LINGUAGEM E PENSAMENTO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

jorna

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (Evangelho de São João)

A linguagem é sem dúvida o maior avanço da história da humanidade. Foi ela que impulsionou o homem a chegar até o domínio da mais alta tecnologia que abunda em nosso tempo. Sem ela, transitaríamos apenas no universo dos objetos e das sensações físicas, sem deles abstrairmos qualquer coisa de diferente, acorrentados à realidade existencial do palpável. O cérebro, encerrado no seu universo concretista, nada conceberia sobre qualidades. Possivelmente não haveria nem o bem e tampouco o mal, pois são frutos de valores morais e éticos que requerem premissas. Nossos olhos seriam meramente câmeras fotográficas do cotidiano material. Mas o Verbo ganhou luz para abrilhantar e aprimorar a mente humana. E assim tem sido através dos tempos.

A ciência ainda não conseguiu precisar quando se originou a linguagem, embora seja esta uma das questões mais buscadas pelo homem, levando em conta a importância que ela possui na existência do indivíduo, inserindo-o no mundo e fazendo com que nele possa interagir, influenciando e sendo influenciado. O verbo é a matéria-prima do pensamento, instrumento de trabalho de suma necessidade para a espécie humana, numa relação de causa e efeito. De modo que o produto final é assaz dependente da qualidade da ferramenta usada. Podemos ver isso através da história da humanidade. Não foram poucas as vezes em que as palavras mudaram radicalmente o curso da História de um povo, sendo muito mais eficazes do que as armas bélicas.

Cada palavra carrega sua história através do tempo. Algumas sofrem mudanças profundas, outras permanecem intactas, e outras tantas são tão complexas e inexplicáveis quanto a alma humana. Através da palavra escrita nós podemos nos mergulhar no longínquo passado e sorver a sabedoria de ilustres homens e mulheres que pela Terra passaram, pois ela se estende além da vida humana. Podemos, portanto, rever o passado, entrar no âmago do presente e nos prepararmos para o futuro.

As palavras são pontos de crochê que formam teias – a linguagem, e permeiam a vida. Alguns as tecem com habilidade, sabendo quão toscos e frágeis podem ser os pontos, se o tecelão não manejar a linha de seus pensamentos com o devido cuidado. Outros são aprisionados na própria estrutura de sua teia, por não terem cuidado ao manejar o tear. As palavras concebem vida, mas também a retiram. Por isso, o encadeamento tem que ser bem feito, quer na estrutura quer no conceito. Palavras e sentenças devem ser alicerçadas pela humildade, pelo bom senso e pela sabedoria. Se o predicado é tudo aquilo que se afirma sobre o sujeito, logo, as palavras quando ditas por nós, expressam o que somos, pois, segundo alguns, nós somos aquilo que pensamos, e, logicamente “o que falamos”.

A concatenação das palavras é o retrato fiel da mente humana, por mais que esta se orne de diferentes máscaras. A mente descortina toda a sua realidade ao exprimir suas emoções e ao expor sua razão através da linguagem. E, se às vezes não se mostra clara, basta apenas que se leia nas entrelinhas e lá estará a sua identidade pessoal, o seu espírito despido de astúcia e engodo. E a proposição torna-se irremediavelmente falsa, pois não resiste a uma análise mais apurada, pois linguagem e pensamento são como irmãos siameses. Continente e conteúdo. A linguagem é o instrumento que a mente usa para dar vida a seu conteúdo.

Nota: Imagem copiada de http://decom.cesnors.ufsm.br

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