Autoria de Lu Dias Carvalho
Mulheres e homens nunca tiveram tanto cuidado com os cabelos como nos dias de hoje. O Brasil é o segundo país no consumo de cosméticos, com grande prepoderância para os produtos específicos para a beleza dos fios capilares. A cada dia cai por terra a ditadura dos cabelos lisos, com cada grupo étnico assumindo os seus, tais como são, pois todos são belos. A nova filosofia é a de que não existem cabelos “ruins”, mas, sim, maltratados. Adeus escovas progressivas, alizantes e chapinhas, agora é liberdade total para os tão sofridos fios.
Desde a Antiguidade, os cabelos têm ocupado um lugar central na história das civilizações, sendo lavados, hidratados, tingidos, penteados e enfeitados, e tidos, na maioria delas, como um elemento de sedução. Também já serviram de arma de contestação, como aconteceu nos anos 70, quando as cabeleiras avolumaram-se, em repúdio às normas sociais vigentes. Durante muito tempo, a cor dos cabelos esteve associada a certas definições: louros (feminilidade, encanto e ingenuidade), inerentes a princesas e fadas; escuros (sedução e força), ligados às bruxas; e ruivos (impertinência, tempestuosidade), específicos das feiticeiras. Mas hoje, com a infinidade de cores usadas pelas mulheres, que podem mudar a cor dos cachos a bel-prazer, cairam por terra tais bizarras definições.
Na Grécia Antiga, a virgindade de meninas e meninos era oferecida ao deus Hipólito, filho de Teseu e de Hipólita, segundo a mitologia grega. Eles realizavam tal oferenda raspando a cabeça em homenagem ao deus. Só assim estariam liberados para casarem-se. As mulheres de uma tribo africana denominada Wafiomi, por exemplo, não podiam cortar os cabelos durante o período que ia da puberdade ao casamento. As madeixas funcionavam como um indicativo da virgindade das garotas. Não apenas os cabelos da cabeça tinham uma relação simbólica com a virgindade, mas os pelos do corpo também. Mesmo as sociedades primitivas, que nada sabiam sobre a sexualidade, compreendiam que o surgimento de pelos na puberdade era indicativo do início do amadurecimento sexual de meninos e meninas.
Em muitas culturas, com a do Egito, Grécia e Roma da Antiguidade, as mulheres usavam a depilação para retirar os pelos do corpo. Imaginavam que isso seria capaz de tornar suas formas mais belas. Mas ao contrário dessas, no século XVI, as mulheres francesas, pertencentes à nobreza, queriam que seus pelos pubianos atingissem o maior tamanho possível, para que pudessem decorá-los com laços de fita. Elas faziam usos de unguentos para apressarem o crescimento dos fios. Como moda é questão de tempo, houve certa época na Idade Média, em que as mulheres usavam pedra-pomes para remover os pelos do corpo. Tal prática foi trazida pelos cruzados para suas mulheres. A prática de retirar os pelos do corpo ainda persiste nos dias de hoje. Prevalece o conceito de beleza que relaciona a ausência de cabelos no corpo da mulher com a feminilidade e, em contrapartida, os pelos masculinos estão ligados à virilidade. Tudo não passando de bobos e arragaidos conceitos.
A história de Sansão e Dalila, assim como a frenética vida sexual do imperador Carlos Magno, do rei Henrique VIII e do monge Raspuntin, famosos por suas estripulias amorosas, todos eles donos de grande cabeleira, reforçam o mito sobre os cabelos compridos, mas esses também eram associados à perversidade. E como ficavam os calvos, na história? Napoleão Bonaparte é um exemplo de como a alopecia afetava a vaidade masculina. E não foram poucos os métodos usados pelos homens do passado, a fim de evitá-la. No século XVI, raízes de malva eram esfregadas onde havia a queda de cabelo. E no século XVIII, os homens passavam no couro cabeludo sementes de salva, para prevenirem-se contra a alopecia. Ainda hoje, o medo da calvície acompanha muitos homens, embora essa não esteja mais ligada ao “decréscimo” do poder sexual. Sabe-se hoje que a calvície masculina nada tem a ver com a potência sexual, sendo ocasionada por diferentes motivos. É geralmente mais perceptível no couro cabeludo, mas pode ocorrer em qualquer parte do corpo onde haja pelos.
Por muito tempo, barbas e bigodes também foram associados à masculinidade e ao poder. Um fio de bigode selava um contrato, diziam os antigos. Hoje não passam de modismo.
Nota: Mulheres à Beira-Mar, de 1879, obra de Puvis de Chavannes (Louvre)
Fonte de pesquisa
Enciclopédia do Casal de Hoje/ Editora Três
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