AS ELITES NO IMP. ROMANO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Em quatro séculos (de Marco Aurélio a Justiniano), grandes mudanças ocorreram na vida dos moradores das cidades e em seus arredores, no Império Romano. Nessa fase havia uma grande diferença entre as elites, conhecidas por “notáveis” ou “bem-nascidos”, e as pessoas do povo, tidas como “inferiores”. A classe superior procurava se distanciar da gente simples, através de um estilo de cultura e vida moral, que julgava não ser possível partilhar com a gente comum. A vida moral implicava no afastamento do povo, ficando a cultura apenas à mercê das elites. A educação formal dos filhos dos “notáveis” tinha por objetivo transformá-los em cidadãos experientes, de acordo com a classe em que se achavam inseridos.

Um “bem-nascido” devia dominar não apenas a linguagem como também a postura, tanto no controle dos gestos, quanto no movimento dos olhos e até mesmo na respiração, agindo em consonância com as chamadas normas morais da classe superior. Sua educação refinada e seu comportamento moral, moldado no de seus pares, tinha por objetivo livrá-lo das emoções anormais, próprias da gente inferior. Era preciso precaver-se contra o perigo do “contágio moral” da gentinha, gentalha ou ralé.

A preocupação dos “notáveis”, em cumprir seu código moral, era tão grande, que a saúde pessoal e o comportamento público estavam interligados. Apregoavam eles que os humores do corpo (o sangue, a fleuma, a bílis amarela e a bílis negra) deviam ser preservados, pois tanto a perda de reservas necessárias quanto o acúmulo desordenado dessas eram prejudiciais ao indivíduo. Um homem bem educado, portanto, deveria evitar as consequências desastrosas de tais distúrbios. Em assim sendo, o corpo era o espelho do “bem-nascido”, devendo, também, submeter-se ao regime alimentar, aos exercícios e aos banhos – métodos gregos tradicionais.

Um “notável” mostrava sua posição privilegiada através da autovigilância em relação ao cumprimento do código de sua classe, o que o distanciava da classe inferior. Era, reprovável, por exemplo, que um “notável” surrasse um escravo, num acesso de raiva, não porque isso fosse um ato desumano, mas porque fazia mal ao “bem-nascido”, destituindo-o de sua boa imagem, que devia ser vista como equilibrada. Se incorresse num erro desse tipo, seria comparado ao próprio escravo, o que implicava num “contágio-moral”, ou seja, na sua desmoralização diante de sua classe.

Ilustração: Camafeu mostrando Constantino sendo coroado por Constantinopla, século IV / Museu Hermitage

Fonte de pesquisa
História da Vida Privada I / Edit. Companhia das Letras

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