Autoria de Lu Dias Carvalho
Eu estou no centro, a pintar, à direita estão todos os participantes, isto é, os meus amigos artistas boêmios. À esquerda está o outro lado da vida quotidiana, o povo, a miséria, a riqueza, a pobreza, os explorados e os exploradores, pessoas que vivem dos mortos” (Courbet)
Na composição O Ateliê do Artista, Gustave Courbet mantém o tamanho grandioso das pinturas históricas, mas, por outro lado, pinta o seu estúdio em Paris, tal e qual o vê, sem usar nenhum tipo de idealização. O quadro foi elaborado durante dez meses, para ser exposto na Exposição Universal em 1855, em Paris, mas foi rejeitado pela comissão responsável pela seleção das obras, apesar de ser considerado uma obra-prima do pintor. Aqui estão presentes 30 figuras, mostradas em tamanho natural, ganhando mais destaque a mulher nua, que chama para si o olhar do observador. A composição pode ser dividida em três grupos, levando em conta a posição do observador:
• os amigos (à direita)
• o artista pintando (central)
• as pessoas do “mundo comum” (à esquerda)
No centro da composição, cercado pela rotina diária, o pintor, tendo em mãos sua paleta de tintas e pincel, complementa sua enorme tela. Em torno dele encontra-se um grande número de pessoas das mais diferentes classes sociais. Não há um porquê definido de elas se encontrarem ali reunidas. Segundo o próprio pintor, as que se encontram do lado esquerdo representam “o mundo comum, onde se encontram as massas, a miséria, a pobreza, a riqueza, os explorados, os exploradores, aqueles que prosperam com a morte”, normalmente rejeitados pela arte. E à direita estão “meus amigos, colegas de trabalho, amantes da arte – aqueles que prosperaram com a vida”.
Vamos aos detalhes:
1. Na mesa situada à esquerda do pintor, sobre um jornal, está um crânio, lembrando a presença da morte.
2. No grupo em que se encontram os explorados é possível destacar a presença de um chinês, um judeu, um revolucionário, um operário, um irlandês, um padre, um comerciante de tecidos oferecendo sua mercadoria e um caçador com seus cães.
3. Aos pés do caçador está um chapéu com uma pluma, uma capa, um violão e uma adaga.
4. Atrás do cavalete de Courbet vê-se um boneco articulado, na pose de crucificação, usado pelos artistas tradicionais, simbolizando a arte acadêmica rejeitada pelo pintor. Ele se parece com um santo martirizado e está fora do campo de visão do artista.
5. Courbet pinta uma paisagem de sua terra natal, embora naquela época este tipo de pintura não fosse bem vista pelo academicismo.
6. Ao lado do pintor um garotinho ingênuo e pobre mostra-se extasiado diante da pintura.
7. Atrás de Courbet uma modelo despida representa a verdade nua que guia seu trabalho. Ela e a criança representam o verdadeiro ideal da arte.
8. À direita no grupo dos amigos o poeta Charles Baudelaire lê um livro, recostado a uma mesa de madeira.
9. O escritor Champfleury está assentado no meio do grupo de amigos do pintor.
10. Dois quadros são vistos ao fundo.
11. Na época causou escândalo junto aos puritanos da época a presença de uma criança junto a uma mulher nua.
O Ateliê do Artista não é somente uma das obras-primas do século XIX, mas um documento político, um testemunho da luta travada por Courbert e muitos de seus contemporâneos contra as ideias e as forças dominantes da época.
Ficha técnica:
Ano: 1855
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 361 x 598 cm
Localização: Musée d’Órsay, Paris, França
Fontes de pesquisa:
Arte em detalhes/ Publifolha
Grandes Pinturas/ Publifolha
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
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