vendê-los depois. Os pobres, sem quaisquer meios para criá-los, muitas vezes vendiam-nos diretamente a tais mercadores, mal acabavam de deixar o útero da mãe, ainda envoltos em sangue. Havia também os adultos que se vendiam para não morrerem de fome, tamanha era a miséria em que viviam.

Ao vender sua carga humana, o mercador era obrigado a prevenir o comprador sobre seus defeitos, dentre esses estavam:

• fanatismo religioso;
• fascinação exagerada para o amor;
• gosto exagerado pelos espetáculos e pinturas (cartazes).

O fato de ser escravo era um estigma, pois não importava a função que executava ou a instrução que tivesse, ele podia ser vendido a outrem, a qualquer momento. A situação era tão absurda, que se o dono de um escravo cometesse um crime, era o infeliz que seria torturado diante dos tribunais públicos, para que revelasse o crime de seu amo, uma vez que um homem livre não poderia sofrer tortura. O senhor também tinha direito a deflorar o hímen de suas escravas. Os filhos dos escravos eram vistos como crias de um rebanho, não sendo dada nenhuma importância à vida deles. Viver ou morrer dependia dos objetivos do amo.

Um senhor podia libertar seu escravo, tornando-o um homem livre, tanto em vida quanto através de testamento. Em caso de dúvida quanto ao testamento, o direito romano decidia em favor da libertação do escravo. Depois de alforriado, seu senhor, se ainda vivo, não podia voltar atrás. Não se tratava de uma preocupação humanitária com a vida dos escravos, pois isso só acontecia em caso de dúvida. Nenhuma voz defendia essa gente. Se se podia dizer que havia humanitarismo, esse estava ligado à exortação aos senhores para serem bons amos. O que não equivalia a nenhuma penalidade, caso fossem tratados com desumanidade.

Quando fora da casa de seu senhor, os escravos podiam frequentar seitas religiosas, pois eram esses os poucos lugares em que eram aceitos. Nos dias de festa, obtinham folga para assistirem aos espetáculos públicos (teatro, circo de arena, etc.). E com o passar dos tempos, certas mudanças foram sendo introduzidas na vida dos escravos, como:

• casar-se;
• dedicar-se à mulher e filhos;
• vender a família junta.

Contudo, isso também não significou que a sociedade romana estivesse imbuída de qualquer laivo de conscientização quanto à vida miserável daquela gente, pois a má nutrição, a perversidade dos castigos, a opressão, o sentimento de inferioridade, a miséria material e moral continuavam incólumes.

Nota: Mercado dos Escravos, obra de Jean-Léon Gérôme

Fonte de pesquisa
História da Vida Privada/ Companhia das Letras

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