Poussin – UMA DANÇA PARA A MÚSICA DO TEMPO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A pintura é a amante da beleza e a rainha das artes. (Nicolas Poussin)

A composição Uma Dança para a Música do Tempo foi encomendada pelo cardeal Giulio Rospigliosi — mais tarde se tornaria o papa Clemente IX — a Nicolas Poussin, pois ele muito apreciava as obras do pintor francês.

A obra que traz em si um enigma intelectual dá maior primazia à razão, pondo em segundo plano as emoções. Trata-se de um pequeno estudo sobre o tempo, sobre o destino e a condição de vida do homem. Na composição estão presentes quatro dançarinos que representam a Pobreza, o Trabalho, a Riqueza e o Prazer (ou Ócio) em meio a uma rica simbologia. Reproduzem, portanto, os quatro estágios pelos quais, normalmente passa o homem durante sua vida fugaz. Quando juntos, representam a Roda da Fortuna.

O Prazer é representado pela dançarina que olha diretamente para o observador, como se o convidasse para fazer parte do grupo. Uma guirlanda de rosas enfeita seus cabelos dourados que lhe caem pelas costas. Ela calça belas sandálias brancas. Segura firmemente a mão da Riqueza. Simboliza a luxúria, o hedonismo e a ociosidade.

O Trabalho é representado pelo dançarino que traz na cabeça uma coroa de louros e se encontra de costas para o observador. Ele vira ligeiramente o pescoço para fitar a Riqueza. Segura a mão do Prazer e a da Pobreza.

A Pobreza está representada pela dançarina que olha para o Pai Tempo. Ela usa roupas simples e tem um lenço de linho a cobrir-lhe os cabelos. Assim como o Trabalho, encontra-se descalça. Sua mão esquerda está segura pelo Trabalho, enquanto com a direita tenta segurar a mão da Riqueza que lhe parece fugir.

A Riqueza é representada pela dançarina mais suntuosamente vestida. Traz na cabeça uma coroa de pérolas que lhe enredam os cabelos. Também usa ricas sandálias. Enquanto tem a mão direita segura pelo Prazer, ela hesita, com a esquerda, em segurar a mão da Pobreza.

Um menininho nu, no canto esquerdo da composição, brinca com bolhinhas de sabão, o que enfatiza o conceito de “homo bulla” (homem bolha), ou seja, as bolhas lembram a efemeridade da vida humana. Outro menininho encontra-se no canto direito da composição. Ele tem na mãozinha direita uma ampulheta que simboliza o passar do tempo. Uma figura alada nua e de barba e cabelos brancos toca para que o quarteto baile na dança da vida, junto a um pedestal de pedra. Trata-se do Pai Tempo. Sua presença também representa a brevidade da vida.

À direita da composição encontra-se — sobre um pilar de pedra — o busto de Juno, deus romano, ornamentado com colares de flores. Enquanto o busto é duradouro, as flores são efêmeras, assim como o homem. Juno é representado com duas cabeças: a mais jovem vê o futuro, enquanto a mais velha olha para o passado.

No céu Apolo, o deus do Sol, passa com o seu cortejo. As Horas, suas fiéis servidoras, seguem-no. Elas simbolizam as estações que também passam como se fossem uma dança, como a que acontece embaixo. Apolo carrega nas mãos um imenso círculo que não tem princípio e nem fim, representando a Eternidade. À frente de Apolo e seu séquito está Aurora, a deusa do amanhecer, a mostrar-lhe o caminho. Sua função é apanhar as nuvens escuras da noite e abrir a entrada da manhã. Enquanto segue à frente do cortejo, Aurora vai espalhando flores pelo caminho.

A estrutura geométrica da pintura é muito bem elaborada — característica comum às obras de Poussin. A dança desenvolve-se num movimento circular que, por sua vez, encontra-se dentro de um triângulo. A Riqueza divide o círculo e o triângulo ao meio, ou seja, ela é a figura central da composição. Ao colocar em evidência as quatro figuras alegóricas que de mãos dadas dançam numa roda com os corpos voltados para fora da roda, e de costas umas para as outras, o pintor destaca o conceito de que:

  • as circunstâncias da vida formam opostos (Pobreza x Riqueza, Trabalho x Ócio);
  • ainda que de costas uma para outra, mesmo assim estão ligadas, pois sem Pobreza não há Trabalho, mas sem Trabalho não há Riqueza, e sem Riqueza não há Ócio.

Ficha técnica:
Ano: c. 1638
Dimensões: 82,5 x 104 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Wallace Collection, Londres

Fontes de pesquisa:
Artes em detalhes/ Publifolha
Rubens/ Taschen

Views: 100

16 comentaram em “Poussin – UMA DANÇA PARA A MÚSICA DO TEMPO

    1. LuDiasBH Autor do post

      Diego

      Seja bem-vindo a este espaço.

      Não, meu amiguinho, a composição não se encontra à venda. Este blogue é apenas um espaço para se falar de arte, onde poderá encontrar diferentes obras. Coloque o nome do quadro na busca do Google e pode ser que encontre cópias à venda.

      Volte mais vezes!

      Abraços,

      Lu

      Responder
  1. Jesus Lima Fernandes

    Bom dia Lu, moro em Florianópolis e sou um humilde artista plástico, onde tenho um atelier e pinto painéis em Azulejos, Estilo Português, Adorei tua página, teus textos e explicações, pois sempre estou pesquisando sobre Artes em geral, principalmente Arte Clássica Acadêmica, pela qual tenho adoração! Se quiser conhecer minhas obras entre no http://www.flickr.com/photos/paineisazulejosfernandes. Agora que descobri teu site, será minha fonte de pesquisas! Abraço

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Jesus

      Acabo de conhecer suas obras e fiquei simplesmente maravilhada. Viajei um longo tempo pela tela acompanhando e me encantando com tudo. Quanto talento você tem, meu caro artista! A sua arte é deslumbramento puro. Inclusive, já acrescentei seu link em “Eu Recomendo”. E gostaria que você me desse a honra de postar um trabalho seu no meu blog que tem a finalidade, também, de falar sobre os artistas brasileiros, esses homens e mulheres maravilhosos que vicejam nos mais diferentes cantos de nosso país exalando talento.

      Eu gosto muito da arte Clássica, embora procure trazer para o meu leitor estilos diferentes. Assim, ora escrevo sobre um estilo, ora sobre outro. Na semana que vem começo a escrever e mostrar obras do nosso maravilhoso Almeida Júnior. Será um grande prazer contar com a sua participação.

      O Vírus da Arte & Cia. é um blog muito novo, ainda. Só tem dois aninhos e dois meses, mas o retorno tem sido fabuloso. Somos vistos em todo o Brasil e em mais de 150 países. E o melhor, não possui propaganda.

      A linguagem que uso é bem simples, pois o meu objetivo e levar as pessoas a gostarem de Arte. E ninguém gosta daquilo que não conhece ou não entende, não é mesmo? Recorrendo ao ÍNDICE você encontrará um bom material para pesquisa.

      Mais uma vez, muito obrigada pela sua presença e muito sucesso em seu trabalho. Haveremos de nos tornar grandes amigos.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Claudineia Barreto Pereira Da Silva

    Parabéns pela brilhante explicação sobre o quadro,me ajudou muito em um trabalho da faculdade.
    Abraços

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Claudineia

      Fico muito feliz ao saber que o meu blog ajudou você.
      A finalidade dele é realmente trazer cultura e arte de uma forma mais simples, de modo a atingir todas as pessoas que o acessarem.

      Vejo que é uma pessoa muito generosa, ao vir aqui me agradecer.
      Muito obrigada, lindinha!

      Continuarei escrevendo sobre os grandes mestres da pintura.
      Será um prazer contar com a sua presença.
      Espero que continue encontrando pesquisas interessantes.

      E, se possível, faça a propaganda de nosso blog com os seus amigos.

      Beijo no coração,

      Lu

      Responder
  3. Reini D. Leal

    Querida prima LuDias, Parabéns pelo lindo texto! De fato, com seus olhos humanos você captou a essência do que a imagem de Nicolas Poussin retrata… isso leva-me acreditar que, o espelho nos mostra o corpo e a pintura pode nos mostrar a alma… quando somos inteligentes e sensíveis ao contemplá-la. Beijos.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Reini

      A sua presença neste blog deixa-me sempre muito feliz.
      Realmente, é preciso olhar uma obra de arte com olhos da alma, pois em cada pedacinho encontramos algo especial.
      A sensibilidade não pode faltar, jamais.

      Beijão,

      Lu

      Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      PP

      Amei a palavra “quinau” = a corretivo, lição.
      Você é muito generoso, meu doce amigo.
      E sua generisidade, meu caro mestre, torna-o ainda mais sábio, pois me incute o desejo de ser melhor a cada dia.

      Grande abraço,

      Lu

      Responder
  4. Edward Chaddad

    LuDias

    A pintura é um imenso ensinamento. Suas explicações são espetaculares e nos mostram com bastante detalhes a dança da vida em relação ao tempo, onde a pobreza, o trabalho, a riqueza e o prazer podem dançar, felizes, se quiserem, mesmo com a lembrança de que a vida é efêmera, passa depressa.

    Lembro-me de um texto que meu professor do ginasial passou-me para analisar, duas orações simples, em coordenação assindética, que talvez possa se aplicar no caso:

    “Matamos o tempo, o tempo nos mata”

    Você é uma escritora maravilhosa, tem uma capacidade extraordinária de escrever sobre qualquer assunto, tem, assim, dentro de si, a arte de escrever. Poucos conseguem. É uma pena que não tenha se interessado em ser jornalista, pois é incrível sua adaptabilidade nos temas que enfrenta.

    Parabéns!

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Ed

      Este quadro de Poussin é mesmo fascinante.
      Você nem imagina o quanto aprendo nas pesquisas que faço.
      Sinto-me muito feliz ao saber que tenho agrado os que me leem.

      Quanto a ser jornalista, penso que já o sou.
      Não há nada mais gratificante do que receber um elogio como o seu.
      E na internet o público é muito maior, sem falar que o assunto pode ser acessado ilimitadamente.
      Amo escrever para o público, ainda que virtualmente.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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