José Correia de Lima – RETRATO DO INTRÉPIDO MARINHEIRO…

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A importância de uma obra de arte reside, muitas vezes, fora dela própria e fora mesmo do âmbito do meio artístico […]. É aí que entra a necessidade de melhor compreensão do contexto. (Rafael Cardoso)

A composição Retrato do Intrépido Marinheiro Simão, Carvoeiro do Vapor Pernambucana é obra do pintor brasileiro José Correia de Lima (1844-1857). O artista retrata, em meio corpo, um homem negro, que parece olhar para o observador com um ar tranquilo. Contudo, ao analisar seu rosto com mais acuidade, percebe-se que o olhar do retratado encontra-se distante, focando um ponto desconhecido.

O retratado é jovem e forte. Veste uma camisa azul, com uma ampla abertura frontal em forma de V, que permite enxergar seu peito largo e vigoroso. Seus ombros são também largos, em contraste com a pequena cabeça. Os cabelos são negros e encarapinhados. Apenas o braço direito mostra-se visível, passando na frente do corpo e segurando na mão uma grossa corda. Sua postura não denota ação, como se a corda fosse um mero elemento para complementar a pose, uma vez que ele se encontra totalmente estático. Atrás de sua cabeça está projetado um foco de luz, cuja claridade inunda seu rosto, e também reflete na parte do corpo exposta pela camisa aberta.

Em seu livro “A Arte Brasileira, em 25 quadros”, o escritor e historiador da arte Rafael Cardoso diz que “No Brasil escravocrata da década de 1850, circulavam poucos retratos de pessoas negras – ainda mais pintadas a óleo -, quanto menos representadas em atitude de hombridade, e não de subserviência.”, fator que torna ainda mais intrigante a inclusão desta tela no Salão de 1859, entre pessoas da nobreza e elite da época. Mas isso tinha razão de ser, pois, ainda segundo Rafael Cardoso, “Simão era famoso, um herói cujos feitos haviam ocupado as páginas dos principais jornais da Corte, reiteradas vezes, no ano de 1853.”. Ele fora responsável por salvar 13 pessoas no naufrágio do vapor Pernambucano, dentre esses um cego e um militar que só tinha uma perna.

Os responsáveis pelo Salão de 1859, contudo, na organização do catálogo, puseram uma nota explicativa sobre os atos heroicos no negro Simão, entre outras providências, no intuito de justificar a presença de tal retrato em meio aos dos brancos. O que nos leva a concluir como era forte o preconceito quão sofrida era a vida dos negros no país.

Ficha técnica
Ano: c. 1853
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 92 x 72 cm
Localização: Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil

Fonte de pesquisa
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso

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