Autoria de Lu Dias Carvalho
Não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões.
Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre elas.
Não haverá diálogo entre as religiões, se não existirem padrões éticos globais.
Nosso planeta não irá sobreviver se não houver um etos global, uma ética para o mundo inteiro. (Hans Küng)
O mundo contemporâneo exige um conhecimento pluralista para que possamos entendê-lo melhor. Temos que ser indivíduos polivalentes, abertos a conhecer outros tipos de convicções, mesmo que não sejam as nossas. Precisamos ter competência ou, no mínimo, conhecimento nas mais diferenciadas áreas, pois o pluralismo é uma marca registrada de nosso tempo, que permite que valores diferentes coabitem no mesmo âmbito social de maneira a estabelecer certa harmonia. Sem essa compreensão é impossível qualquer tipo de convivência.
Ainda que não professem nenhuma religião, muitas pessoas possuem uma grande curiosidade em relação a elas. Como apareceram? Em que diferem umas das outras? Como explicam a origem do mundo? Que respostas dão para a vida pós-morte? Como se inserem no mundo contemporâneo, diante de tantas indagações, ou como convivem com a Ciência? O que oferecem a seus adeptos? Acredito que, mesmo sendo muitas pessoas hostis às religiões (todas têm o seu lado negativo), não devem ignorá-las, pois mesmo para criticar é preciso conhecê-las. Caso contrário incorreriam numa grande leviandade.
Engana-se aquele que pensa que as religiões nada têm a ver com as coisas do mundo, ou que não possuem interferência na vida das pessoas que não são seus adeptos. O universo religioso contribuiu em muitos aspectos para o mundo em que vivemos, quer queiramos ou não, sendo na maioria das vezes de modo negativo. Para dizer o mínimo, basta analisarmos os conflitos mundiais. Ainda que secretamente, todos eles estão ligados às religiões. Também é importante conhecer um pouco sobre a mitologia greco-romana, para compreender o quanto contribuíram para o surgimento das religiões. Curioso, não?
Mas o que é religião na definição dos filósofos? A religião é uma busca por salvação, que não se processa via razão, como a filosofia, mas realiza-se através da fé, embora não possamos encontrar no seio dela, na compreensão de seus textos, o uso da razão. É certo que trazem uma série de valores morais que, separados de suas fontes religiosas, são valores universais, sem que essa ou aquela possa ser a real fonte. É possível citar a ideia de que o valor moral do indivíduo independe de seus dons ou de seus talentos naturais, mas do uso que ele faz deles, de sua liberdade e não de sua natureza.
Tomando as religiões mundiais, é possível englobá-las em três grandes correntes:
- As religiões originárias da Índia: hinduísmo e budismo (em que a figura-chave é o místico).
- As religiões originárias da China: confucionismo e taoismo (em que a figura-chave é o sábio).
- As religiões originárias do Oriente Médio: cristianismo, judaísmo e islamismo (em que a figura-chave é o profeta).
Às religiões acima são somadas às tribais, presentes em várias partes do mundo, e cuja maioria não dispõe de textos escritos. Segundo os estudiosos no assunto, elas constituem o terreno onde todas as religiões estão enraizadas, sem deixar de levar em conta a mitologia.
Segundo alguns, desde a sua origem o homem é um ser religioso. Continua a buscar respostas, que a Ciência ainda não lhe deu, sobre questões da vida e da morte. Na sua busca infindável, muitas vezes sofrida, costuma botar no mesmo compartimento: superstição, magia e religião. O curandeiro que cura e afugenta os maus espíritos, visto nas religiões primitivas, hoje está incorporado em várias religiões com seus exorcismos. O amuleto do xamã, feito de sementes e madeiras sagradas, possui o mesmo significado da água benta, do óleo da unção, da trombeta de Jericó, e assim por diante, prova cabal de que as religiões estão enraizadas umas nas outras e ligadas às religiões tribais. Ou seja, no fundo, tirando a maquiagem, todas são semelhantes.
Embora possa nos parecer o contrário, as religiões são dinâmicas, sofrendo transformações através dos tempos. Não apenas passam por um desenvolvimento orgânico, como sofrem rupturas, crises e reformulações por mudanças de padrões. Todas elas passaram pelas mesmas etapas: origem, forma primitiva, meia-idade e mudanças no confronto com o mundo moderno. Ou seja, continuam sendo transformadas, ainda que a contragosto dos extremistas religiosos. Elas precisam evoluir junto com as transformações do mundo, senão correm o risco de ficarem à margem da história, perdendo-se. Por que hoje, a imensa maioria delas une a divindade ao dinheiro? Porque vivemos uma época extremamente capitalista.
Na análise das três correntes, assim como das religiões tribais, podemos observar que, apesar das divergências de crença, doutrina e ritos, as semelhanças, convergências e concordâncias são bem maiores de que imaginamos. Fato que não traz nenhuma surpresa, uma vez que os problemas enfrentados pelo homem são os mesmos em qualquer cultura: sua origem e destino; sofrimento e culpa; como viver e agir; vida e morte. E assim caminha a humanidade!
Nota: Imagem copiada de http://www.crah.org.br
Fonte de Pesquisa:
Religiões do Mundo/ Hans Küng
Aprender a Viver/ Luc Ferry
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Quando o Mário acima citou Nietzsche, recordei que, em uma das leituras do grande pensador, acredito que seja em “Assim falou Zaratustra”, podemos perceber as nuances dele sobre aquilo que desvalorizamos e, que deveríamos valorizar, que é a Terra, a Natureza e não um ser Superior, sobre o qual não temos nada sobre “ele”, apenas conjecturas.
O ser humano em geral tem um hábito de criar símbolos para identificar tudo aquilo que ele busca para suas dificuldades de controle do instinto, ou seja, o seu lado animal. Se estudasse mais este seu comportamento animal/humano não necessitaria de religiões e símbolos e confrarias e por aí vai… Para solucionar seus problemas.
Ricieri
É um grande prazer recebê-lo aqui neste site. Obrigada por sua visita e comentário.
Concordo com tudo o que escreveu. Penso que na raiz das crenças está o medo da finitude da vida, que sempre acompanhou a espécie humana. Como é dotado de consciência, o homem passa seu tempo conjecturando sobre a morte. Não aceita que um dia tenha que deixar este planeta. Alguns buscam o poder e acumulam bens materiais excessivamente, como se afugentassem tal visita, enquanto outros afundam em crenças, as mais diversas, na tentativa de garantir-lhes uma suposta continuidade da vida, onde quer que seja.
Eu sou agnóstica. Tenho como objetivo levar uma vida decente para comigo mesma, para com meus irmãos de planeta, inclusive para com os animais ditos irracionais, ou seja, para com a Terra como um todo. Não submeto meu caminhar a uma divindade, mas à minha própria consciência. Penso que há mais mérito nisto, do que na ação daqueles que em função do medo dos “castigos divinos”, negociam uma “outra vida”. Se houver uma outra dimensão, espero ser escolhida em função de minhas boas ações, ainda que desprovidas de interesses abstratos.
Realmente, se o homem fosse comprometido com a vida, não precisaria de preocupar-se com a morte, em suma, não teria que se submeter a religiões e outras coisas tais, que hoje tomam um caminho cada vez mais enviezado, onde o poder e o dinheiro surgem como bandeiras.
Amiguinho, gostei muito de suas ponderações. Há muitos textos filosóficos aqui no blog, assim como análises de fábulas. Venha mais vezes para trocarmos ideias. O Mário será informado sobre seu comentário. Saiba que sempre que escrever, obterá uma resposta.
Abraços,
Lu
Fé não é religião!
Xico
Concordo plenamente com você.
Agradeço sua visita e comentário.
Volte sempre!
Abraços,
Lu
Realmente, enquanto as religiões não se entenderem, pois umas puxam para um lado e outras para outro, não passarão dum negócio; claro que devemos respeitar a fé de cada um, seja ela qual for; há religiões um pouco estranhas, a meu ver.
Lu, abraços,
Rui Sofia
Rui
A maioria das religiões transformou-se hoje num negócio mais lucrativo do que qualquer outro.
Aqui, muitas estão a levantar verdadeiros palácios, com a contribuição de seus pobres adeptos.
Há muita gente ingênua, ainda, que cai na conversa fiada.
Portanto, todo cuidado é pouco.
Abraços,
Lu
Lu Dias
A religião que mais cresce é o ateísmo: porque não temos o símbolo dela acima?
Mário
O ateísmo não é tido como uma religião, ao contrário, é a ausência de uma.
Beijos,
Lu
Mário
O ateísmo não é uma religião, mas a falta de uma.
Por isto não existe seu símbolo na figura.
Beijos,
Lu
Lu Dias
Porque é medroso, como dizia Friedrich Nietzsche, o homem vive atras de uma mascara que o impede de enfrentar as realidade de sua insignificante vivência.
Abração
Mário Mendonça
Mário
É fato que Friedrich Nietzsche tinha um modo muito especial de ver a vida.
Não aceitava as crenças religiosas em hipótese alguma.
Mas todos são livres para fazer suas escolhas.
Abraços,
Lu
Lu Dias
E olhe que Nietzsche era religioso (luterano) na sua juventude, quando começou a enxergar a vida, teve coragem de nos mostrar a realidade de nossa medrosa vivência..