Autoria de Lu Dias Carvalho
A Vênus de Botticelli é tão bela, que não nos apercebemos do comprimento incomum do seu pescoço, ou o acentuado caimento dos seus ombros, e o modo singular como o braço esquerdo se articula ao tronco. Ou, melhor ainda, deveríamos dizer que essas liberdades que por Botticelli foram tomadas a respeito da natureza, a fim de conseguir um contorno gracioso das figuras, aumentam a beleza e a harmonia do conjunto na medida em que intensificam a impressão de um ser infinitamente delicado e terno, impelido para as nossas praias como uma dádiva do Céu. (E. H. Gombrich)
O Nascimento de Vênus (1484) é uma das mais famosas obras de Sandro Botticelli. Nela, segundo alguns críticos, o artista revela as mudanças de sua visão do mundo, de modo que Vênus representa a alma cristã a emergir das águas do batismo. Juntamente com sua obra A Primavera, a pintura em questão é um dos pontos altos da maturidade do pintor italiano.
A composição retrata a chegada de Vênus (Afrodite) — nascida da espuma do mar — à terra. Embora desnuda, a deusa não sugere erotismo algum, ao contrário, passa-nos uma extrema pureza. Ela se encontra dentro de uma enorme concha que é impelida para a praia pelo deus Zéfiro e pela ninfa Clóris. Na margem encontra-se a esperá-la uma das Horas, para colocar sobre ela um manto de púrpura bordado de flores.
Ao contrário de outros pintores que optaram pela representação mais sensual da deusa Vênus, Botticelli representou-a na pose conhecida como “Vênus Pudica”, imitando a pose de uma antiga e famosa estátua romana.
A figura delgada da deusa Vênus tem a mão direita cobrindo um dos seios, enquanto a esquerda cobre-lhe a virilha, usando as pontas de seus longos cabelos ruivos, gesto comum às pessoas pudentes. Ela desliza sobre o mar, de pé na parte mais pontuda da concha, numa atitude de confiança plena. Possui um olhar meigo e distante, imersa em seus pensamentos.
Muitas rosas são vistas sobretudo sobre Zéfiro e Clóris. A rosa — flor do amor — é a flor sagrada de Vênus e foi criada quando ela nasceu. Os espinhos das rosas são para nos lembrar de que o amor também pode ser doído.
Zéfiro, vento primaveril, é o filho da Aurora (amanhecer). Clóris, a ninfa, foi raptada pelo apaixonado Zéfiro. Ao se tornar sua noiva, ela se transformou em deusa e passou a se chamar Flora — aquela que é responsável pelas flores. Entrelaçados, os deuses alados impelem Vênus para a praia em meio a uma chuva de rosas.
A deusa Hora é uma das quatro Horas que simbolizam as estações do ano. Ela simboliza a primavera — estação do renascimento. Hora usa uma veste de fundo claro, salpicada de flores. Traz no pescoço uma guirlanda de murta.
A natureza encontra-se em festa, para receber tão sublime divindade. As folhas, flores e troncos das árvores parecem bordados com ouro. Mar e céu fundem-se num abraço de tons verdes e azuis.
Os personagens da obra possuem mãos e pés bem delineados e fortes, com dedos longos. Essa é uma característica das figuras pintadas por Botticelli. Todo o quadro é perfeitamente harmonioso, tendo Vênus como figura central. A deusa Hora parece flutuar em razão da graciosidade de seus movimentos. O mar, cujas ondas em forma de V apresentam-se mais calmas quando mais distantes, agita-se ligeiramente perto da praia com o sopro de Zéfiro.
O Nascimento de Vênus foi uma pintura revolucionária para o seu tempo, por ser a primeira obra de grande porte renascentista a tratar um tema laico e mitológico, abrindo mão dos temas sacros. Por isso, chega a ser surpreendente que o quadro tenha escapado da ira sagrada do monge beneditino Savonarola que consumiu outras tantas obras de Botticelli porque, segundo o extremista, teriam “influências pagãs”. O Nascimento de Vênus foi encomendado a Botticelli pelo rico mercador Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, responsável por patrocinar a viagem de Américo Vespúcio ao Novo Mundo.
Ficha técnica:
Data: 1483
Técnica: têmpera sobre tela
Dimensões: 172,5 x 278,5 cm
Localização: Galleria degli Uffizi, Florença, Itália
Fonte de Pesquisa:
Grandes Mestres/ Abril Coleções
1000 obras primas…/ Könemann
A Arte em Detalhes/ Robert Cumming
A História da Arte/ Sextante A História da Arte/ LTC
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Nossa, amei o site!
Resume muito bem sobre os pontos importantes a serem observados em cada obra, principalmente para mim, que sou leiga no assunto. Eu tive a oportunidade de visitar um museu na Itália alguns anos atras, pena que conheci este site só agora! Teria me ajudado muito na época. Bom, o negócio é programar a próxima viagem.
Obrigada,abraços.
Maria Fátima
Fiquei muito feliz com o seu comentário, pois mostrou-me que estou no caminho certo. O meu objetivo é realmente escrever numa linguagem simples, sem tecnicismos, de modo que qualquer pessoa, sem nenhuma formação em arte, possa entender. E você confirma que estou no caminho certo. Não sei se esteve na Capela Sistina, mas poderá ler a descrição das obras de seu teto e paredes, aqui no blog.
Lindinha, estou feliz ao tê-la como leitora. Obrigada pela sua visita e comentário. Venha sempre nos visitar, será um prazer contar com sua presença.
Abraços,
Lu
Obrigado!
Beijo e abraço 🙂
Gostei mui da arte, vocês são os donos?
🙂 :* 😀
Paplo
Foi um prazer receber a sua visita. Volte sempre.
Eu sou a dona.
Abraços,
Lu
Legal, amei esse trabalho sobre o Renascimento europeu.
Gabrielly
Sinto-me feliz ao saber que você gostou da visita que fez a este blog. Temos inúmeros assuntos sobre a pintura do Renascimento Europeu. Volte sempre, será um prazer recebê-la. Convide também seus amigos.
Beijos,
Lu
Gabrielly
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Abraços,
Lu