A LENDA DO UIRAPURU (II)

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Recontada por Lu Dias Carvalho

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Dentre as aves que habitam a floresta Amazônica, nenhuma é motivo de tantas lendas quanto o uirapuru, uma avezinha pequenina, cuja plumagem varia entre o marrom-claro e o avermelhado. Na cabeça traz manchas brancas. Ela não chama a atenção pela sua plumagem, mas pelo seu canto melodioso, o que a define como o “músico da mata”. Apesar de sua voz maviosa, similar às notas de uma flauta, o uirapuru jamais se exibe como “estrela”, ao contrário, é extremamente discreto e humilde.

Certa tribo amazônica tinha um jovem índio que tocava flauta, como se com ela tivesse nascido. As notas musicais dela tiradas expandiam-se por toda a floresta, encantando os outros índios e os animais. Até mesmo o vento parava de remexer as folhas das plantas, para que nenhum barulho pudesse toldar sons tão maviosos. E se estivesse chovendo, e o índio pusesse-se a dedilhar seu instrumento, a chuva ia parando, tornando-se cada vez mais suave, até não restar mais ruído algum. Ele era chamado de o “flauta mágica”.

Apesar de não se encontrar entre os jovens mais formosos da tribo, o tocador de flauta encantava todas as garotas da tribo com as canções que expandia pelos ares. Mas foi Maíra quem ganhou seu coração. Os dois assentavam-se debaixo dos pés de copaibeiras, onde ele se punha a tocar e ela a cantar. Os galhos frondosos das árvores enchiam-se de animais alados, enquanto uma enormidade de bichos terrestres rodeava o casal. E assim tudo transcorria na mais perfeita serenidade, enquanto se aproximava o dia do casamento dos dois enamorados.

Certa tarde, o flautista sentiu vontade de pescar um peixe especial para a amada. Rumou para um lugar diferente do costumeiro, onde diziam viver as maiores corumbebas. E é claro, sua flauta acompanhou-o. Entardeceu. Depois veio a noite com o cantar dos bichos notívagos, e depois o amanhecer, mas o jovem não apareceu. Toda a tribo pôs-se à sua procura, enquanto lágrimas escorriam pelo rosto de Maíra. Seu coração dizia-lhe que algo de ruim acontecera. Primeiro encontraram a flauta, depois o corpo entesado do jovem, deitado entre as raízes de uma gigantesca sumaumeira. Os dois furos na perna indicavam que fora picado por uma cobra peçonhenta das mais mortais.

O corpo do jovem índio foi enterrado próximo à tribo, debaixo de uma frondosa árvore, aonde Maíra ia com frequência chorar sua saudade, que a cada dia tornava-se mais pungente. Assim como ela, o espírito do tocador de flauta também não conseguia ter paz, ao ver tanta dor exalando do coração da amada, e tantas lágrimas a deslizar-se de seu rosto. Por isso, pediu ao Espírito Criador que o transformasse numa ave, ainda que fosse diminuta e feia, mas que lhe desse uma voz melodiosa, para que pudesse alegrar o coração de Maíra.

O Espírito Criador atendeu à súplica do jovem índio, transformando-o no uirapuru. É por isso que, quando ele canta, tudo em volta emudece, para ouvir sua voz, assim como acontecia quando era gente, ao tocar sua flauta, parando até mesmo o vento e a chuva.

Nota: imagem copiada de www.tenda-do-xama.com

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