Autoria de Lu Dias Carvalho
Lamentavelmente as pessoas ainda são tratadas de acordo com a profissão que exercem, pouco importando se a executam bem ou não. O diploma pendurado na parede, junto a um amontoado de cursinhos, é um indicativo de que se trata de um “bom” profissional. O que nem sempre condiz com a verdade. A avaliação do trabalho do profissional não pode ser desprezada em razão dos diplomas.
A filosofia budista ensina-nos que a virtude não está no título de quem realiza um determinado trabalho (professor, médico, lixeiro, costureira, barbeiro…), mas no bom desempenho que dele se faz. De modo que, aquele que ama o trabalho que executa, dando o melhor de si, estará combinando excelência e virtude no desempenho de suas tarefas, de modo a merecer um lugar de destaque. Mas, por que isso quase sempre não acontece? Por que muitos tratam o seu trabalho com extrema amargura, como se fosse um fardo?
A imensa maioria dos homens compreende, quando crianças, que no futuro terá que trabalhar para se sustentar. E que deve estudar e se preparar para isso, pois a vida humana é sempre consagrada ao trabalho (com as exceções dos privilegiados que nascem em berços de ouro). Quando alguém perde o seu “ganha-pão” tem a sensação de que o chão ruiu a seus pés. E, como sempre, os assalariados são as maiores vítimas, pois o desemprego forçado traz infelicidade para toda a família, levando depressão e desespero a seus membros que não sabem o que lhes aguarda no dia seguinte.
A decaída da economia, resultante de políticas incompetentes ou da corrupção sistêmica dos governos, sempre acaba batendo na porta dos operários mais humildes, que se encaixam na base da pirâmide social em todos os lugares do mundo. Nesta época de globalização e da efervescência do sistema neoliberal, onde é o mercado que dita as regras, os trabalhadores passam por um período conturbado, não tendo o trabalho valorizado, principalmente quando o funcionário é terceirizado, sendo visto apenas como número. Eles se veem como peças de um tabuleiro, removidas a bel prazer dos patrões. O sistema não tem apreço pelo empregado, a única preocupação que possui é com o volume do retorno financeiro.
Embora o mercado venha submetendo os trabalhadores a uma série de reciclagem na busca pela excelência, tais cursos serão sempre inúteis, se não houver a valorização financeira do profissional. Podemos ver um exemplo claro na Educação. Os professores recebem salários miseráveis, mesmo em Estados ricos como Minas Gerais. Muitas artimanhas são usadas pelo governo, inclusive a incorporação de direitos adquiridos, para dizer que é aumento de salário. Os mestres terminam trabalhando em até 3 escolas (manhã, tarde e noite), colecionando resultados medíocres. Desse jeito fica difícil amar o que se faz ou fazer um trabalho de excelência.
Muitos trabalhadores carregam um sentimento de nulidade e fracasso, ao verem horas preciosas de sua vida dedicadas a profissões que não os recompensam, mas os aprisionam e acorrentam a um salário miserável, do qual dependem para sobreviver, transformando-os em homens e mulheres amargos e sem esperança. O mesmo acontece com os aposentados, com suas míseras pensões, que só os faz revoltar em razão dos longos anos de vida dispensados ao trabalho, e agora se veem numa situação de penúria, inclusive no tocante ao direito por uma Saúde de qualidade.
Para melhorar a vida dos trabalhadores, aqueles que dirigem o mundo precisam contar com as virtudes da justiça, da coragem, da temperança e da sabedoria para estourarem a bolha em que vivem uns poucos privilegiados e individualistas, fazendo com que todos se interajam, de modo que o foco ético ocidental, que se encontra voltado para alguns poucos indivíduos, passe para o organismo social, onde todos possam ser beneficiados. Aí sim, teremos serviços prestados com excelência e empregados que sentem prazer e orgulho naquilo que faz. Se assim não for, a excelência continuará dando lugar ao faz de conta.
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Lu,
Sua análise é pertinente.
Infelizmente assistimos a uma das maiores concentrações de renda do mundo, no Brasil, exatamente por não existir a valorização do trabalhador. Sobre a Educação em Minas, é um exemplo implacável, e toda a informação veiculada pelo Governo é falsa. A situação tanto do trabalhador quando da própria Educação é ridícula. São muitas inovações pedagógicas, mas todas para beneficiar o próprio Governo.
Parabéns por nos propiciar esta reflexão.
Abraço,
Luiz Cruz
LuDias
É importante dar ao trabalhador, seja qual for seu ofício, o valor que tem. Nosso mundo, sustentado pelo capitalismo, é meritório. Só tem valor quem acumula méritos. E não é por aí que temos que buscar uma igualdade, ou melhor dizendo, uma homogeneidade, pois todos nós somos desiguais, mas quando trabalhamos estamos construindo o mundo, sustentando todos com a força extraordinária de nossos esforços.
Um dos aspectos mais importantes, e você o destacou, é a situação do professor no contexto de nosso país. Infelizmente, ele percebe salários pífios e que chegam até ser infames. Desanimadores. Na Finlândia, onde a educação é considerada como uma das melhores do mundo, ser professor é o triunfo do finlandês. Muito bem remunerado, eles, os professores, são a nata de toda sociedade, pois atraídos por bons salários, apresentam-se para este maravilhoso labor, construtor de um mundo muito melhor, aqueles que mais se destacam em todo o país. Na Finlândia, o povo quer a educação, ama a escola, venera o professor e lhe dá, em troca, não só um grande retribuição em dinheiro, mas, sobretudo, um status social maravilhoso, o respeito de toda a comunidade, inclusive de todos os alunos, sejam crianças, adolescentes ou adultos.
Hoje é um dia de reflexão. E é o que precisamos fazer para sair, v. gratia, da situação humilhante que nos encontramos na educação. Porém, deixo aqui um depoimento importante: o que é fundamental é ter um povo que quer estudar, que avalia que a educação é o seu caminho, que admira o professor, que preserva a escola, que procura respeitar aqueles que irão sedimentar todo o sustentáculo do progresso que a vida lhes pode proporcionar. Hoje, temos muitas escolas, muitos cursos, muitas condições que nunca tivemos, falta valorizarmos os professores e que o povo tenha a condição de fazer a escolha: quero a educação. Isto foi feito na década de 60 pelo povo finlandês. Daí a grandeza da educação naquele país.
Está na hora disto acontecer em nosso país, deixando os facebooks e twitters de lado, abandonando os funks da vida, buscando, acima de tudo, os caminhos que só a educação, a dedicação aos estudos pode nos oferecer.
Adorei seu texto.
Ed
Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão totalmente falido e destroçado, privilegiou a educação, dentre todas as coisas a serem feitas.
E o resultado é o que vemos hoje.
O mesmo faz a Coreia do Sul, cujos alunos estão entre os melhores do mundo.
No Brasil a educação não é vista como prioridade, principalmente pelos governadores, que preferem juntar verbas para investirem em suas campanhas.
É muito triste ver tal comportamento.
Em Minas Gerais ainda é pior, pois, segundo dizem, ex-governador, agora licenciado para se candidatar a senador, é professor universitário.
Dá para crer?
Obrigada por seu comentário sempre enriquecedor.
Abraços,
Lu